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Votação sobre acordos entre Brasil e Israel é adiada por pelo menos duas semanas

12 de maio de 2021, às 17h19

Presidente da CREDN na Câmara dos Deputados, Aécio Neves, durante reunião deliberativa, Brasília, 28 de abril de 2021 [Gustavo Sales/Câmara dos Deputados]

A votação prevista para esta quarta-feira (12) dos acordos de cooperação entre Brasil e Israel, assinados em 2019, foi adiada por pelo menos mais duas semanas na Comissão das Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados. O deputado Glauber Braga, do PSOL, solicitou a retirada dos itens da pauta do dia sob ameaça de obstrução total da reunião. O único deputado contrário ao adiamento foi Eduardo Bolsonaro, mas precisou ceder.

A comissão votaria os acordos de cooperação entre Brasil e Israel em Ciência e Tecnologia e em questões relacionadas à Defesa, ambos assinados em 31 de março de 2019 durante a visita do presidente Jair Bolsonaro à Jerusalém.

“Mataram dez crianças palestinas, votar estes itens na pauta de hoje é a demonstração da completa insensibilidade da Comissão de Relações Exteriores com o que está sofrendo o povo palestino neste momento”, disse o deputado Glauber Braga.

O presidente da reunião, deputado Aécio Neves, afirmou que concordaria com a retirada dos temas, caso não houvesse objeções dos outros parlamentares, em benefício do “avanço em outros temas menos polêmicos”.

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“Compreendo que, coincidentemente nesta semana, nós temos o agravamento da situação em países que estariam sob objeto de deliberação. O acordo que seria discutido nessa reunião envolve países que estão vivendo conflitos graves nesses últimos dias”, disse Aécio.

A deputada Perpétua Almeida afirmou que também solicitou a retirada dos itens da pauta em uma mensagem enviada na noite anterior. “Eu considero muito importante esses acordos internacionais, mas acho que a gente vive um momento muito delicado nas relações mundiais”, disse ela. “Eu penso que a gente poderia retirar, para que essa situação não atrapalhe nenhum acordo com nenhum país. Não só especificamente com Israel, mas debater esse assunto nesse momento nos obrigará a debater o que está acontecendo nesse momento em Tel Aviv e Faixa de Gaza”.

O deputado Arlindo Chinaglia propôs que até a votação dos acordos seja feita uma audiência pública ou um debate prévio na própria comissão, “para que cada um tenha mais e maiores elementos” na hora da votação.

Eduardo Bolsonaro foi o único contrário à proposta de retirada dos itens, afirmando que era manobra da oposição e que não havia garantias de que o tema retornaria à comissão depois sem novas obstruções. Ele alegou que neste momento Israel sofria com “uma chuva de mísseis por parte de terroristas” e que não podiam “jogar o jogo desses terroristas”. “O que eles mais querem é travar a relação de Israel com o resto do mundo”, disse, “não faz sentido postergarmos ainda mais por um mero preconceito”. E afirmou que isso seria “punir Israel duas vezes”.

Glauber Braga insistiu no adiamento da pauta, lembrando que dez crianças palestinas foram mortas e votar os itens na pauta de hoje seria “a demonstração da completa insensibilidade da Comissão de Relações Exteriores com o que está sofrendo o povo palestino neste momento”.

“É inconcebivel que a Comissão de Relações Exteriores, no momento em que Israel disfere um ataque brutal contra o povo palestino, mata dez crianças, venha a deliberar sobre um acordo que foi formulado pelo governo de Jair Bolsonaro, que se isola inclusive no cenário internacional, não tendo o apoio da maioria dos países do mundo, para tocar uma política fundamentalista até então de acordo com o governo de Donald Trump”, disse Braga.  “A comissão de relações exteriores tem a obrigação de se posicionar e colocar limites ao que é a representação dessa linha de orientação genocida. Não dá que o filho do presidente da república queira mandar na Comissão de Relações Exteriores”.

“Nós vamos continuar aceitando o apartheid imposto por Israel em relação ao povo palestino? Nós vamos naturalizar a morte de dez crianças, como aconteceu nos últimos dias nos ataques articulados por Netanyahu? Nós vamos aceitar que o filho do presidente da República, no seu delírio internacional, venha a pautar a linha de orientação da comissão de relações exteriores?”, afirmou o parlamentar.

Ontem, Eduardo Bolsonaro enviou um requerimento à CREDN solicitando que aprovassem uma moção de repúdio ao Hamas, chamado por ele de “terroristas”. No texto ele afirma que foi o Hamas que “estimulou” o “acirramento dos confrontos em Jerusalém Oriental”, quando colonos e forças policiais israelenses invadiram e atacaram religiosos na Mesquita de Al-Aqsa.

https://twitter.com/BolsonaroSP/status/1392268691757309954

“Insuflados por radicais palestinos, os eventos acabaram resultando em uma onda de violência que persiste na cidade e que levou o Hamas a aproveitar-se para retomar os ataques com mísseis contra cidades israelenses”, disse ele. Nas redes sociais, o filho de Netanyahu, Yair Netanyahu, agradeceu em português ao deputado pelo requerimento.

O texto, entretanto, foi entregue após o prazo máximo e não poderia ser discutido na reunião do dia.

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