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Na defesa da educação para “poucos e bons”, parceria com apartheid israelense

Posse do ministro Milton Ribeiro, em 17 de julhop de 2020 [Isac Nóbrega/ PR]
Posse do ministro Milton Ribeiro, em 17 de julhop de 2020 [Isac Nóbrega/ PR]

Neste mesmo mês em que o ministro da Educação do Brasil, reverendo Milton Ribeiro, defendeu uma universidade apenas para “poucos e bons” e destilou todo seu racismo na TV Brasil, ele se reuniu com o chefe do Departamento Político da Embaixada de Israel, David Atar. Assim, abriu as portas do Ministério para avançar ainda mais na cumplicidade com o apartheid. Coerente com sua busca por uma educação cada vez mais elitista e excludente no Brasil. Vale aqui uma das célebres frases do jornalista Aparício Torelli, o Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada.”

Em pauta no encontro entre Milton Ribeiro e David Atar, no último dia 13, conforme divulgado pelo twitter da página Israel no Brasil, “projetos de cooperação nas áreas de educação e inovação”. Na manhã de 18 de agosto, nova reunião no Ministério para apresentação pela embaixada sionista de iniciativas educacionais em “desenvolvimento sustentável, consciência ambiental e social, utilizando tecnologia inovadora de biodigestores”. Mais um negócio lucrativo a sustentar a ocupação e propaganda israelense para encobrir seus crimes contra a humanidade a que o governo Bolsonaro faz coro. Não fosse a aliança vergonhosa com o apartheid, acordo nesse sentido é totalmente desnecessário.

O Brasil já detém há mais de três décadas tecnologia de biodigestores – que acelera a decomposição de matéria orgânica e é apresentado como alternativa ao tratamento de resíduos, geração de biogás e fertilizantes. E várias escolas em cidades do País e áreas rurais já têm instalados biodigestores aos tratamentos de esgoto e resíduos, utilizados também como meios de elevar a consciência ambiental e social de seus estudantes. Portanto, nada de novo sob o sol.

Enquanto Milton Ribeiro propugna por limitar ainda mais o acesso à educação superior no Brasil, já para “poucos e bons”, ao mesmo tempo em que discute projetos sustentáveis, falta até papel higiênico em escolas públicas país afora. E os palestinos seguem a lutar pelo direito básico à educação em meio à ocupação e para não terem apagada sua história nos livros escolares.

As universidades sionistas

Em seu chamado por boicote acadêmico ao apartheid sionista, o movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções) revela que todas as universidades israelenses são partícipes diretas da colonização e limpeza étnica, seja ao confisco de terras palestinas, no desenvolvimento de tecnologias militares testadas nas cobaias palestinas e depois vendidas ao mundo, seja por produzirem conhecimento e difundirem ideologia a serviço da ocupação. O BDS também denuncia a discriminação sistemática sofrida pelos estudantes palestinos nessas instituições, aos quais é negada a liberdade acadêmica. São também submetidos a prisões políticas, proibição de ir e vir e ataques violentos. “A incitação racista contra a população palestina se converteu em um fenômeno generalizado. O discurso extremista antiárabe e islamofóbico dos acadêmicos israelenses, como o que advoga por dissuadir os combatentes palestinos estuprando suas irmãs e mães quase nunca desencadeia medidas disciplinares”, destaca ainda o BDS.

E acrescenta: “O ataque implacável e deliberado de Israel contra a educação palestina, que alguns têm denominado recentemente academicídio, remonta à Nakba de 1948, quando saqueou e destruiu dezenas de milhares de livros palestinos. Durante a primeira Intifada (1987-1993), Israel fechou todas as universidades palestinas (algumas durante vários anos), as 1.194 escolas primárias e, finalmente, os jardins de infância.” Como resistência, os palestinos passaram a construir “escolas clandestinas”.

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Volta às aulas

Nos territórios palestinos ocupados em 1967 (Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Orienta), 1,2 milhão de crianças e adolescentes enfrentam-se com o apartheid em meio à pandemia de Covid-19 na volta às aulas no último dia 15.

A coordenadora humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU) nos territórios ocupados, Lynn Hastings, destacou em comunicado os desafios do ensino a distância na situação emergencial – em que apenas 35% das casas palestinas têm computador – e da garantia de proteção aos alunos ante a colonização sionista, os quais são obrigados a ter aulas presenciais por conta da exclusão digital em meio à pandemia. Em 29 de julho, ainda de acordo com o informe, as forças de ocupação “confiscaram equipamentos, incluindo computadores e discos rígidos, dos escritórios da Defence for Children International – Palestina”.

Segundo Hastings, 79 crianças foram assassinadas pelas forças de ocupação e 1.269 feridas desde o começo de 2021. Além disso, 22 crianças foram feridas por colonos sionistas no mesmo período na Cisjordânia e somente no final de junho, 225 foram presas por Israel.

Nessa parte da Palestina ocupada, a rotina de checkpoints, humilhação, assédio e violência por parte da ocupação, estradas exclusivas para colonos que levam os estudantes palestinos a precisarem caminhar quilômetros para percorrer uma curta distância são a trágica realidade.

Na estreita faixa, ainda segundo o comunicado de Hastings, 180 mil crianças voltam às aulas depois de quatro meses em escolas com danos inclusive estruturais. Estas não puderam ser consertadas após os bombardeios sionistas em maio último que mataram mais de 250 pessoas, inclusive 67 crianças, por conta do bloqueio israelense criminoso há 14 anos que não permite sequer a entrada de materiais.

“Contra todas essas probabilidades, as crianças palestinas têm muito o que se orgulhar. Quase 97% das crianças em idade escolar frequentam o ensino básico na Palestina, uma das taxas mais altas da região do Oriente Médio e Norte da África, e os analfabetos foram reduzidos de 1,1% em 2007 para 0,8%. Em 2021, 71,3% dos estudantes da Palestina [do ensino médio] foram aprovados nos exames Tawjhi, o que abriu uma porta para a educação superior e bolsas acadêmicas”, conclui Hastings em seu comunicado.

Se há algo verdadeiramente sustentável – no sentido estrito da palavra – aqui é a resistência heroica e histórica, que se dá também no campo da educação, como se pode observar nos dados indicados pela coordenadora da ONU. Em uma situação limite, para os palestinos, estudar é resistir. Quando Israel fecha as escolas, outras “clandestinas” são abertas. Se barra os alunos em um checkpoint, a educação é transmitida em casa.

O que é, por outro lado, insustentável é a cumplicidade histórica do Brasil com o projeto colonial sionista, que avança em meio ao sionismo explícito na cadeira do Planalto. Urge repudiar e denunciar os projetos de cooperação agora no Ministério da Educação – voltado, como não esconde Milton Ribeiro, à exclusão do direito básico à educação, velha conhecida sobretudo dos mais pobres, entre os quais a maioria negros e indígenas. A apregoada “sustentabilidade” deles segue a produzir o subdesenvolvimento dos explorados e oprimidos. Levantar-se contra isso é o caminho..

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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