Multidão lincha e queima homem falsamente acusado de iniciar os incêndios na Argélia

No distrito de Tizi Ouzou, uma das regiões mais afetadas pelos incêndios florestais que assolam a Argélia, um homem foi espancado até a morte e queimado por uma multidão, após ter sido falsamente acusado de ter iniciado os incêndios.  O caso compartilhado nas redes sociais, causou indignação generalizada.

Segundo o Middle East Eye, Jamal Ben Ismail, de 35 anos, havia reunido doações e viajado de Milana para a cidade de Arbaa Nath Irathne, para ajudar a combater os incêndios e a evacuar as áreas em risco. Logo após chegar à cidade, um grupo de pessoas acusou Ismail de ter causado os incêndios e ele supostamente foi detido pela polícia para garantir a sua própria segurança.

Imagem da multidão retirando Ismail do carro da polícia [Reprodução]

O grupo então, puxou o homem de dentro do carro da polícia e começou a espancá-lo, enquanto filmavam. O vídeo foi compartilhado nas redes sociais e mostra dezenas de pessoas em fúria o espancando até a sua morte. Momentos depois, as pessoas atearam fogo no corpo e as imagens chocantes foram amplamente compartilhadas online.

Sua identidade foi divulgada posteriormente por amigos e familiares, que refutaram as acusações. “Meu filho é um herói e um mártir, e Miliana ganhou outro herói”, disse o pai de Ismail para o canal argelino El Bilad, pedindo que as autoridades devolvessem o corpo de seu filho, porque ele mesmo estava com medo de ir até Tizi Ouzou.

Jamal Ben Ismail, conhecido pelos amigos como Jimmy, era um pintor, cantor e amante da natureza, segundo seus amigos, ele viajou para ajudar as pessoas, inclusive reuniu doações para ajudar as famílias das vítimas.

“Eu vim ontem à noite em solidariedade com nosso povo, e esperamos que todo argelino livre também desempenhe esse papel”, disse Ismail em uma entrevista na TV, para o canal Awraas horas antes de sua morte.

Ativistas do mundo inteiro se indignaram com o crime brutal e exigem que todos os envolvidos, que aparecem claramente nas filmagens, sejam responsabilizados.

A Anistia Internacional pediu às autoridades que investigassem a morte de Ben Ismail, e a Liga Argelina de Defesa dos Direitos Humanos classificou o caso como “bárbaro e atroz”. “As cenas do linchamento do suposto incendiário – um jovem artista que tinha vindo para ajudar a apagar os incêndios – são chocantes”, disse o grupo argelino.

“Os rostos dos assassinos estão claramente expostos. Nós pedimos, Sr. Presidente Abdelmadjid Tebboune, que implemente a lei, que está acima de todos nós. Não esqueçamos dos policiais que abandonaram a vítima e não o protegeram”, escreveu uma argelina no Twitter.

O Ministério da Justiça da Argélia anunciou na quinta-feira que ordenou uma investigação sobre o caso.

Os incêndios do norte da Argélia já causaram a morte de 65 pessoas, incluindo 28 soldados.

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