O braço do sionismo mundial no Brasil

O Templo de Salomão no brasil [wikimedia]

Em sua 38ª. edição, o Congresso Sionista Mundial, realizado em outubro último virtualmente em função da pandemia de covid-19, contou com 525 delegados eleitos – 200 deles de Israel, 152 dos Estados Unidos e 173 do restante do mundo. Entre os últimos, o Brasil teve direito a oito cadeiras, segundo divulgado em sites de entidades sionistas no País.

Instância máxima de decisão da Organização Sionista Mundial (OSM), o congresso ocorre a cada cinco anos. Em sua primeira edição, no ano de 1897, definiu que a Palestina seria o local para a colonização que culminaria na constituição do “Estado judeu” – intento do sionismo político moderno, inaugurado um ano antes pelo jornalista austro-húngaro Theodor Herzl.

No congresso são definidas desde então as políticas e distribuição do orçamento bilionário da Agência Judaica, do Fundo Nacional Judeu (FNJ) e da própria OSM, bem como eleitos representantes para postos de liderança nessas instituições – decisivas para a contínua Nakba (catástrofe com a criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica planejada). O Brasil participa do congresso desde 1921, conforme artigo do doutor em História Carlos Eduardo Bartel.

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Apoio à colonização e propaganda

Organizações sionistas começaram a se instalar no País oito anos antes. A primeira delas – Tiferet Sion (A beleza de sion) – foi criada, também de acordo com o texto de Bartel, no Rio de Janeiro, dedicando-se inicialmente a coletar recursos financeiros para o Fundo Nacional Judeu.

Fundado em 1901, o FNJ foi, como explica o historiador israelense Ilan Pappé em “A limpeza étnica da Palestina” (Editora Sundermann), “a ferramenta primordial da colonização da Palestina”. As terras das quais os palestinos foram expulsos à Nakba ficaram sob sua “custódia”. Nas palavras de Pappé, seu Departamento de Assentamento “decidiu o destino dos vilarejos destruídos, já arrasados: se seu lugar seria tomado por um assentamento judaico ou um bosque sionista”.

Responsável por mudar a paisagem nativa à Nakba e assim destruir milhares de árvores milenares, ainda hoje segue com essa tarefa, sob a falsa propaganda de preocupação com o meio ambiente e o mito fundante do Estado racista de Israel de que este fez “florescer o deserto”. As denúncias sobre a catástrofe ambiental resultante da colonização sionista em curso desmontam essas mentiras. E é isso que não só a Tiferet Sion como outras organizações sionistas no Brasil que surgiram depois seguiram a financiar.

Bartel revela ainda que, ao longo de sua trajetória, essas entidades buscaram influenciar o poder público em favor do projeto colonial. Em 1917, como descreve, “os líderes sionistas conseguiram também que o Congresso Nacional do Brasil aprovasse uma moção de apoio e simpatia à Declaração Balfour”. Nesta, a Grã-Bretanha, que ficou com o mandato sobre a Palestina após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), afirma ser favorável à constituição de um lar nacional judeu na Palestina. Em outras palavras, o imperialismo do momento dava sinal verde à colonização.

As organizações sionistas que surgiram na sequência, relata ainda o autor, cuidaram de publicar jornais e periódicos, bem como abrir escolas para a comunidade judaica no País que serviram de instrumento para disseminar a ideologia do projeto colonial. Entre elas, em 1922, foi criada a Federação Sionista do Brasil.

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Ao longo de sua história, segundo escreve Bartel, essas organizações realizaram uma série de atos públicos e eventos em diversas cidades do País para propagandear as ideias sionistas e angariar apoio a elas. Essas iniciativas contavam com “a participação de judeus e não judeus” de prestígio. “A atuação e aproximação dos dirigentes sionistas junto aos órgãos governamentais e a relação com políticos e intelectuais igualmente davam credibilidade ao movimento”, enfatiza o autor.

Esse trabalho segue a todo vapor. “No Brasil, o lobby sionista se faz presente principalmente por meio de organizações financiadas pelo governo israelense ou por indivíduos e grupos sionistas que participam do debate público na sociedade brasileira, principalmente entre a comunidade judaica. Destacam-se a Confederação Israelita do Brasil (Conib), a Federação Israelita de São Paulo (Fisesp) e a Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj)”, escreveram Bruno Hubermann e Arturo Hartmann ao blog Arabizando em 2017, ao denunciarem o apoio dessas entidades a viagens para Israel de parlamentares e outras personalidades brasileiras.

Assim, têm papel central em fortalecer relações políticas e econômicas com o apartheid, bem como no esforço de falsa propaganda sobre Israel para encobrir seus crimes contra a humanidade. É a pretensão, por exemplo, ao convidarem nos últimos anos artistas e intelectuais para a realização de shows e palestras no Estado sionista.

Para tanto, primam por atacar o movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções) a Israel, utilizando o falso argumento de que seria antissemita – o qual não sobrevive a mínima análise da realidade. Um argumento que serve como instrumento fundamental da propaganda sionista, para silenciar a crítica legítima ao Estado racista de Israel. E, nesse sentido, a demanda por justiça aos palestinos, o que abrange o retorno dos milhões de refugiados às suas terras.

Organizações que se apresentam como esquerda sionista – como o partido Meretz Brasil e o Instituto Brasil-Israel, este último fundado em 2016 – também têm se empenhado nessa direção, demonstrando o que historiadores inclusive israelenses como Pappé e Avi Shlaim comprovam: sua única diferença em relação à direita do movimento é que este não dissimula seu objetivo de seguir com a limpeza étnica, expansão colonial agressiva e apartheid.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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