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Príncipe saudita ordenou execução de ex-oficial no Canadá, aponta processo legal

Mohammed Bin Salman ordenou que um esquadrão da morte executasse um ex-oficial de inteligência saudita de alto escalão, apenas treze dias após o assassinato de Jamal Khashoggi

O príncipe herdeiro e governante de fato da Arábia Saudita Mohammed Bin Salman ordenou que um esquadrão da morte executasse um ex-oficial de inteligência saudita de alto escalão, apenas treze dias após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

A acusação escandalosa foi revelada na quarta-feira (5), por um processo judicial registrado na Corte Distrital dos Estados Unidos, em Washington DC, por Saad al-Jabri. O cidadão saudita e ex-oficial de 62 anos alegou que Bin Salman tentou realizar uma série de tentativas de assassinato contra ele, após fugir do reino por receios relativos à sua segurança.

No caso que traz paralelos ao assassinato de Khashoggi, afirma-se que Bin Salman orquestrou pessoalmente a tentativa de execução extrajudicial de al-Jabri, “a fim de suprir seus anseios assassinos”. O infame “esquadrão tigre”, que executou Khashoggi, também voltou-se contra al-Jabri, por ordens do príncipe, denuncia o processo.

Segundo os relatos, Bin Salman tentou inicialmente atrair al-Jabri de volta à Arábia Saudita ou outra de suas jurisdições, onde poderia ser assassinado com facilidade e sem consequências.

Quando o ex-oficial fugiu do reino, o então chefe de estado saudita enviou mensagens de ameaça por WhatsApp, reivindicando seu retorno em 24 horas.

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Tentativas de atraí-lo de volta ao país incluíram o uso de sua família como “isca humana”. Pouco depois, o príncipe ameaçou enviar um avião privado para deter e repatriar al-Jabri, além de prender e sequestrar familiares do dissidente, em esforços abrangentes para atraí-lo a uma armadilha, conforme as acusações.

Quando todos esses esforços falharam, o esquadrão da morte foi enviado à América do Norte para assassiná-lo.

O processo alega que os mercenários tentaram entrar no Canadá, onde al-Jabri vive em exílio, ao apresentar vistos de turismo. Contudo, seu plano de ludibriar a segurança de fronteira canadense fracassou. A equipe levantou suspeitas e, sob investigação, revelou-se que mentiram sobre a razão para viajar ao país norte-americano.

Mohammed Bin Salman sobre Khashoggi [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Mohammed Bin Salman sobre Khashoggi [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Entretanto, Bin Salman parece determinado a “eliminar … de uma vez por todas” o dissidente, alega o documento judicial. Al-Jabri ainda crê que sua vida está em perigo e teme que o príncipe envie assassinos ao Canadá por terra, via Estados Unidos, para “terminar o trabalho”.

Al-Jabri tornou-se um homem marcado devido a suas relações próximas com a comunidade de inteligência dos Estados Unidos e conhecimento “íntimo” sobre as atividades de Bin Salman. Boatos afirmam que o ex-oficial tem capacidade para prejudicar a influência e apoio da Casa Branca de Donald Trump ao príncipe herdeiro.

“A combinação de conhecimento profundo e confiança prolongada por oficiais de alto escalão dos Estados Unidos é a razão pela qual não há ninguém que o réu Bin Salman queira morto mais do que o dr. Saad”, prossegue a denúncia.

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Especula-se que al-Jabri tenha exercido papel fundamental na conclusão da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) de que o príncipe herdeiro foi quem de fato autorizou a execução de Khashoggi.

Jamal Khashoggi era jornalista radicado nos Estados Unidos, a serviço do The Washington Post. Foi executado em outubro de 2018, dentro do consulado saudita em Istambul, Turquia. Seu corpo jamais foi encontrado.

O processo foi registrado uma semana após o New York Times publicar uma história que detalha as tentativas de atrair al-Jabri à Arábia Saudita, ao utilizar sua família como isca. Bin Salman também ofereceu um novo trabalho ao oficial dissidente. Sem resultados, tentou então extraditá-lo, sob acusações de corrupção via Interpol.

Todas as tentativas falharam, mas levaram à prisão de dois dos filhos de al-Jabri, em Riad.

Al-Jabri perdeu seus privilégios junto à corte em 2017, após o golpe branco que levou Bin Salman ao poder, ao substituir Mohammed Bin Nayef como príncipe herdeiro da Arábia Saudita.

O oficial de inteligência deixou o reino e se instalou na Turquia, antes de mudar-se ao Canadá. Enquanto isso, o príncipe concentrava-se em aliados domésticos de Nayef, na ocasião, em prisão domiciliar.

O destino dos filhos de al-Jabri atraiu a atenção de quatro senadores dos Estados Unidos. Em julho, escreveram uma carta ao Presidente Donald Trump para expressar seus temores pelo “desaparecimento forçado” das duas crianças, cujo pai é descrito como “aliado próximo e amigo”.

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