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Desde o Brasil, unidos contra o racismo

Integrantes de movimentos sociais de várias partes do mundo no museu da Maré participam do Julho Negro , 2017 [Foto arquivo Pessoal]
Integrantes de movimentos sociais de várias partes do mundo no museu da Maré participam do Julho Negro , 2017 [Foto arquivo Pessoal]

Começou no último domingo e vai até dia 21 de março a Semana contra o Apartheid Israelense de 2021. Como tem feito tradicionalmente, neste ano absolutamente trágico, o Brasil se soma a essa agenda, atendendo ao chamado do movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções). 

As atividades, virtuais em função da pandemia, tiveram início no País nesta quinta-feira, dia 18, e vão até o final de semana. A agenda traz desde a questão do apartheid sanitário em meio à pandemia de covid-19 à criminalização da juventude e lutas antirracistas. Além disso, a Semana contra o Apartheid Israelense também transmitirá o lançamento do livro “Expulsão dos palestinos – O conceito de ‘transferência’ no pensamento político sionista (1882-1948)”, do historiador palestino Nur Masalha, publicado pela primeira vez em português pela Editora Sundermann e Monitor do Oriente Médio. A programação pode ser acompanhada na página do BDS Brasil.

Realizada anualmente em fevereiro ou março desde 2005, neste ano a semana se encerra numa data simbólica: o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1966, em memória do massacre de Shaperville, na África do Sul. Em meio à luta contra o apartheid naquele país, iniciado em 1948, milhares de negros saíram às ruas do bairro de Shaperville, na cidade de Johannesburg, para protestar contra a “Lei do Passe”, que os obrigava a portarem um cartão que identificava onde podiam circular. A polícia abriu fogo contra a multidão desarmada, matando 69 pessoas e deixando 186 feridos, entre os quais crianças. O regime de apartheid foi derrotado somente em 1994, ao que a forte campanha de boicote internacional, ao lado da luta local, teve papel fundamental.

Chamada por palestinos, a campanha de BDS segue a se inspirar nesse movimento para pôr fim agora ao apartheid sionista, ao lado da resistência heroica. Como explicado em seu site, a semana “é uma ferramenta para promover a solidariedade internacional à luta palestina por justiça e direitos humanos”.

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A ação é importante para conscientizar o mundo sobre a realidade na Palestina sob ocupação e colonização há décadas – desde a Nakba (catástrofe) com a criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica planejada, que continua ainda hoje. E assim, fortalecer o apoio à campanha central de BDS.

Nessa direção, tem propiciado a conexão das lutas contra o racismo em outras partes do mundo. Isso porque explicita que os acordos sobretudo militares que governos firmam com o Estado sionista são responsáveis pelo derramamento de sangue nas periferias de seus países. As armas e tecnologias vendidas por Israel são testadas nas “cobaias” humanas palestinas e depois promovem o genocídio negro e pobre nesses locais.

Não ao racismo

A Semana contra o Apartheid Israelense, portanto, se converte em uma luta antirracista por excelência. Na sua essência, evidencia que a causa palestina segue sendo símbolo das lutas contra a opressão e exploração em todo o mundo. E que ninguém será livre até que todos o sejam.

Como observa o BDS em sua convocatória para a semana, “o racismo, a discriminação, a xenofobia e a desigualdade seguem crescendo em todo o mundo. Nos últimos meses, temos visto como as pessoas na Ásia, África e América Latina, as pessoas negras, os presos e presas políticos, sem teto, migrantes e refugiados, entre tantos outros grupos oprimidos, têm sofrido o flagelo da covid-19, que tem agravado ainda mais sua situação de vulnerabilidade”.

Ao mesmo tempo, continua o BDS, “temos testemunhado como milhões de pessoas têm saído às ruas para protestar contra o racismo sistêmico, a violência machista, a injustiça climática, as políticas de austeridade e a desigualdade econômica, entre outras opressões que nos asfixiam”. Diante disso, faz o apelo: “Agora, mais do que nunca, necessitamos que todas as vozes se unam, em todo o mundo, para acabar com o racismo, o colonialismo e o apartheid.”

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No Brasil, somar-se a essa resistência é, portanto, lutar para que não mais lágrimas de mães de vítimas da militarização da polícia – com armas também israelenses – sejam derramadas. É levantar a bandeira contra Bolsonaro, arauto do sionismo na cadeira do Planalto, genocida e negacionista que em meio à pandemia mandou comitiva a Israel para, entre outros pontos, firmar pacto contra a justiça e discutir a criminalização de ativistas que se levantam contra a ocupação, o apartheid e toda forma de opressão e exploração. É ainda a oportunidade de denunciar a barbárie e dizer basta. Não mais mortes, no Brasil e na Palestina. É reiterar a reivindicação de vacinas para todos, que vidas negras, indígenas, palestinas importam.

Ao erguer a bandeira pela Palestina livre, o BDS sintetiza todas essas justas demandas e lutas. Em 2021 a Semana contra o Apartheid Israelense é oportunidade de ouvir essas vozes, que vêm de dezenas de cidades e países, em uníssono. É fazer coro ao lema “Unidos contra o racismo”.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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