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Saleh e os corruptos, a história não acabou, a história começou agora!

Adolescente jordaniano tem as mãos amputadas e olhos vazados por um ataque de gangue, na cidade de Zarqa, Jordânia [Twitter]
Adolescente jordaniano tem as mãos amputadas e olhos vazados por um ataque de gangue, na cidade de Zarqa, Jordânia [Twitter]

O mundo acordou na semana passada com a notícia do crime hediondo cometido contra Saleh, o menino que teve as mãos decepadas e os olhos perfurados. Saleh, natural da cidade de Zarqa, na Jordânia, adolescente de 16 anos, é considerado menor (criança), em todas as legislações.

Este crime abalou a consciência do mundo árabe e jordaniano em particular, e muitos exigiram medidas decisivas contra os perpetradores deste crime hediondo.

Estima-se que 16 criminosos tiveram participação neste crime. Dez deles foram presos por enquanto.

O crime ocorrido na cidade de Zarqa, ao nordeste da capital, Amã, é sem dúvida algo chocante para a sociedade jordaniana, que é considerada uma sociedade conservadora. Certamente a Jordânia não é a Síria de Bashar al-Assad, que cortou o pênis do jovem Hamza al-Khatib e massacrou seu corpo, que na época tinha 13 anos. A Jordânia ainda preserva a magnanimidade e o orgulho árabe original, pelo qual é conhecida.

No entanto, nos últimos tempos, testemunhamos uma violação de costumes e tradições árabes, como por exemplo, a prisão de professoras e espancamento na grande greve que abalou a Jordânia em outubro de 2019, além de suborno político e compra de votos nas eleições parlamentares e o processo de destruição sistemática da família, sociedade, clã e educação.

A Jordânia mudou, certamente. Os políticos mudaram, as leis mudaram, até mesmo as pessoas mudaram. Os xeques e prefeitos, e até mesmo a empatia humana, mudaram. Infelizmente, tudo mudou e, infelizmente, não para melhor.

O sistema reinante nos dias de hoje é um sistema desgastado e corrupto por todos os padrões. Sua maior lealdade é devotada ao colonialismo e seus remanescentes e a implementação do malfadado Acordo de Sais-Picot. E quem quer desse sistema, que fosse sincero e honesto, e eventualmente fosse eleito, ficaria em seu cargo apenas por algumas semanas ou alguns dias.

A mão de Saleh, sem sombra de dúvida, foi cortada e seus olhos vazados, e não pertencem mais a ele. Mas o Estado pode decepar a mão da corrupção, que fez com que as mãos do jovem Saleh fossem cortadas.

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O Estado sozinho, sem a menor dúvida, é quem deve restaurar o prestígio do país e impor o estado de direito, enfrentando a bandidagem organizada, seja no nível criminal ou no nível político, e todos o apoiariam em suas medidas para erradicar a corrupção e os criminosos corruptos.

Saleh não foi o primeiro e não será o último, mas lembrou alguns outros casos, como a história do menino Hamza al-Khatib e do menino Alan Al-Kurdi, mas a injustiça em nossa região está progredindo em todos os tipos e formas, e não há impedimento para isso até o momento.

Corrupção, alto endividamento, desemprego, opressão, leis criminais cibernéticas, alocação de instituições estatais e pilhagem de recursos certamente não são menos criminosos do que tirar  os olhos de Saleh e cortar suas mãos.

Não esqueceremos que, em meio à Primavera Árabe e às marchas que pediam reformas constitucionais e econômicas em vários países árabes, liderados pela Jordânia, vimos como os manifestantes pacíficos, que exigiam reformas, foram atacados, presos e falsas acusações foram feitas contra eles. Ademais, isso foi e ainda é o que facilitou o caminho para os criminosos cometerem esse crime com Saleh!

Ultimamente, manifestações têm ocorrido nas ruas exigindo que as autoridades de segurança do país imponham ordem e respeito à Constituição, punindo os corruptos e aqueles que têm antecedentes criminais. O Rei do país, Abdullah II bin Al Hussein, interveio e afirmou a necessidade de perseguir os criminosos e impor a presença do Estado, que se representa no respeito ao ser humano e lhe dá segurança e proteção absoluta.

“Jovens bandidos geralmente são versões dos velhos bandidos ”… e as pequenas gangues são inspiradas pela imoralidade das grandes, que roubaram nossos estados e implantaram a corrupção … as duas partes espalharam injustiça e destruíram o que é metaforicamente chamado de “estado de direito e instituições” na comunidade árabe! Ressaltando que a cópia é, geralmente, mais perigosa que a versão original.

E todos, neste cenário, são vítimas… o perpetrador é uma vítima… e a vítima é uma vítima… O perpetrador é uma vítima da marginalização, da perturbação e de um ambiente familiar desarticulado… E a vítima é uma vítima de falta de proteção, de justiça e do sentimento de um Estado forte, que o protege, se gritar ou reclamar.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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