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Bloqueio de Gaza e assédio egípcio chega aos leitores

“Essa aventura quase custou nossas vidas. Um de nossos colegas teve um AVC no Cairo”

14 de agosto de 2020, às 12h30

Recordando sua jornada com dois companheiros à Faixa de Gaza, através do bloqueio egípcio, um dos coautores do livro No Way to Gaza (Sem Caminhos para Gaza) detalhou o assédio infringido por oficiais do Egito contra o trio brasileiro e residentes palestinos.

No Way to Gaza Conta a história do grupo de cineastas brasileiros que tentou chegar ao território palestino sitiado via Egito, a fim de documentar a situação na Cidade de Gaza.

A travessia de fronteira de Rafah, na fronteira sul, deveria representar uma rota alternativa à travessia de Erez, controlada pela ocupação israelense, no nordeste de Gaza.

Entretanto, a jornada dos documentaristas logo tornou-se uma “aventura perigosa nos confins da ditadura de Abdel Fattah el-Sisi e sua controversa guerra contra o terror na península do Sinai”, conforme resenha de nosso grupo editorial MEMO Publishers.

O projeto documental foi frustrado quando os três amigos – Rodrigo D.E. Campos, Renatho Costa e Lucas Bonatto Diaz – caíram nas teias da burocracia do Egito.

Aventura sob bloqueio do Egito

O trio de cineastas brasileiros planejava ficar um dia no Cairo e 25 dias em Gaza, a fim de produzir seu documentário. Porém, ao chegar na capital egípcia, descobriram que precisavam de documentos complementares – uma busca que provou-se fútil, dia após dia, repartição pública após repartição.

Após 25 dias de imbróglio burocrático, receberam permissão para ir adiante, atravessar o Canal de Suez e entrar da península do Sinai.

No entanto, o trio enfrentou uma nova série de revezes: tiveram de retornar três vezes a Suez e pagar propina a soldados apenas para chegar à cidade de al-Arish, cerca de 45 quilômetros de Rafah.

“A inteligência egípcia constantemente nos seguia”, afirmou Campos.

No dia seguinte, chegaram a Rafah onde tiveram de aguardar um dia inteiro. Então, foram expulsos do local por uma ordem militar do Egito, para retornarem a al-Arish e serem detidos em um hotel.

Campos recordou o suplício: “Não recebemos qualquer alimento e tínhamos de beber água do banheiro”.

Acordaram na manhã seguinte para descobrir uma escolta de dez veículos de segurança e um tanque de guerra logo em frente ao hotel, com objetivo de devolvê-los ao Cairo.

Assédio diário contra os palestinos

Esta antologia de anedotas do grupo também conta histórias dos palestinos que arriscam tudo em sua vida somente para chegar à sua terra.

“Todo mundo sabe sobre os bloqueios de Israel, mas o que não sabem é que os palestinos sofrem igualmente nas mãos do exército egípcio”, lamentou Campos.

O cinegrafista reiterou, no entanto, que não sofreu junto de seus colegas com o mesmo grau de abuso imposto aos palestinos todos os dias, para entrar e sair de Gaza. Uma das histórias do livro relata o caso de um estudante palestino que veio da Suécia para passar as férias; contudo, detido na fronteira por uma semana.

O exército do Egito alegou ter descoberto materiais contra o “anticolonialismo” em seu computador. A história é apenas uma entre muitos relatos similares presentes no livro.

A Faixa de Gaza – vítima de um severo bloqueio israelense por ar, terra e mar, desde 2007 – possui apenas sete travessias de fronteira para conectá-la ao resto do mundo.

Seis destas travessias, incluindo Erez, são controladas por Israel. A sétima – Rafah – é controlada pelo Egito, que a mantém essencialmente fechada pela maior parte do tempo desde a deposição, via golpe militar, do ex-presidente Mohamed Morsi, em 2013.

Israel fechou quatro de sua travessias comerciais, em junho de 2007, após o movimento de resistência palestina tomar o controle da região diante do fracasso de uma coalizão de governo com a Autoridade Palestina, com sede em Ramallah, Cisjordânia ocupada.

Em entrevista ao MEMO, os escritores nos contam como pesquisadores e palestinos são tratados pela ditadura do governo egípcio, acompanhem amanhã a entrevista completa em nosso site.

COMPRE AGORA: No Way to Gaza