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Ajuda humanitária e compromisso dos dois estados lançam outra rodada de subjugação palestina

Um menino carrega um saco enquanto trabalhadores da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA) distribuem ajuda humanitária em Jabalia, Gaza, em 17 de dezembro de 2020 [Ali Jadallah / Agência Anadolu]
Um menino carrega um saco enquanto trabalhadores da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA) distribuem ajuda humanitária em Jabalia, Gaza, em 17 de dezembro de 2020 [Ali Jadallah / Agência Anadolu]

Em uma aparente tentativa de trazer os Estados Unidos de volta aos trilhos em relação à diplomacia internacional, o representante do Comitê de Relações Exteriores dos EUA, Gregory Meeks, disse que as políticas de ajuda humanitária para os palestinos podem ser retomadas a fim de priorizar a política dos dois Estados. Claramente defendendo o compromisso de dois estados que, supostamente, daria “autodeterminação a ambas as partes”, Meeks afirmou: “Nós talvez precisemos reiniciar a ajuda dos EUA ao povo palestino, demonstrando que os Estados Unidos estão prontos para liderar novamente. ”

A ajuda humanitária, portanto, não é oferecida aos palestinos por bondade dos doadores, mas sim como uma arma motivada a afirmar o poder.

Já que o presidente eleito Joe Biden não condicionará o auxílio financeiro a Israel, a politização da ajuda humanitária aos palestinos visa claramente manter o ciclo de violações dos direitos humanos cometidos por Israel. O povo palestino obterá um alívio temporário e a Autoridade Palestina, sem dúvida, será parabenizada por aderir ao compromisso de dois Estados em troca da ajuda. Com Donald Trump fora da Casa Branca, a AP não terá mais um alvo óbvio para criticar e nem precisará recorrer a uma retórica revolucionária na qual claramente não acredita.

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Se Trump expôs a hipocrisia da diplomacia americana em relação à Palestina, o retorno ao compromisso dos dois Estados revelará a falta de estratégia da AP; a menos que se considere a colaboração contra o povo palestino de Israel com a comunidade internacional  uma política estratégica.

A agência de notícias Wafa forneceu o contexto da AP, que se omite em mencionar que “Trump forneceu apoio inabalável à ocupação israelense”, daí a decisão da AP de romper as relações com os EUA. No entanto, não esclareceu por que o líder da AP, Mahmoud Abbas, estava tão ansioso para retomar a coordenação de segurança com Israel quando Biden foi declarado o vencedor das eleições presidenciais dos EUA. A mídia também não explicou por que a liderança não expressou qualquer desacordo com a recusa de Biden em reverter a série de concessões de Trump a Israel.

Decisão dos EUA de cortar o financiamento da UNRWA - Cartum [Sabaaneh / MiddleEastMonitor]

Decisão dos EUA de cortar o financiamento da UNRWA – Cartum [Sabaaneh / Monitor do Oriente Médio]

Para a AP, a Palestina é sinônimo do paradigma de dois Estados. Se nada interferir nesse script, Ramallah não tem com o que se preocupar. Com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) também inscrita no compromisso de dois Estados por meio de seus doadores, a comunidade internacional e a AP deixaram claro que os únicos atores relevantes quando se trata da Palestina são aqueles que estão do lado de fora.

A ajuda humanitária e o compromisso de dois Estados alimentaram-se mutuamente por décadas, então, por que não continuar a farsa da independência palestina e, ao mesmo tempo, garantir que os palestinos sejam privados de autonomia através da dependência forçada da assistência financeira estrangeira para as necessidades básicas? Essa, resumidamente, é a política da AP; em troca, isso concede à liderança uma plataforma obscura e quase irrelevante na arena internacional que fornece o apoio suficiente para coagir os civis à ilusão da construção do Estado, financiado, mais uma vez, pela ajuda humanitária.

Trazer os EUA a bordo mais uma vez com o compromisso de dois estados, como Meeks sugeriu, deveria ser tanto um sinal de alerta para a Autoridade Palestina quanto o “acordo do século” de Trump. No entanto, a Autoridade Palestina está tão eufórica com a mudança do presidente americano, que provavelmente dará luz verde para que Biden pisoteie ainda mais os palestinos em troca de ajuda humanitária, mesmo que isso signifique um próximo presidente defensor da política de dois Estados no ritmo colonizador deixado como legado por Trump.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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