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A bandeira e a melancolia que acompanham o mito

Manifestantes no gramado do Planalto, na véspera da posse de Jair Bolsonaro [Lucas Martin / Jornalistas Livres]

Com meia dúzia de apoiadores entre a rua e uma padaria, a frente do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, em que o presidente Jair Bolsonaro está internado desde quarta-feira (14) em nada lembra os momentos de grande popularidade do candidato que se elegeu após uma campanha sem debates e marcada por uma facada, uma cirurgia e grandes manifestações e confrontos nas ruas em nome do “mito”.

O que continua presente onde quer que o presidente vá é a bandeira de Israel, que virou marca de seus comícios e dos atos antidemocráticos dos quais participou. Era habitual encontrá-la ao lado da bandeira dos Estados Unidos ou com o brasão da monarquia.

Bolsonaro venceu as eleições com apoio expressivo das igrejas evangélicas neopentecostais que alimentam relações religiosas e políticas com o Estado de Israel, considerado fruto de profecia bíblica. É o que explica a adoção de símbolos e até do Hino do Estado sionista por algumas igrejas dessa corrente no Brasil e o combate que fazem à esquerda, naturalmente críticas à ocupação e colonização da Palestina por Israel. Mas há um evidente recolhimento, ainda que temporário, dos apoiadores fiéis frente ao descrédito frequente de Bolsonaro, especialmente na gravidade da pandemia.

LEIA: O fator Lula no destino de Bolsonaro

A foto registrada nesta quinta-feira (15) pelo jornalista Leonardo Martins, do portal Uol, é quase melancólica pela falta de gente ao lado dos símbolos, e mais ainda pelo texto do jornalista que contabiliza as cinco mulheres e um homem formando o grupo apoiador sentado a uma mesa em uma padaria próxima, representados nessa vigília solitária pelas faixas colocadas em frente ao hospital. Uma traz a bandeira de Israel e a figura de Bolsonaro, duas imagens que já se misturaram no Brasil. A outra, menor e pendurada de lado, traz a palavra Brasil e partes da Bandeira Nacional. E uma terceira traz as inscrições pixadas de boa sorte ao paciente: Força capitão. É só mais uma luta.

 

A luta desta vez não está fácil. Todas as pesquisas de opinião mostram uma queda acelerada na popularidade do político, enquanto avançam para além de meio milhão as mortes que se seguiram ao atraso deliberado na compra de vacinas. O declínio pode não parar por aí, a considerar as revelações que a CPI vem fazendo sobre corrupção envolvendo negociações bilionárias de vacinas inexistentes por altos escalões do governo.

As fotos aéreas da longa bateria de veículos fazendo escolta e proteção ao presidente na chegada ao hospital não foram seguidas de imagens da presença popular, até porque as mortes por covid continuam gerando medo na população de aglomerar-se em portas de hospitais. A TV Globo explicou a doença do presidente com imagens gráficas animadas de um intestino obstruído e a pressão no diafragma exercida por volumes represados, causa dos recentes soluços do presidente.

O jornalista do Uol passou o dia monitorando o movimento que não foi além de alguns vidros de carro abertos para ocupantes soltarem xingamentos, gritando que o paciente ilustre é fascista e genocida.

Não faltou um defensor de Lula para confrontar  a vigília da padaria com um cartaz de Fora Bolsonaro e Lula 2022. Até uma palavra que já não se escutava tanto como nos tempos do impeachment de Dilma Rousseff foi ouvida em resposta ao manifestante solitário: “mortadela”,gritaram os bolsonaristas.

O post acima mostra charge da Laerte sobre a volta de uma delegação brasileira a Israel justificada pela intenção de negociar um spray nasal supostamente capaz de tratar pacientes de covid

O humor que vinha fazendo falta nas reações do público, marcadas pelo rancor e ódio, adesão às fakenews e críticas indignadas dos ofendidos, começa a abrir caminho na cobertura política. A uma notícia publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, de que o presidente acamado estaria evoluindo bem, um leitor respondeu: ‘O título está errado; é impossível Bolsonaro evoluir’

Melhoras, presidente! O Brasil ainda tem muito a dizer ao sr.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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