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O arranjo do novo governo sionista e a resistência palestina

Mansour Abbas, líder da Lista Árabe Unida (Ra'am) em Jerusalém, 31 de Março de 2021 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]
Mansour Abbas, líder da Lista Árabe Unida (Ra'am) em Jerusalém, 31 de Março de 2021 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Segundo a mídia internacional, o chefe do partido de direita Yamina, Naftali Bennett, deve assumir o cargo de primeiro-ministro da entidade sionista, derrotando Benjamin Netanyahu, o premiê que desde 2009 se mantém à frente do governo israelense, sem interrupção do mandato. Contudo, o novo gabinete só será anunciado na próxima quarta-feira (9), quando o Knesset, parlamento israelense, fará a votação para aprovação do novo gabinete.

Apesar das previsões a respeito da escolha de Bennett, Netanyahu ainda busca uma última cartada, tentando provocar uma nova eleição, que poderia alterar a atual composição do Knesset para permanecer à frente do governo da ocupação. Manter-se no poder, significa para Netanyahu não ter que responder às acusações de suborno, fraude e abuso de confiança que poderiam, caso fosse condenado, levá-lo a cumprir até 10 anos de prisão.

Este arranjo para formação do novo governo que envolve uma coalizão de oito partidos foi anunciado nos últimos minutos do prazo pelo líder do bloco de oposição no Knesset, Yair Lapid. O esforço do bloco será unificar partidos da direita e centro-direita sionistas que supera o apoio de 61 deputados, para formação do governo que incluirá o Yamina e Yesh Atid, mas também o Azul e Branco, liderados por Benny Gantz; Yisrael Beytenu, dirigido por Avigdor Lieberman; Nova Esperança, dirigido por Gideon Saar; o Partido Trabalhista, liderado por Marav Michaeli; Meretz, dirigido por Nitzan Horowitz; e o Ra’am, ou Lista Árabe Unida, liderada por Mansur Abbas.

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Um fato que chamou a atenção, foi o anúncio de que os “árabes” estariam apoiando a nova composição política que governará a ocupação sionista. A Lista Árabe Unida (Ra’am) também conhecida como Movimento Islâmico, é um partido árabe religioso que elegeu quatro deputados nas últimas eleições e que fez parte da Lista Conjunta, uma coligação partidária “árabe” que incluía os partidos Balad, Hadash e Taal. Sua plataforma política concentra-se amplamente em questões socioeconômicas para os cidadãos palestinos, sem, no entanto, contestar a ocupação, as violações cotidianas de Israel contra palestinos, mesmo os que vivem nos territórios de 1948.

Apesar do que afirmam alguns analistas e até órgãos de mídia, a Lista Árabe e o seu líder Mansour Abbas, embora sejam considerados como uma organização islâmica na configuração política israelense, não mantém nenhum nível de relação direta com o Movimento de Resistência Islâmica – Hamas ou com a Jihad Islâmica Palestina. O Hamas rejeita fortemente a participação política no Knesset e não apoia qualquer iniciativa de composição de governo.

Em um comunicado de imprensa na noite da quarta-feira 2 de junho, o membro do Birô Político do Hamas, Izzat al-Rishq, declarou que o povo palestino não apoia nenhum governo sionista, e que alimenta esperanças apenas na “nossa valente resistência, para libertar todas as nossas terras palestinas ocupadas.”

A narrativa de que a Lista Árabe e seus integrantes são ligados ao Hamas, além da desonestidade intelectual, tem como objetivo confundir tanto a opinião pública israelense, quanto o movimento global de solidariedade pró-Palestina. Ao se associar a esse processo de formação de um novo governo de direita, a Lista Árabe age com o objetivo de ganhar benefícios para os seus integrantes e não para os árabes israelenses, que continuarão sendo tratados como cidadãos de segunda categoria pelos governos da ocupação sionista.

O Hamas não fez nenhuma declaração oficial ou se posicionou sobre a composição do novo Governo da entidade sionista. Simplesmente, porque a coalizão que está se formando para assumir o governo é composta por partidos da direita e centro-direita sionistas, incluindo o Ra’am. O pretenso novo premiê, Naftali Bennett, é tão ou mais radical de direita quanto Benjamin Netanyahu, no que se refere ao direito dos palestinos ao seu estado nacional soberano.

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O entendimento é que essa alternância no comando sionista não trará nenhum benefício para o povo palestino. É mais do mesmo. A resistência continuará com o dedo no gatilho, porque a qualquer momento, seja Bennett ou Netanyahu, a entidade sionista desencadeará novas agressões com o objetivo de expandir a ocupação e negar os direitos do povo palestino ao seu Estado e o retorno dos refugiados. Por isso, o Hamas e as demais forças da resistência palestina continuarão lutando pelos direitos do povo, pela preservação dos locais sagrados, pela libertação dos presos políticos e pelo fim da ocupação em todos os territórios palestinos.

Outro ponto coincidente entre Netanyahu e Bennett, que causa preocupação, refere-se ao posicionamento a respeito dos aliados externos da resistência palestina, entre eles o Hezbollah, o Irã e a Síria. Ambos são capazes de uma aventura contra o Irã, por exemplo, com o único objetivo de mobilizar os israelenses em torno dos seus objetivos de consagrar o projeto colonial e o apartheid na Palestina.

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Mesmo sem vislumbrar mudança na composição do governo sionista, gostaríamos de salientar algumas mudanças no cenário interno e externo em Israel e na Palestina ocupada que podem sinalizar alterações principalmente na imagem de “bom mocismo” e na narrativa surrada do “direito legítimo de defesa” que Israel vem sustentando nas sete décadas de ocupação do território palestino.

O evidente fracasso militar e da inteligência da entidade sionista na recente agressão militar contra Gaza, a crescente impopularidade de Israel em todo o mundo, o fato de o Tribunal Penal Internacional ter iniciado inquérito sobre os crimes de guerra e de lesa-humanidade praticados contra a Faixa de Gaza desde 2014, se somam a recente decisão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que aprovou a abertura de investigação sobre os abusos de Israel nos territórios palestinos ocupados, após os episódios criminosos de maio deste ano. Esses fatos demonstram que Israel dificilmente vencerá batalhas contra palestinos em qualquer terreno.

Estamos assistindo os esforços dos políticos sionistas de direita e centro-direita onde a incapacidade de firmarem um acordo para compor o governo de ocupação, evidenciam a inviabilidade histórica e civilizacional do estado judeu, essa aberração criada após a partilha ilegal e injusta da Palestina Histórica em 1947. Por outro lado, é notório o crescimento mundial do sentimento de que povo palestino tem o legítimo direito de existir e de resistir ao apartheid e a limpeza ética com todas as medidas e métodos possíveis, inclusive com os mísseis da resistência.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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