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O desafio eleitoral de voltar a andar para frente

Entrevista com o curitibano Paulo Opuszka
Paulo Opuszka [Foto arquivo pessoal]
Paulo Opuszka [Foto arquivo pessoal]

Enfrentar uma eleição em tempos de pandemia não tem precedentes na vida dos atuais candidatos. Além de propor soluções para saída de uma crise inimaginável há um ano, o candidato terá de ser capaz de enfrentar as limitações impostas pelo coronavírus para que suas ideias cheguem até o eleitorado.

Candidato à Prefeitura de Curitiba pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o professor de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ex-superintendente do Instituto Municipal de Administração Pública, Paulo Opuszka, acrescenta a esse desafio a preocupação com a política nacional hoje e seus reflexos internacionais.

É sobre o momento difícil do processo eleitoral brasileiro que o Monitor do Oriente Médio ouviu o candidato curitibano nesta entrevista.

Como é fazer campanha em tempo de pandemia?

Talvez seja um dos desafios mais difíceis para quem é do campo democrático, pois é indicado por pesquisas que no período de receio do coronavírus quem está no poder tem mais chances de se perpetuar. As pessoas estão com medo de sair de casa. Se for dito que é melhor estender o mandato da prefeitura, muitas concordam. Precisamos mostrar que a pandemia não pode ser um limitador para o exercício da democracia. Nós, democratas, temos que ter a preocupação de garantir a participação popular nas escolhas.

Como falar à população?

Desde a eleição passada, quem ganhou foram as redes sociais. Nesta são será diferente, o trabalho das redes acaba sendo determinante. O PT vem se aprimorando justamente para isso, temos feito campanhas online e muitas lives.

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Que desafios o próximo prefeito terá nos pandemia?

Talvez o maior problema a ser enfrentado pelo gestor público é a geração de trabalho e renda, mas não é só por conta da pandemia, é também pelas escolhas erradas feitas no Brasil, como a desregulamentação do trabalho, a reforma trabalhista e a reforma previdenciária, que arrebentaram o estado social brasileiro; não só os empregos, mas também as empresas. Não podemos esquecer que salário tem como finalidade cobrir gastos. O trabalhador tem que ganhar bem para poder para fazer girar e esquentar a economia. Nos países desenvolvidos o salário é alto e o imposto é baixo. No Brasil é exatamente o contrário, o imposto é alto e o salário é baixo.

Além dessas reformas, o Brasil mudou também a política internacional. O que precisa mudar, na sua opinião?

O governo Bolsonaro não é um governo inteligente. Ele faz muita coisa para agradar o público que ele tem, mas na verdade o que fez foi o desmantelamento do que havia, sem que tivesse feito nenhuma proposta para colocar no lugar. O que a gente precisa é recuperar a nossa aposta do que foi feito no passado, da construção dos organismos internacionais, o multiculturalismo por exemplo, é algo que precisa ser restabelecido, os organismos multilaterais precisam ser novamente valorizados. O Brasil sempre foi signatário aos tratados internacionais, no modelo que a ONU já tinha, então isso é preciso colocar de volta, a imagem do Brasil no mundo está ruim, isso tem que mudar.O Brasil está dando sinais horríveis e, com todo respeito, o nosso ministro das relações exteriores é do baixo escalão da diplomacia brasileira, sem experiência nas missões internacionais.

O Brasil tem um histórico de apoio à causa palestina que foi interrompido

Para mim um dos maiores ministros da história do Brasil foi o Celso Amorim, que tinha exatamente a construção daquilo que a gente chama de política internacional voltada à paz. Com Celso Amorim, Lula visitou todos os espaços e territórios árabes. Foi defensor da necessidade do estabelecimento dos dois estados, sempre se preocupou. Mas isso mudou.

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Como político municipal, como o sr. acredita que Curitiba possa contribuir para a solução da causa Palestina?

Uma ação de prefeito tem reflexo na conjuntura internacional. Mas também no sentimento de pertencimento que os árabes têm em relação à Curitiba e em relação ao respeito pela sua identidade cultural. A comunidade árabe aqui em Curitiba é grande.Na minha opinião o desejo, a vontade e a demanda árabe tem que estar dentro do compromisso eleitoral também.

Paulo Opuszka durante ato do Movimento Somos Todos Democracia, 2020. [Foto arquivo pessoal]

Paulo Opuszka durante ato do Movimento Somos Todos Democracia, 2020. [Foto arquivo pessoal]

Mas em relação à Palestina hoje, porque a ocupação contínua e não é responsabilizada?

Mesmo contrariando a ONU, Israel conta com os EUA e com o poder econômico e das armas para fazer um verdadeiro enfrentamento de guerra. Se consegue se impor, é pela violência.

Existe um chamado da sociedade civil palestina pedindo sanções, desinvestimentos e boicotes a israel. Como o sr. vê a campanha BDS?

Nada mais é do que o reivindicar de um direito sendo feito por um povo que não tem seu direito reconhecido. Estamos quase no fim de 2020, ainda discutindo a causa palestina. É algo que devia ter sido resolvido há muito tempo. O estado palestino devia estar acontecendo, vivendo, criando, gerando seus direitos e demandas. E nós ainda precisando brigar por isso. Nesse ponto, o Brasil, infelizmente com o atual governo, andou 40 anos para atrás.

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Palestina: quatro mil anos de história
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