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Empresa mercenária ligada à GHF volta a recrutar ex-soldados para atuar em Gaza

23 de novembro de 2025, às 08h23

Um menino palestino carrega suprimentos de alimentos enquanto moradores se aglomeram no Corredor Netzarim para receber ajuda limitada, com a fome se agravando em Gaza em meio aos contínuos ataques e bloqueio israelenses, em 4 de agosto de 2025. [Hassan Jedi – Agência Anadolu]

Uma controversa empresa militar privada americana, com histórico de envolvimento em violência e assassinatos em locais de distribuição de ajuda em Gaza, está recrutando ativamente ex-soldados para uma nova missão no território palestino sitiado, de acordo com uma reportagem do Drop Site News.

A UG Solutions, uma subcontratada militar americana anteriormente contratada para fornecer segurança à notória Fundação Humanitária de Gaza (GHF), está intensificando o recrutamento para o que descreve como funções de “segurança robusta” em Gaza. A empresa planeja abrir até 15 novos locais de distribuição de ajuda, conforme a proposta do presidente Donald Trump, que inclui uma força internacional de estabilização. Um ex-oficial do Exército dos EUA, entrevistado para uma vaga na UG Solutions, afirmou que a empresa pretende mobilizar os recrutas até dezembro. Os contratos oferecem até US$ 1.000 por dia para serviço de guarda armada. Os candidatos teriam sido informados de que a missão envolveria “garantir a segurança” em zonas de ajuda humanitária em Gaza. E-mails internos, vistos pelo Drop Site News, indicam que a empresa está pré-selecionando candidatos para operações em “ambientes de alto risco”.

A campanha de recrutamento ocorre após a resolução do Conselho de Segurança da ONU de 17 de novembro, que autorizou uma força internacional de estabilização em Gaza. Essa força não estará sob o comando da ONU, mas sim subordinada a uma nova entidade conhecida como “Conselho da Paz”, presidida pelo presidente Trump. A esse conselho foi concedida autoridade sobre a segurança, a reconstrução e as operações humanitárias em Gaza.

Jennifer Counter, vice-presidente de assuntos governamentais da UG Solutions, confirmou que a empresa está “se preparando para uma ampla gama de cenários”, incluindo “uma forte presença de segurança em apoio à distribuição de ajuda humanitária”. Ela acrescentou que a empresa está em constante diálogo com as partes interessadas relevantes.

Entre maio e outubro, período em que a GHF operou em Gaza com contratados da UG Solutions, mais de 2.600 palestinos foram mortos e mais de 19.000 ficaram feridos em locais de distribuição de ajuda humanitária ou nas proximidades. Imagens de vídeo e depoimentos indicaram que os guardas destacados pela UG Solutions usaram munição real e granadas de efeito moral durante a distribuição de ajuda.

Anthony Aguilar, ex-contratado da UG Solutions, renunciou ao cargo devido à conduta da empresa. Aguilar se referiu aos locais de distribuição de ajuda como “armadilhas mortais” e acusou a empresa de participar de graves abusos.

Circulam também relatos sobre um conjunto de medidas introduzidas por Israel para fragmentar ainda mais Gaza, que incluem a expansão do acesso a telefones celulares, a restrição da circulação de dinheiro em espécie e a aplicação de sanções financeiras a bancos palestinos. Essas mudanças fazem parte de um esforço mais amplo, segundo analistas, para reestruturar a economia e a sociedade de Gaza por meio de sistemas digitais e mecanismos de vigilância.

O plano de reconstrução inclui, segundo relatos, o desenvolvimento de condomínios fechados no leste de Gaza, a área mais afetada durante o genocídio. Espera-se que as zonas reconstruídas operem sob estrita supervisão israelense, incluindo o controle sobre a circulação, o comércio e as transações financeiras. Comerciantes autorizados por Israel poderão operar nessas zonas, com transações realizadas por meio de sistemas de crédito digital.

Essas medidas são vistas como parte de uma iniciativa mais ampla para administrar Gaza por meio da segmentação econômica e geográfica. Como parte desse sistema, o comércio, a mobilidade e o acesso a recursos dependerão de verificação digital, o que pode levar à criação de classes de elite e ao deslocamento interno de pessoas de áreas menos atendidas para áreas mais controladas.

Desde o acordo de cessar-fogo de 10 de outubro, Israel continuou realizando ataques em Gaza e restringindo a entrada de caminhões com ajuda humanitária.

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