Neopentecostais sionistas no Brasil da pandemia

Amilton Gomes de Paula, também conhecido como “reverendo” Amilton, depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal na terça, dia 03 de agosto de 2021. Além de situações inusitadas, como ser recebido pela alta hierarquia do Ministério da Saúde em plena pandemia, e ter um tratamento mais fácil do que grandes laboratórios produtores de vacinas, o “pregador” também é proprietário de empresas dentro e fora do país. Além disso, algo mais que corriqueiro dentre os “pastores” que apoiam incondicionalmente a entidade sionista que ocupa a Palestina desde o Mandato Britânico, o depoente se diz um “embaixador da paz”.

Amilton operou um esquema de ofertas de imunizantes produzidas pela AstraZeneca e da Johnson para governos estaduais e municipais através da entidade denominada Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários Senah. Como se fosse pouco, a pessoa jurídica tem laços muito intensos com o “Estado” de Israel.

Durante o depoimento, Amilton Gomes de Paula disse que esteve em missão de paz entre “judeus e muçulmanos” em plena embaixada brasileira em Tel Aviv, no mês de novembro de 2019. Não contente em transformar uma luta de libertação nacional, territorial e popular no falso argumento de “conflito religioso”, o “reverendo” esteve acompanhado de outras “autoridades religiosas” quando foi concedida a cidadania honorária de Brasília ao Sheikh Ibrahim Abu El-Hawa. El-Hawa é conhecido por seu trabalho de “diálogo inter-religioso” e surpreendentemente é muito elogiado pela direita sionista, como se verifica no artigo publicado em pleno Jerusalem Post.

Acompanhava o reverendo toda uma trupe de aliados sionistas, incluindo o embaixador do Brasil nos Territórios Ocupados de 1948: “Além dele, Exmo. Sr. Embaixador do Brasil, Paulo César Vasconcelos, o Pastor Pedro Laurindo, o promotor da iniciativa. Ainda presentes, a Bispa Sandra Santos, a Dra. Maria Nazaré Nunes, o Presbítero Dr. Elizeu Silva e a Missionária Dra. Sandra Silva. Ademais, compareceram à Cerimônia, o Rabino Eliyahu Mclean, Fundador e Diretor Mundial do Peacemaker” . Não bastasse ceder a representação diplomática de um país com mais de 16 milhões de árabes descendentes para fazer homenagem a quem atenua as críticas ao Apartheid, até hino do país cantado por oficial da FAB (dublê de missionário segundo a SENAH) ocorreu.

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Dois operadores-chave da cerimônia, alegada publicamente como elemento de legitimação por parte do “reverendo” Amilton estavam presentes. Um deles é Miguel Nicolaevsky, diretor do Cafetorah Notícias de Israel (cafetorah.com). Outro é o Pastor Pedro Laurindo, que atende pela alcunha de Laurindo Shalom, líder da Associação Internacional Cristã Amigos Brasil-Israel . Além do blog totalmente desatualizado, o “pastor” costuma pregar para o presidente Jair Bolsonaro, incluindo cerimônias públicas como esta de janeiro de 2020, quando em reunião do partido protofascista Aliança pelo Brasil (a legenda de Bolsonaro que não foi adiante), dividindo o “culto” com a pastora Rosa Maria .

Não se trata “apenas” de um conjunto de dados e fatos e sim a revelação estrutural de uma aliança. Esta é composta por um setor empresarial com alegações “religiosas” e seus aliados colonialistas, no Brasil, EUA, na Palestina Ocupada e em todo o Bilad al-Sham sofrendo ataques imperialistas permanentes.

Uma estrutura de poder neopentecostal e pró-sionista

Desde que foi iniciada a CPI do Senado, o Brasil vem acompanhando desmandos e relações informais, não republicanas, onde formas de intermediação e jogos de influência tentam incidir sobre compras de governo. Operar os negócios de Estado através de “esquemas”, gerando ou vendendo facilidades ou então criando ainda mais dificuldades caracterizam a “advocacia administrativa”, ou o uso do aparelho de Estado para fins evidentemente privados. É a disputa pelo botim, através de orçamento, alocação de recursos e contratos preferencialmente emergenciais.

O parágrafo acima poderia estar em qualquer texto clássico de ciência política. Falando de teoria, o que vemos no país sob (des)governo de Jair Bolsonaro é a presença de “novos entrantes”, como indicam ao menos os bons manuais de economia política. Cada vez mais internacionalizadas, as redes da nova direita, ou das “novas direitas”, mesclam um conservadorismo de costumes (imaginário), militares de alta patente desejosos de mais postos civis e, uma leva de operadores religiosos de corte pentecostal ou neopentecostal.

Ombro a ombro, ou melhor, “bolso a bolso”, “carteira com carteira”, auto-intitulados reverendos, pastores, bispos não ordenados e mais uma fauna de pregadores da Teologia da Prosperidade querem mais espaços nas estruturas de poder. Nesse item, falsos pastores e militares entreguistas se complementam. Ávidos por mais dotações orçamentárias ou espaços no orçamento alocados para atividades terceirizadas, milicos de gabinete desejam mais e mais indicações e projetinhos. Mudam os termos, denominando carguinhos e mamatas como se fossem “missões patrióticas”. Sobra milico em traje civil e falta defesa da soberania nacional e popular do território e dos povos do Brasil.

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Já a presença de intermediários de negócios em nome da manipulação da fé das camadas mais empobrecidas das Américas é mais profissional. Essas empresas não tributadas que se dedicam ao proselitismo de um sionismo generalista, as massas manipuladas tivessem sido “escolhidas”, operam com uma bancada com razoável homogeneidade.

Segundo o portal Congresso em Foco, com dados de 2020 (ainda nesta legislatura) a representação neopentecostal, atendendo pelo eufemismo de “evangélica” atinge uma a cada cinco mandatos nas duas casas. “A bancada evangélica no Congresso Nacional está cada vez mais numerosa e, com isso, busca mais poder e cargos relevantes. Em 1994, eram 21 deputados federais evangélicos, hoje já são 105 deputados e 15 senadores, o que equivale a 20% do Congresso”.

O mesmo portal afirma que nem todos os evangélicos no Legislativo pertencem à “bancada evangélica”. Para ser parte da bancada temática, é necessária a defesa da bandeira neoconservadora nos costumes restringindo a direitos reclamados por movimentos de mulheres, negros, indígenas e LGBTI+, entre outros. No plano internacional, convido a profissionais de pesquisa e estudos da nova direita que cruzem as preferências de neopentecostais com o apoio ao Apartheid nos Territórios Ocupados em 1948 e 1967. As evidências indicam que há essa sobreposição.

Amilton não é exceção e sim regra

Concluímos esse breve artigo afirmando a duas obviedades. Primeiro, é importante não confundir a fé de milhões no país, com a denúncia da manipulação deste sentimento de modo a dar sustentação para acumulação de riquezas não tributáveis, apoio a ameaças de golpe de Estado, mais que suspeitos contratos emergenciais ou convênios e outras tentativas de burlar a legalidade no Brasil. O mesmo se dá no plano das alianças e relações internacionais desta mesma indústria, já demonstradas por este analista no portal através de artigos sobre Honduras, Guatemala e o pacto neocon e telecon dentro dos EUA.

A segunda obviedade é que Amilton não é exceção, e tampouco a trupe de aliados que parece cerca-lo. Trata-se de um bloco de poder, se moldando ao sabor das oportunidades diante do momento mais crítico da sociedade brasileira desde 1º de abril de 1964. O protofascismo caracterizado por Bolsonaro pode e dever vir a ser um triste passado recente. Já o corpo de profissionais que tornaram o sionismo como parte de um sistema de crenças “popular” está longe de ser derrotado. Como milhões de brasileiras e brasileiros de origem árabe, somos uma parte desta luta para derrotarmos ambos inimigos da libertação da Palestina.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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