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Relembrando a Intifada de Jerusalém

Menino palestino caminha em frente a um mural em apoio à Intifada de Jerusalém [foto de arquivo]
Menino palestino caminha em frente a um mural em apoio à Intifada de Jerusalém [foto de arquivo]

O quê: Após um grupo de radicais israelenses invadir a Mesquita de Al-Aqsa, levantes despertaram em toda Jerusalém, Cisjordânia e Faixa de Gaza

Onde: Jerusalém ocupada

Quando: 14 de setembro de 2015

O que aconteceu?

Em 13 de setembro de 2015, às vésperas do Rosh Hashanah (Ano Novo Judaico), um grupo de colonos israelenses invadiu o complexo da Mesquita de Al-Aqsa. O Ministro da Agricultura de Israel Uri Ariel entrou no local islâmico de Al-Haram Al-Sharif escoltado por soldados israelenses pesadamente armados. Palestinos reuniram-se no complexo para protestar contra as invasões, dado que israelenses são proibidos de orar no local conforme o acordo vigente. Forças de Israel dispersaram os manifestantes com violência, ao utilizar gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Naquela noite, um homem israelense foi morto em Talpiot Leste, bairro na região sul de Jerusalém, após perder o controle do carro sob pedras supostamente atiradas por residentes palestinos. Em seguida, o Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu anunciou que conduziria uma reunião com os principais ministros para “discutir medidas de dissuasão de contra quem atira pedras”, reportou o jornal Times of Israel.

No dia seguinte, em 14 de setembro, outros extremistas israelenses voltaram a invadir o complexo da Mesquita de Al-Aqsa via portão de Mughrabi. O Rei da Jordânia Abdullah emitiu um alerta contra Israel em movimento raro, ao advertir que a manutenção dos confrontos deveria enfraquecer a relação entre os estados. Em 15 de setembro, um dia de fúria foi declarado em Gaza e Cisjordânia ocupada. Cidadãos palestinos de Israel também tomaram as ruas em greve geral e fecharam negócios e escolas. Dezenas de milhares de palestinos reuniram-se para uma marcha pacífica em Sakhnin, norte de Nazaré, entoando palavras de ordem contra o governo israelense.

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Tensões escalaram no decorrer do verão, por exemplo, com o assassinato da família Dawabsheh em Duma, Cisjordânia ocupada. A família, incluindo o bebê Ali, de dezoito meses, foi vítima de um atentado incendiário conduzido pelo colono judeu Amiram Ben-Uliel. Apenas Ahmed, então com cinco anos de idade, sobreviveu ao ataque. Ehab Iwidat, estudante da Universidade Palestina de Birzeit, que participou dos protestos que tomaram a Cisjordânia ocupada ao longo do outono, relatou à Al Jazeera que a violência resultou “de ações dos colonos, que representam uma política de governo israelense, que vai de queimar pessoas vivas, humilhações diárias e restrições ao direito palestino de ir a vir, até atos desrespeitosos contra a Mesquita de Al-Aqsa.”

A mídia internacional rapidamente começou a rotular o surto de violência como “terceira Intifada”, ou levante. O jornal britânico The Guardian reportou que “há preocupação entre diplomatas e analistas na região de que a escalada de violência possa transformar-se em nova Intifada”. O Foreign Policy acrescentou: “Mais outra vez, políticos e eruditos debatem como chamá-la. Sobre isso, há um raro consenso entre Ismail Haniyeh, líder do Hamas em Gaza, e Isaac Herzog, líder da oposição israelense. Ambos dizem testemunhar uma terceira Intifada.”

Defensores de Al-Aqsa [Sarwar Ahmed/Monitor do Oriente Médio]

Defensores de Al-Aqsa [Sarwar Ahmed/Monitor do Oriente Médio]

O levante escalou ainda mais, após um casal de colonos israelenses morrer em 1° de outubro, ao passar de carro pela rodovia 60, perto de Nablus. O casal vivia no assentamento ilegal de Neria, oeste de Ramallah; um deles era cidadão dos Estados Unidos. O Exército de Israel então lançou uma caçada aos responsáveis pelo crime, conduzindo violentas incursões a aldeias e cidades da Cisjordânia, dia e noite, além de prisões generalizadas que reforçaram a indignação entre os palestinos.

Observadores internacionais condenaram a dura resposta de Israel aos eventos ocorridos no outono de 2015. Em outubro, a Anistia Internacional emitiu um relatório que registrou “ao menos quatro incidentes nos quais palestinos foram deliberadamente baleados e mortos por forças israelenses, sem qualquer ameaça à vida, em aparente execução extrajudicial”. Um dos incidentes foi o assassinato de Sa’ad Muhammad Youssef Al-Atrash, 19 anos, da Cidade Velha de Hebron (Al-Khalil), cometido por forças israelenses, enquanto o jovem tentava apresentar seu documento de identidade a pedido dos soldados.

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O que aconteceu a seguir?

Segundo o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários nos territórios palestinos ocupados (OCHAoPt), “2015 registrou o mais alto número de baixas entre palestinos da Cisjordânia desde 2005, quando a agência começou a documentar os incidentes”. Centenas de palestinos morreram ao inalar gás lacrimogêneo ou baleados por balas de borracha e munição real disparadas por forças de Israel. Trinta crianças foram mortas por forças e colonos israelenses, o mais alto número desde 2006.

Intifada [Sarwar Ahmed/Monitor do Oriente Médio]

Intifada [Sarwar Ahmed/Monitor do Oriente Médio]

Alguns comentaristas acreditam que esta “terceira Intifada” jamais terminou. Em março de 2016, o soldado israelense Elor Azaria foi pego em câmera atirando contra a cabeça de Abdel Fattah al-Sharif, palestino de 21 anos, enquanto a vítima estava ferida e caída no chão, na cidade de Hebron, ao sul da Cisjordânia ocupada. Azaria foi condenado por homicídio doloso, mas serviu apenas uma parte da pena. Em 2018, Azaria gabou-se publicamente de não possuir “nenhum remorso” pelo assassinato de al-Sharif e que faria o mesmo caso a situação se repetisse.

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Em meados de junho de 2016, ainda ocorriam casos de violência, como a morte de quatro israelenses no mercado de Sarona, em Tel Aviv, ou o assassinato de uma menina de treze anos enquanto dormia no assentamento ilegal de Kiryat Arba, perto de Hebron. Em resposta, Israel demoliu uma casa palestina em Bani Naim, leste da cidade. Estima-se que, desde o início da onda de violência, em 14 de setembro de 2015, 260 palestinos foram mortos, 191 dos quais eram homens e doze mulheres. Do total, 57 eram menores de idade.

Tensões continuaram a escalar esporadicamente desde então. Em julho de 2017, protestos generalizados voltaram a ocorrer contra a instalação de detectores de metal nas entradas de Al-Aqsa, pelo exército israelense. Após três palestinos e dois israelenses serem mortos, autoridades de Israel decidiram fechar a mesquita e interromper todas as orações de sexta-feira que ocorriam no local, pela primeira vez em dezessete anos. Mais de 450 palestinos foram feridos nos dias seguintes. Tensões chegaram à Jordânia, após um jovem jordaniano de 16 anos ser assassinado por um guarda da embaixada israelense, em 23 de julho.

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Em dezembro de 2017, a decisão unilateral do Presidente dos Estados Unidos Donald Trump de transferir sua embaixada a Jerusalém e declarar a cidade como capital israelense mais uma vez despertou protestos. A Grande Marcha do Retorno, onda de manifestações massivas na fronteira nominal entre Gaza e Israel, realizadas semanalmente a partir da primavera de 2018, vivenciou a morte de ao menos 170 palestinos.

Transferência da Embaixada dos Estados Unidos à cidade de Jerusalém [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Transferência da Embaixada dos Estados Unidos à cidade de Jerusalém [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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