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Qualquer coisa que Israel quer, Israel consegue

Forças israelenses agridem palestinos com gás lacrimogêneo na entrada da mesquita de Al-Aqsa, após a suspensão das medidas de segurança israelenses, em Jerusalém, 27 de julho de 2017 [Mahmoud İbrahem/Agência Anadolu]

Em 4 de março, os recém-formados líderes do Partido Azul e Branco de Israel, Gabi Ashkenazi, Yair Lapid, Benny Gantz e Moshe Ya’alon, declararam que Israel não se retiraria das colinas ocupadas do Golã. Gantz, o chefe do partido, disse que aumentaria os assentamentos e dobraria sua população. A alegação: eles não entregarão a área a Bashar Al-Assad, um ditador brutal que massacra seu próprio povo.

A Cisjordânia e as Colinas de Golã são, em teoria, territórios ocupados, mas na realidade a classificação tem sido alterada com a aprovação dos Estados Unidos e com o silêncio da União Europeia, contrariando as resoluções da ONU.

O jornal Jerusalem Post informou que durante a primeira visita do primeiro-ministro israelense,  Benjamin Netanyahu , a Washington em 2017, ele pediu à administração americana de Donald Trump que reconhecesse a soberania israelense sobre o Golã. Os americanos disseram: “Para acalmar a campanha do lobby sionista, o Congresso dos EUA aprovará o pedido israelense de legalizar a anexação israelense das colinas de Golã.” Ao mesmo tempo, o movimento de Trump em reconhecer Jerusalém como a capital de Israel fez com que os israelenses exigissem ainda mais terras e territórios.

No entanto, parece que muitos não compreendem realmente que Jerusalém desempenha um papel crucial na consciência do povo. Não está relacionado apenas a crenças espirituais, mas também afeta a maneira como as pessoas vêem o mundo e governam suas prioridades, suas reações e sentimentos. Os símbolos religiosos, especialmente os santuários, estão no centro deste conceito. Os três lugares religiosos são Meca, Medina e Jerusalém.

Embora muitos rabinos israelenses insistam que é um pecado para um judeu entrar no que eles chamam de “Monte do Templo”, Netanyahu,  através de intervenção direta do governo ou ignorando a agressão de grupos colonos judeus, os encoraja a entrar na Mesquita Al-Aqsa para criar um novo status quo, ou pelo menos transformá-la em um “lugar disputado”, que acabe por dar aos israelenses direito a parte do local sagrado.

 

Milhares desses colonos profanam Al-Aqsa diariamente, em meio a protestos de fiéis muçulmanos. Muitas vezes, essa situação agravou o preconceito religioso e levou a confrontos sangrentos, onde pessoas dos dois lados perderam suas vidas. De acordo com os acordos internacionais, Al-Aqsa está sob custódia jordaniana, mas na prática Israel envia suas forças para os seus pátios, fecha seus portões completamente ou obstrui a entrada de muçulmanos para suas orações.

Em junho de 2017, as autoridades israelenses instalaram detectores de metal no Portão do Leão (Portão Bab Al-Asbat) da Mesquita Al-Aqsa, que está, como mencionado anteriormente, sob custódia jordaniana e parte de Jerusalém Oriental, considerada ocupada. Isso resultou em protestos generalizados de muçulmanos nos territórios ocupados e em todo o mundo.

Em 2003, as autoridades israelenses selaram a Porta Bab Al-Rahma sob o pretexto de que ela era usada por uma organização terrorista e impediram os muçulmanos de usá-la. Mais tarde, após relatos de que os colonos judeus estavam transformando o local em uma sinagoga, os muçulmanos quebraram as fechaduras e reivindicaram a área, que legalmente não está sob jurisdição israelense. Milhares de muçulmanos se reuniram para enfatizar a identidade do local sagrado e fizeram orações congregacionais por lá.

Palestinos realizam oração em frente ao Portão Al-Rahma (Portão da Misericórdia) do complexo da Mesquita Al-Aqsa, vigiados pelas forças de segurança de Israel, após o portão ter sido trancado a correntes pela polícia israelense, em Jerusalém, 20 de fevereiro de 2019
[Faiz Abu Rmeleh/Agência Anadolu]

As autoridades israelenses proibiram a entrada de muitos líderes religiosos e fiéis muçulmanos na área e levaram a questão à corte de ocupação israelense. O tribunal, como se esperava, ordenou o fechamento do portão. A Autoridade Palestina e a Jordânia declararam que Israel não tem jurisdição sobre a área, e seus procedimentos são nulos, de acordo com o direito internacional e o tratado de paz israelo-jordaniano. As tensões se intensificam e, a qualquer momento, podemos testemunhar outra série de reações dos palestinos, provavelmente instrumentalizadas por Netanyahu em sua campanha eleitoral.

Israel, sob Netanyahu, passou por uma profunda mudança de um estado secular baseado em mitos religiosos, para um estado religioso pleno. Os membros religiosos de direita estão presentes em todas as instituições israelenses, incluindo o judiciário, o exército e a polícia. Ele não restringiu sua missão a Israel. Netanyahu prosseguiu uma campanha para demonizar o Islã e trabalhou na disseminação da noção de islamofobia; uma variação da xenofobia. Netanyahu se apresenta como um especialista em terrorismo, o qual relaciona estritamente aos muçulmanos, conforme sua retórica. Ele sabe que sua mercadoria terá mercado-consumidor caso os governos de direita permaneçam no poder, portanto, apoia a formação de governos alinhados com o seu discurso em todo o mundo.

Ao despertar preconceitos religiosos e dividir o mundo em novas fronteiras geográficas, Netanyahu tornou-se o responsável por abrir a Caixa de Pandora e colocar em risco toda a humanidade, desencadeando guerras religiosas globais. Se for bem-sucedido, caso essa situação se concretize, irá prejudicar todos os tipos de relações, inclusive os laços econômicos, devolvendo a política mundial à Idade Média.

A coalizão de evangélicos, sionistas religiosos e regimes despóticos que governam os estados muçulmanos compõe uma fórmula explosiva que representa um perigo real para a liberdade mundial e os valores modernos, libertados das garras das autoridades religiosas que governaram a Europa e boa parte do mundo no período medieval. A nós cabe a esperança de que o mundo logo se liberte de toda essa tirania.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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