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Livro didático é rejeitado e retirado por fazer ‘propaganda’ de Israel

Uma onda de protestos em sala de aula estourou em maio de 2021 contra o preconceito pró-Israel entre os funcionários da escola. Um diretor chegou a descrever a bandeira palestina como um 'chamado às armas' e 'uma mensagem de apoio ao antissemitismo'

Uma comissão examinadora do Reino Unido decidiu recolher o livro didático sobre a história de Israel e da Palestina após sérias preocupações em assegurar o ensino equilibrado sobre a história da limpeza étnica de Israel e ocupação em curso da Palestina.

Livros de história, publicados pela editora Pearson, foram retirados das prateleiras pela primeira vez após uma discussão contínua sobre seu conteúdo, provocada pela Federação Sionista. A entidade alegou que os livros eram tendenciosos.

A alegação foi inicialmente refutada por Michael Davies, ex-professor de história e fundador da Parallel Histories (Histórias Palarelalas), uma organização que fornece material para que os alunos entendam os conflitos de diferentes lados. Davies concluiu que não havia “preconceito geral” no livro didático. No entanto, a pressão de grupos fortes de lobby pro-Israel continuou a aumentar. O Conselho de Deputados dos Judeus Britânicos e Advogados do Reino Unido por Israel insitiram que os livros eram “seriamente tendenciosos contra Israel”. Por isso, a Pearson removeu os livros da prateleira e os revisou antes de reeditá-los em 2020, com inúmeras alterações em seu conteúdo. Parece que em nenhum momento a Pearson procurou o conselho de historiadores proeminentes sobre o assunto.

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Os grupos de lobby de Israel alegaram, por exemplo, que a descrição do massacre de Deir Yassin em 1948 como “uma das piores atrocidades da guerra” estava incorreta, assim como haveria omissão do que eles afirmavam ser uma “melhoria maciça” nos padrões de vida dos palestinos na Cisjordânia e a Faixa de Gaza sob ocupação israelense.

Dia da Nakba 1948 – charge [Latuff / Monitor do Oriente Médio]

A versão original descrevia os colonos judeus como aqueles que vivem em assentamentos construídos na Cisjordânia ocupada e em Gaza. No entanto, a versão revisada ṕor pressão do lobby pró-Israel definiu os assentamentos, que são ilegais sob o direito internacional, como um caso de judeus retornando às aldeias de onde teriam sido expulsos em 1948, entre outras mudanças.

Em abril, a versão revisada foi criticada por acadêmicos importantes que denunciaram a “propaganda” de Israel. Detalhes das extensas alterações “tendenciosas” e “enganosas” foram expostos por um relatório dos professores John Chalcraft e James Dickins, especialistas em História Árabe e do Oriente Médio, respectivamente, e membros do Comitê Britânico para as Universidades da Palestina (BRICUP, na sigla em inglês)

O  relatório de oito páginas revelou mudanças “perigosamente enganosas” nos livros publicados pela Pearson, intitulados Conflito no Oriente Médio e Oriente Médio: Conflito, Crise e Mudança, ambos da autora Hilary Brash e lidos por centenas de milhares de alunos do GCSE anualmente. GCSEs são as qualificações acadêmicas estudadas por alunos do ensino médio no Reino Unido até a idade de 16 anos.

Descrevendo a escala das alterações, o relatório mostra que há mudanças em quase todas as páginas, muitas vezes várias mudanças. “No COM (primeiro livro, com 84 páginas de história) contamos 294 mudanças, no OMCCM (segundo livro, com 104 páginas de história) mais de 360”, diz o relatório. “Há, portanto, em média mais de três alterações por página, e a reescrita em algumas páginas é particularmente extensa. Foram feitas alterações no texto, cronogramas, mapas e fotografias, bem como nos exemplos de ensaios dos alunos e as perguntas que os alunos devem responder. ”

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Chalcraft denunciou as mudanças feitas sob o aconselhamento dos grupos pró-Israel como “absurdas”. Ele disse que é muito importante ensinar a matéria porque “ela está muito ligada ao presente e é vital educar as pessoas por meio de um material equilibrado”.

Na semana passada, a BBC causou indignação ao remover uma série de vídeos educacionais sobre a Palestina e as origens da ocupação israelense em curso e da limpeza étnica, após pressão do UKLFI. Esse grupo de lobby pró-Israel enviou uma carta de reclamação à emissora argumentando que os vídeos eram “desequilibrados e partidários”, e acusou a BBC de “encorajar a conduta ilegal nas escolas”.

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