Acordos até então preveem suspensão de parte das sanções, alega Irã

Seyyed Abbas Araghchi, vice-chanceler para assuntos políticos do Irã, após reunião sobre o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), ou acordo nuclear iraniano, em Viena, Áustria, 1° de maio de 2021 [Aşkın Kıyağan/Agência Anadolu]

Seyyed Abbas Araghchi, vice-chanceler iraniano e chefe da equipe de negociação sobre o acordo nuclear, afirmou neste sábado (1°) que Teerã espera a suspensão de sanções dos Estados Unidos contra atividades de petróleo, bancos e indivíduos com base nos acordos alcançados até então em Viena.

Enquanto isso, Washington minimiza o prospecto de avanço, segundo a Reuters.

A Rússia e as potências europeias envolvidas concederam relatos contrastantes sobre os próximos passos para retomar o pleno cumprimento do acordo nuclear pelo Irã e Estados Unidos, após a rodada de negociações ser adiada por seis dias.

“Sanções sobre o setor de energia do Irã, que inclui petróleo e gás natural, ou sobre a indústria automotiva, bancos e portos devem ser todas suspensas com base nos acordos alcançados até então”, declarou Araghchi, segundo a imprensa estatal iraniana.

O vice-chanceler não detalhou sob qual mecanismo as sanções serão suspensas, tampouco se Teerã cumprirá as demandas de Washington para reaver o tratado.

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“Manteremos as negociações até que se aproximem as posições de ambos os lados e nossas demandas sejam respeitadas”, declarou Araghchi. “Caso se cumpram, haverá acordo; caso não, naturalmente não haverá acordo algum”.

Questionado pela imprensa, o Departamento de Estado americano reforçou comentários prévios, incluindo uma declaração do assessor de segurança nacional Jake Sullivan, divulgada na sexta-feira (30), na qual descreveu as conversas como “indefinidas”.

“Vemos disposição de todos os lados, incluindo o Irã, para debater seriamente a suspensão de sanções e restrições e abrir caminho de volta ao acordo nuclear”, afirmou Sullivan em referência ao Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), assinado em 2015.

“Porém, é ainda incerto se isso culminará em um acordo em Viena”, reiterou.

Na quinta-feira (29), Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, enfatizou haver ainda um longo caminho adiante para solucionar o impasse, à medida que  os lados em questão “não estão à margem do progresso”.

O Presidente Joe Biden busca retomar o acordo abandonado por seu antecessor Donald Trump em 2018. Na ocasião, o líder republicano restituiu duras sanções contra Teerã, que respondeu ao romper diversas restrições impostas sobre suas atividades nucleares.

Negociações tiveram início no fim de abril em Viena, capital da Áustria.

As partes remanescentes do acordo — Irã, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha — reuniram-se no subsolo de um luxuoso hotel, com uma equipe dos Estados Unidos hospedada em um hotel do outro lado da rua.

Teerã recusou-se a realizar encontros diretos com Washington.

“Temos muito trabalho e pouco tempo. Diante da conjuntura, esperávamos maior progresso nesta semana”, declarou um comunicado dos chefes de diplomacia do grupo conhecido como E3 — França, Reino Unido e Alemanha.

Oficiais envolvidos na negociação reportaram expectativas de alcançar uma solução até 21 de maio, data na qual expira um acordo entre Teerã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sobre o monitoramento contínuo das atividades nucleares iranianas.

“Ainda temos de chegar a um consenso sobre os pontos mais críticos”, prosseguiu a declaração europeia. “O sucesso não está garantido, de modo algum, mas não é impossível”.

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Mikhail Ulyanov, embaixador russo para o órgão de fiscalização atômica da ONU, relatou a repórteres, após a terceira rodada de conversas entre as partes remanescentes do acordo, que não se deve esperar um progresso imediato nos próximos dias.

Segundo o representante de Moscou, as negociações serão retomadas na sexta-feira (7).

“Precisamos simplesmente continuar com o trabalho diplomático diário e temos todas as razões para esperar que o resultado, o resultado final, obtenha êxito e chegue em breve, em poucas semanas”, declarou Ulyanov, em tom de otimismo pouco usual ao assunto.

A interrupção do diálogo em Viena era esperada pois oficiais de diversos países também estão envolvidos na cúpula de Ministros de Relações Exteriores do chamado G7 (países industrializados) em Londres, que começa nesta segunda e termina na quarta-feira (5).

Concluiu Araghchi: “Há indivíduos e instituições especificamente sancionados e a lista dos Estados Unidos é extensa. As negociações ainda estão em curso”.

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