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Absolvição total ou nova condenação aguardam o maior líder moderno do Brasil, que pode ser presidente em 2022

Luiz Inácio Lula da Silva -[José Cruz/Agência Brasil]
Luiz Inácio Lula da Silva -[José Cruz/Agência Brasil]

Apontando incompetência da Justiça Federal do Paraná para decidir o caso do ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o juiz do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, afirmou que o tribunal de Curitiba, que o condenou, não tinha autoridade para julgá-lo. E todas as sentenças foram anuladas, com os casos abertos contra Lula encaminhados a outra instância, que sorteará novo juiz para avaliar os processos. Lula poderá ser absolvido totalmente ou ver nova condenação barrando seu caminho para as próximas eleições presidenciais.

A justiça favoreceu desta vez o ex-presidente brasileiro Lula, que foi o presidente que mais movimentou a economia brasileira, em seu mandato de 2003 a 2011. Com ele, o Brasil alcançou a sexta economia mais forte do mundo e hoje está em décimo segundo lugar. Lula é conhecido por incluir os mais pobres na economia, com políticas sociais, e por ter  grande popularidade, carisma e forte presença na comunidade nacional brasileira e internacional.

A vitória do líder esquerdista, ainda que tardia, é real. Por outro lado, as forças do imperialismo e do capitalismo, lideradas pelos Estados Unidos da América, têm feito progressos a favor da extrema direita brasileira, apoiada pela politização das igrejas evangélicas, mobilizadas a partir de fora contra o ex-presidente, o Partido dos Trabalhadores e a esquerda de modo geral.  Suas campanhas  e a cruzada jurídica travada pelo ex-juiz Sergio Moro, que impediram Lula de concorrer em 2018,  levaram à vitória do atual presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

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Não podemos deixar de olhar para a jogada que ocorreu sob a liderança do Juiz Sérgio Moro, que após contribuir para o impedimento eleitoral de Lula, demitiu-se da função de juiz e tornou-se ministro da Justiça do novo presidente.

Os vazamentos divulgados pelo site “The Intercept”, tornando públicos diálogos tendenciosos do juiz Sergio Moro, instruindo os procuradores responsáveis pela acusação,  confirmam a teoria da conspiração em que participaram as instituições de segurança e judiciárias e a urgência do Procurador-Geral da República, Dalagnol, em agilizar o processo contra Lula.

Este não foi o primeiro julgamento nem a primeira prisão de Lula. Em 1981, como sindicalista, ele foi condenado a três anos pelo regime ditatorial, por incitação popular contra o regime, sendo depois absolvido e libertado. No julgamento mais recente, acusado de corrupção, foi condenado a 12 anos e passou 580 dias na prisão.

A mão dos Estados Unidos

O ex-presidente brasileiro incomoda os Estados Unidos  pela atuação no contexto político internacional. Ele foi um jogador forte nos acordos sobre o programa nuclear do Irã e no enfrentamento dos problemas de aquecimento global, além de ter uma presença global em questões delicadas.  Apoiou os palestinos na luta pelo estabelecimento de seu estado nas fronteiras de 1967.

Político mais famoso do Brasil da era moderna, ele pessoalmente deu contribuições claras ao crescimento da esquerda na América Latina e na reorientação de sua bússola. E também à entrada do Brasil como grande competidor na economia internacional.

Os Estados Unidos da América nunca foram amigos dos latinos e tenta dominar alguns países como a Nicarágua e a Venezuela, mantendo seu bloqueio contínuo a Cuba durante décadas, sendo responsável pelo sufocamento da economia do país e sua pobreza.

O patrocinador oficial do estado de ocupação e apartheid sionista, também se doi pelos interesses de Israel. Não vamos esquecer de como o embaixador sionista no estado de ocupação, Danny Dayan, foi rejeitado pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores e apoiada por Lula,  em 2015, por ele ser o chefe do Conselho de Assentamentos judeus na Cisjordânia e viver em terras ilegais, pois suas propriedades pertencem aos seus donos originais e eles são os palestinos! Dilma sofreu processo de impeachment em 2016, após intensa campanha midiática, evangélica, jurídica e parlamentar pela interrupção de seu governo, para o qual fora reeleita com 54 milhões de votos. Como em outros países da América Latina, o resultado eleitoral foi contestado pela direita derrotada, dando início aos chamados golpes brancos que afastaram governantes no Paraguai, Honduras, Brasil e Bolivia, por exemplo, e foram armados sem sucesso contra a Venezuela.

Os EUA estão presentes nesses processos, que manipulam e subvertem os interesses da opinião pública. Ao perder seus direitos políticos e candidatura às eleições de 2018 , as pesquisas de opinião apontavam Lula em primeiro lugar na preferência do eleitorado brasileiro.

Não vamos esquecer de como foi a posição da administração dos Estados Unidos sobre o golpe contra o legítimo presidente eleito, Mohamed Morsi, a pretexto de respeitar a opinião da rua! E como eles lidaram com o presidente turco atualmente eleito, Recep Tayyip Erdogan, quando contrariados em seus interesses. Do mesmo modo, com a diferença geográfica, isolaram Dilma Rousseff e impediram que Lula  corresse.

Ele foi preso, e o que era esperado aconteceu, o Brasil hoje não está nas melhores condições, e segue entregando seu patrimônio. A queda acentuada da moeda local, a situação epidêmica que aumenta a cada dia, o aumento do desemprego, as empresas nacionais mais importantes desmontadas, descoladas ou vendidas, tudo isso se junta ao narcisismo político em detrimento da saúde e sobrevivência da população, de qualquer expectativa de desenvolvimento e da prosperidade.

O contexto brasileiro faz prestar atenção a voz alta de Lula chamando por mudanças depois que o presidente em exercício, Jair Bolsonaro, levou o país à beira do precipício.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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