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Marrocos vai a evento sionista para pressionar Biden sobre Saara Ocidental

30 de abril de 2021, às 09h57

Ministro de Relações Exteriores do Marrocos Nasser Bourita durante coletiva de imprensa na sede da ONU em Genebra, 6 de dezembro de 2018 [Fabrice Coffrini/AFP/Getty Images]

O Ministro de Relações Exteriores do Marrocos Nasser Bourita pretende participar de uma conferência organizada pelo Comitê de Assuntos Públicos Israelo-Americano (AIPAC), proeminente grupo de lobby sionista, no próximo dia 6 de maio.

A medida é interpretada como tentativa de reforçar o apoio do lobby sionista após Presidente dos Estados Unidos Joe Biden adotar uma postura ambígua sobre o Saara Ocidental.

A rede pró-governo Le 360 reportou que o AIPAC confirmou a primeira participação oficial do Marrocos nas atividades do grupo. Bourita, segundo os relatos, será entrevistado online como parte do Programa de Primavera do Meio Atlântico, na próxima semana.

O Marrocos busca desenvolver relações com Israel e seu lobby internacional, após normalizar laços com a ocupação em dezembro último.

O acordo promovido pelo ex-presidente Donald Trump prometeu, em troca, o reconhecimento da soberania marroquina sobre o Saara Ocidental. No entanto, Joe Biden, sucessor do republicano na Casa Branca, parece não possuir a mesma opinião sobre a disputa.

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Na última semana, a embaixadora dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU Linda Thomas-Greenfield reivindicou a retomada de negociações entre Marrocos e a Frente Polisário — movimento que busca a independência saarauí.

A diplomata também exortou o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres a acelerar a indicação de um enviado especial ao Saara Ocidental; contudo, sem qualquer referência à suposta soberania marroquina sobre o território disputado.

Nesta conjuntura, o Marrocos e o lobby pró-Israel mantêm receios em comum sobre a posição de Washington, à medida que Biden protela uma posição clara sobre a questão.

O website americano Jewish Insider, especializado em análise política, argumentou que a existência de relações diplomáticas plenas entre Rabat e Tel Aviv depende apenas da intenção da Casa Branca de reavaliar ou não as medidas de Trump.

Caso Biden decida recuar da decisão, observou o website, o Marrocos possivelmente suspenderá os avanços de sua diplomacia com o estado sionista mais outra vez.

A questão continua ainda a incitar divisão no Senado dos Estados Unidos.

Ao justificar a retomada de relações com Israel a seus cidadãos, o Marrocos preferiu destacar a “vitória histórica” do reconhecimento de Trump concernente à disputa no Saara Ocidental.

Não obstante, Rabat resguarda agora duros receios sobre a ambiguidade da gestão democrata, dado que a equipe de Biden não revogou formalmente a decisão, apesar da declaração de sua representante no Conselho de Segurança, na última semana.

O Marrocos, porém, não emitiu nenhum comentário oficial sobre a posição dos Estados Unidos, embora fontes da imprensa e figuras pró-governo tenham expressado forte apreensão sobre a nova política externa de Washington para a região.