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Fórum Europal destaca racismo e negligência médica contra palestinos nas cadeias de Israel

Ativistas palestinos sentam-se em uma prisão simulada durante protesto em solidariedade aos prisioneiros palestinos nas cadeias de Israel, em 9 de abril de 2019 [Mahmoud Nasser/Apaimages]

A data 17 de abril marca o Dia dos Prisioneiros Palestinos. Neste ano, o Fórum Europal (Europa-Palestina) realizou um seminário via plataforma Zoom intitulado “5.000 prisioneiros: O racismo de Israel e negligência médica diante do surto de covid-19”.

O seminário online teve participação de Motasem Dallou, correspondente do MEMO em Gaza; Akram Satari, repórter palestino para diversas ongs e agências internacionais; e Charlotte Kates, coordenadora da Rede de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos Samidoun, entre outras organizações de apoio à causa palestina.

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Os palestrantes buscaram compensar a falta de cobertura sobre a causa dos prisioneiros palestinos a fim de tornar o tópico acessível a uma melhor compreensão das condições atuais dos prisioneiros palestinos nas cadeias de Israel, em particular, diante do covid-19.

Nesta perspectiva, a conferência foi aberta por Robert Andrews, representante de relações públicas do Fórum Europal. Andrews observou que o seminário representa somente uma das muitas ações abrangentes da entidade para promover as dinâmicas da causa dos prisioneiros palestinos.

Andrews também reiterou que o Fórum Europal buscou uma série de iniciativas com este objetivo, incluindo ao enviar uma carta oficial a diversos oficiais do governo, ministros de relações exteriores e parlamentares, a fim de conscientizar o cenário político sobre a luta dos prisioneiros palestinos.

O primeiro conferencista foi Motasem Dalloul, jornalista e comentarista político de Gaza, que focou sua fala no histórico de negação dos cuidados de saúde aos prisioneiros palestinos concomitante à gravidade da ameaça representada pelo covid-19 nas cadeias de Israel.

Dalloul iniciou sua apresentação ao observar que o abuso cometido contra os presos palestinos não é nenhuma novidade, tampouco limitado a fatores de uma natureza específica. Ao contrário, observou, os prisioneiros palestinos são continuamente submetidos a abuso sistemático e generalizado que pode ser traçado até as origens da ocupação ilegal de Israel.

Segundo o jornalista, este abuso é bastante claro tanto nos meios quanto nos métodos pelos quais os palestinos são detidos e levados em custódia por Israel, além da absoluta e deliberada falta de atendimento médico, uma vez detidos no sistema prisional.

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Desde março deste ano, segundo Dalloul, a campanha sistemática de prisões conduzida por Israel deteve 357 palestinos, incluindo 48 menores e quatro mulheres. Desde o início de 2020, Israel prendeu quase 1.300 palestinos, incluindo 210 menores e 31 mulheres. Dentre os presos, estão indivíduos que participavam de iniciativas voltadas à contenção do novo coronavírus em suas comunidades, como distribuição de alimentos ou limpeza e esterilização de espaços públicos.

Após Dalloul, outro palestino de Gaza falou à conferência. Akram Satari é jornalista e foi preso quando criança pela ocupação de Israel. Satari apresentou um relato interno em primeira pessoa sobre sistema penitenciário israelense, incluindo a razão pela qual é imperativo que a comunidade internacional aja agora para proteger os prisioneiros palestinos diante do coronavírus.

Satari iniciou sua apresentação ao relatar sua própria experiência pessoal aos dezesseis anos de idade, quando foi submetido a abusos crônicos e negligência médica sob ordens de Israel. Após sofrer um derrame e paralisia dentro do sistema prisional ainda jovem, Satari vivenciou o tratamento desumano conduzido cotidianamente.

O jornalista também narrou sua experiência vivendo em tendas provisórias e campos de refugiados cercados por arame farpado, sem qualquer assistência médica a pacientes de doenças crônicas. Observou que, neste caso, não pôde ver um médico por dois meses e lhe foi recusado tratamento e fisioterapia pela ocupação, que recomendou meramente “beber água” como remédio à sua condição.

Ao concluir, Satari referiu-se a um importante ponto de atrito: a possibilidade de troca de prisioneiros entre Hamas e Israel. Diante dessa perspectiva, o jornalista observou que, após a guerra de Israel contra Gaza, em 2014, houve apelos pela soltura de 54 presos palestinos antes libertados pelo acordo de Shalit, assinado em 2011.

Diante do covid-19, essa exigência pela soltura dos 54 presos palestinos mitigou-se dentre as discussões conduzidas pelo líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar. Nesta conjuntura, para Satari, o Hamas assinalou intenções de liberar informações sobre os soldados israelenses capturados e iniciar um acordo de troca humanitária com o objetivo de assegurar a soltura de prisioneiros palestinos idosos e jovens.

A última conferencista foi Charlotte Kates, coordenadora internacional da organização humanitária Samidoun, com foco nos direitos dos presos palestinos. A apresentação de Kate concentrou-se nas diferentes iniciativas disponíveis atualmente para conscientizar o público internacional sobre a situação enfrentada pelos prisioneiros palestinos.

De início, Kates reiterou que a pandemia de covid-19 tornou a causa dos prisioneiros palestinos ainda mais urgente em questão de saúde, em escala sem precedentes, apesar das graves condições humanas, políticas e sociais já presentes antes da doença.

Segundo ela, neste contexto, é importante que ativistas internacionais concentrem-se na questão dos prisioneiros palestinos pois o “impacto potencialmente devastador da propagação do vírus entre os prisioneiros é bastante evidente”.

De acordo com a declaração de Kates, tratam-se de aproximadamente 5.000 presos, que abrangem “pais e mães, irmãos e irmãs, professores, estudantes, líderes comunitários, ativistas dos direitos das mulheres, sindicalistas, combatentes da liberdade, pessoas engajadas em todos os aspectos da luta e todos os aspectos da sociedade discriminados nas cadeias de Israel, sob ameaça de morte devido ao covid-19.”

Sobre os passos a serem tomados em toda a Europa e na comunidade internacional, Kates destacou que a causa dos prisioneiros palestinos deve ser cada vez mais integrada ao amplo movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). Por exemplo, é preciso que a campanha se adapte para levar a questão à União Europeia, no que se refere a recursos do bloco a projetos de pesquisa e desenvolvimento de Israel, além do Acordo de Associação Israel-Europa.

Para Kates, essas campanhas são absolutamente vitais, a fim de “reagir aos laços de cooperação entre União Europeia, Estados Unidos e Israel.” Kates concluiu com um apelo por esforços coordenados mais amplos, a fim de contactar representantes eleitos enquanto simultaneamente busca pressionar pela revogação de alianças político-econômicas já existentes.

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