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Com meu avô descobri a arte e o sentimento de amor e orgulho pela Palestina

Entrevista com o artista plástico palestino-brasileiro Muhammad Baker
Muhammad Baker em seu atelier com a mandala da série Palestina [foto Lina Bakr]

Neto de palestino, o artista plástico Muhammad Baker cresceu em uma atmosfera de arte e histórias da Palestina, contadas por seu avô. Ele o inspirou, incentivou e ensinou os primeiros traços de desenho, que mais tarde o levariam para outras técnicas artísticas.

Baker é multiartista e tem em seu trabalho a marca da identidade palestina.  Suas obras costumam ter elementos tradicionais da cultura, como por exemplo as oliveiras e a chave – símbolo dos palestinos expulsos durante a Nakba, que guardam a chave de suas casas na esperança de retornarem.  Assim como tantos palestinos, Muhammad também carrega a esperança de um dia poder entrar na Palestina, encontrar seus familiares que lá vivem e conhecer a terra de seus ancestrais.

Impedido de entrar na Palestina pela ocupação israelense, Muhammad Baker, diz que nunca desistirá de conhecer a terra de seus ancestrais e almeja, com sua arte, denunciar a dura vida dos palestinos, bem como trazer à luz a beleza e o encanto desse povo que tanto admira e o inspira.

Quando se descobriu  artista?

Cresci em um ambiente de arte, minha mãe, Mariam Baker, pintava telas e camisetas para vender e pagar a faculdade dela, isso cuidando de três filhos pequenos. E eu achava o máximo os desenhos dela.

Minha mãe desde sempre me incentivou muito. Quando eu tinha sete anos, ela me matriculou em um curso de arte, pois havia percebido que eu tinha uma certa desenvoltura na hora de desenhar e era algo que eu gostava muito de fazer. Também tive um grande incentivador, uma enorme influência na minha vida artística, o meu avô materno, Abder Rahman, que me incentivou e me inspirou muito desde que eu era pequeno. Ele foi um excelente artista e uma referência de arte para mim. Meu avô gostava muito de pintar vasos, fazia pintura em tela, papel. Quando eu era criança, passava as tardes com ele na lojinha que ele tinha e lá, ele me ensinou a observar as cenas, as pessoas, com ele fiz meus primeiros traços, que me ensinou com muito carinho e dedicação.

Quais tipos de artes você desenvolve?

Trabalho com cerâmica, escultura, macramê, mandalas, pinturas em telas, pirografia em couro. Tenho várias frentes de trabalho e sou também restaurador de obras de arte, trabalho com restauração de tela, pintura de cavalete e também dou aulas de escultura, cerâmica, pintura, e de torno. Ultimamente, venho trabalhando também com plantas. Como estou fazendo suporte de macramê acabei entrando também um pouco nesse mundo  das flores, um universo muito gigante e muito interessante também.

Porque o tema Palestina em sua arte?

Sou descendente de palestinos, quando pequeno sempre ouvia falar das belezas da Palestina, mas também das injustiças que lá imperam há mais de 73 anos. Com meu avô descobri a arte e o sentimento de amor e orgulho pela Palestina. A maior parte de minha família mora lá. Então, sempre tive muito contato e com isso, além do amor e da admiração por esse povo, vem também o sofrimento em saber que pessoas que amo sofrem com a brutal ocupação israelense e tento trazer isso para minha arte, a denúncia, a repressão da ocupação sionista, bem como a beleza e força palestina.

Qual mensagem espera transmitir com sua arte relacionada à Palestina?

Busco transmitir  um pouco de esperança de que um dia todos os palestinos vão poder viver em paz, em sua terra. A esperança de um dia todos os palestinos poderem viver com dignidade, de poderem cuidar dos seus filhos, da família, poderem andar tranquilamente, sem checkpoints [posto de controle], sem soldados para humilhá-los ou prendê-los. Além da denúncia, busco com minha arte trazer a esperança de que um dia teremos paz. Uso bastante o desenho da chave em meus trabalhos, que significa que não esqueceremos e não vamos esquecer nunca de nosso lar, não importa a geração, não importa o tempo, voltaremos! A Palestina será livre.

Título: Existência e resistência palestina, pinturas com betume a base de água sobre painel, artista Muhammad Baker [ Foto arquivo pessoal]

Já esteve na Palestina?

A ocupação israelense não permitiu que eu realizasse meu sonho. Em 1998 tentei ir, passei na Jordânia para visitar alguns parentes e quando fui para Palestina, não me deixaram entrar, fui tratado como o pior ser humano do mundo, foi uma experiência horrível, me deprimiu muito ser negado de entrar na terra dos meus ancestrais. Soldados israelenses me trataram como criminoso, até hoje não entendo e não me conformo do porque fizeram aquilo comigo.

LEIA: Agonia e resistência de Lifta – Um patrimônio histórico e antropológico palestino ameaçado de destruição

Pretende voltar?

Sem dúvida, pretendo sim voltar e conseguir entrar na Palestina. Isso é algo que não morre, a vontade de voltar e a esperança do retorno. Se Deus quiser, um dia conhecerei as terras dos meus ancestrais, meus familiares. Ainda pisarei na Palestina, sentir o cheiro da terra, conhecer os lugares das histórias que meu avô me contava, esse é um dos sonhos da minha vida.

Presidente da Câmara Árabe-Brasileira, Osmar Chofi, com o secretário geral ,Tamer Mansour e o diretor Mohammad Mourad, presenteiam o embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben com a mandala Palestina de Muhammad Baker.

Onde podemos encontrar suas artes?

No meu ateliê, localizado dentro da maior floresta urbana do mundo, a Serra da Cantareira, em Mairiporã, há 40 km de SP. São todos bem-vindos e bem-vindas para tomar um café ou chá. É um ateliê bastante espaçoso, um espaço muito agradável para quem gosta de trabalhar com com artes, por conta dos sons da natureza, com um ar mais puro e onde também dou minhas aulas.

Nele me conecto diretamente com a natureza  e não tenho tanta interferência de fora, é um lugar propício para se criar arte e ministrar as oficinas.

Também podem se comunicar comigo pelo Facebook ou Instagram.

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Palestina: quatro mil anos de história
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