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O direito perdido à maternidade em Gaza

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[Mãe palestina [Photo by: Anne Paq, ActiveStills]

Enquanto as mães de vários países no mundo árabe estão comemorando o dia das mães, as mães de Gaza comemoram sua falta de direito à maternidade! Gostaria de saber se este dia é diferente de qualquer outro dia “comum” para mães palestinas em Gaza, com cada vez mais bloqueios, mais blecautes de eletricidade, mais sons explosivos de restos de mísseis da ocupação israelense e certamente mais decepções.

Uma mãe em Gaza é uma mãe que sofre com a perda de seus filhos e filhas, nascidos e não-nascidos. A ocupação de Israel é o pior medo de uma mãe. Se essas crianças não foram mortas, elas ainda podem ser detidas e torturadas na prisão de Israel.

Hoje eu imagino a mãe palestina em Gaza realizando suas tarefas habituais, permanecendo em longas filas no início da manhã para tentar pegar uma sacola de ajuda humanitária; segurando as lágrimas antes de entrar no quarto do hospital onde está um filho inválido, vítima de uma bomba da ocupação israelense, e que ela preferia estar em seu lugar. Segundo o Centro de Estatísticas da Palestina, “o número de mártires palestinos mortos pela ocupação israelense de 2000 a 2019 é de 10.853 pessoas.

Além disso, o número de prisioneiros palestinos que estão nas prisões israelenses são 5700 (incluindo 250 crianças e 47 mulheres). Além disso, o número de pessoas com deficiência, como resultado das medidas arbitrárias praticadas pelo ocupante israelense contra os palestinos, atingiu 48.140.

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Mãe protestam por seus filhos, vítimas da ocupação [Hasan Eslayeh]

Existe uma dor maior no mundo do que uma mãe que tem ao seu lado o filho jovem para perdê-lo a qualquer momento ?! Isso acontece diariamente em Gaza. Na manhã de 23 de fevereiro de 2020, a mãe do jovem palestino Muhammad al-Na’im (27 anos) acordou com uma calamidade que abalou seu coração e consciência, quando a ocupação israelense matou seu filho, e seu corpo foi abandonado pelo trator israelense na frente das câmeras sem se importar com qualquer responsabilização ou lei internacional..

A mãe de Mohammed disse:

“Eu o vi de noite e ele me pediu para almoçarmos juntos amanhã. Eu estava me preparando para encontrá-lo, mas de repente me vi assistindo a um vídeo de como meu filho foi morto e seu corpo foi violado “

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Não sei o que é mais doloroso para as mães de Gaza. Se é perder o filho ou esperar sua libertação das prisões israelenses, que podem mantê-lo por toda a vida! Centenas de milhares de palestinos foram condenados desde 1967 sem qualquer motivo para a prisão. A mãe palestina espera seu filho sem saber quantos anos ele terá ao sair  ou será realmente libertado! Além disso, é negado a ela o direito de visitá-lo regularmente. Iyad Al-Jarjawi é um prisioneiro de Gaza que foi mantido na prisão israelense “Gilboa”.

Ele foi preso pela ocupação israelense em 2011 e condenado a 9 anos de prisão. A mãe de Iyad, depois de muitos anos esperando para abraçar seu filho ausente , souube que seu filho tinha um tumor cancerígeno na cabeça.Ela disse: “O contato com Iyad foi muito difícil devido aos procedimentos da administração penitenciária de Israel, além disso, não pude visitá-lo no mês passado por razões desconhecidas”. Ela acrescentou: “Por meio da mídia, a família ficou surpreedida ao saber que meu filho tem um tumor cancerígeno no cérebro. Eu não posso nem falar ou saber sobre suas condições, exceto através de seu advogado”.

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Mãe de Iyad Al-Jarjawi [Hasan Eslayeh]

A mãe de Gaza não sabe há muito tempo como é dormir em segurança; milhares de pensamentos tomam sua mente, ela tenta ao máximo explicar para seus filhos indagadores por que é tão difícil encontrar comida em Gaza ou por que é virtualmente impossível visitar seu tio favorito fora de Gaza. Ela tenta responder a essas perguntas com palavras simples para satisfazer a curiosidade das crianças sem transmitir  uma imagem sombria de um mundo que eles ainda precisarão enfrentar é uma tarefa assustadora; mas as crianças sabem; elas sabem que o povo palestino em Gaza está devastadoramente sozinho. Existe algo mais doloroso e amargo do que uma mãe beijando seu filho uma última vez, em vez de dar-lhe um beijo de boa noite?

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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