A poucos quilômetros da fronteira Líbano-Síria em Masnaa, no Vale do Bekas, localiza- se a sede da ONG Winners Play For Life. Sob comando de brasileiros, a organização começou às atividades em 2019. O objetivo da organização não governamental é utilizar workshops, esportes, a arte e a educação como ferramentas de inclusão e fortalecimento de crianças e jovens refugiados sírios e libaneses em situação de vulnerabilidade. As aulas variam desde português a costura como fonte de renda.
Hebert Mendonça, 29, trabalha dando aulas de futebol para alguns meninos atendidos pelo projeto.. “Eu morei na Venezuela para trabalhar com futebol. Fiquei dois anos lá, de 2013 para 2015. E agora estou no Líbano há dois anos”, afirma. “O Líbano surge quando eu já tinha saído da Venezuela e estava de volta ao Brasil. Um amigo pessoal, que jogou comigo em Roraima, me disse que estava aqui no projeto [Winners], mas precisava voltar ao Brasil. Então ele perguntou se eu podia vir e assumir o lugar dele, porque ele precisava de alguém de confiança para dar seguimento no trabalho. E na hora eu aceitei. Eu já estava doido pra voltar a trabalhar com futebol, é o que eu amo fazer. Então não teve jeito. Aceitei na hora”. “Para pessoas carentes [o futebol], é uma válvula de escape. Uma forma de aliviar o sofrimento, esquecer um pouquinho aquilo tudo, aquelas dificuldades. E também dá oportunidade de mudar de vida. Você começar ali do baixo e depois virar jogador de futebol é fantástico”.
Hebert afirma que o principal objetivo no projeto é ver essas pessoas poderem ter novas chances e perspectivas:
“Meu principal objetivo aqui é que o Winners seja visto e conhecido não só pelos times daqui, mas em todo o Oriente Médio. O futebol não é tão forte aqui. O basquete tem mais força. Porém sabemos que alguns times de países aqui como a Arábia Saudita, Turquia – a Turquia não é Oriente Médio, mas está aqui pertinho e é uma potência no futebol. E isso já ajuda a esses meninos a serem conhecidos. A ideia é virar uma escolinha/agência pra dar chances reais pra esses meninos mudarem de vida. Esse é meu maior sonho”.
Yasser AlHifi, 28, é treinador de goleiro. É sírio, porém aprendeu a falar português no projeto: “Trabalho aqui há 4 anos. Mas morei no Líbano há 7 anos. Agora eu moro numa cidade síria aqui perto da fronteira e venho trabalhar aqui. Eu gosto muito. Comecei a trabalhar aqui porque eu jogava algumas partidas contra eles. E um dia estavam os responsáveis pela escolinha, e fui convidado a trabalhar aqui, e aceitei. Aprendi a falar português aqui, com todo mundo. Me interessei pela língua e eu amo futebol do Brasil”.
Para além do futebol, há o projeto de costura, cujo intuito é ensinar uma nova habilidade e também inseri-las no mercado de trabalho. Mariam Mahummud, 51, é síria e uma das beneficiadas pelo projeto como aluna.
“Estou no Líbano há 26 anos. Eu vim sozinha direto para Madjal Anjar. Eu comecei a costurar aqui no Winners, há 4 anos. Eu fazia crochê antes de aprender a costurar aqui. Trabalhei com isso na Síria, e não cheguei a trabalhar no Líbano… Era complicado. Então comecei a trabalhar através do Winners. Estou aprendendo e minhas filhas também. Na verdade elas vieram primeiro. Então me interessei e acabou se tornando uma fonte de renda. Minhas amigas também fazem aqui, e isso me deixa mais à vontade”, afirma.
Liza Liz, voluntária como professora no projeto, comentou sobre os desafios e os triunfos do trabalho:
“Nós fizemos um teste com os coletes. Houve uma encomenda e os clientes perguntaram onde foi fabricado. E quando eu digo que foi produzido no Líbano eles ficam surpresos. Aqui isso não é comum, sabe? Geralmente eles compram da China. Me empenhei a ensinar a elas. Mostrei o material, ensinei o acabamento. Eu comecei a ensinar a Mariam e a outra menina. Elas se desenvolveram. Elas tinham dificuldades com os detalhes e fomos nos entendendo, mesmo sem tradutor. Ela com o sírio e eu com o português. Quase uma mímica. Mas fomos nos entendendo. Eu não sei nada do árabe. Mas fomos nos entendendo. E isso foi fluindo. Na péptica deu muito certo. E agora elas conseguem produzir tudo sozinhas.
Muitas delas precisam sustentar suas casas, então algumas vezes elas precisam escolher entre vir aqui ou trabalhar em casa… E isso é complexo. Aqui não tem trabalho pra elas, na cidade, então é muito difícil e muitas vezes elas precisam gatar o tempo procurando formas de levar o sustento pra casa, buscar trabalho.
É difícil até mesmo para os maridos sustentarem a casa sozinhos. Então imagina, elas precisam trabalhar também. Mas é muito difícil. Para algumas delas, se não fossem essas encomendas, elas estariam sem trabalho.
A gente também ensina sobre investimentos e lucro. Elas as vezes acham que ganhar 2$ sobre uma peça é bom. Mas não é. Não vale a pena. Então estamos tentando mudar essa mentalidade delas também. Algumas já mudaram para a Síria de novo. Mas para que as ainda estão aqui tentamos ajudar com isso.”
Informações sobre o projeto estão disponíveis em português, inglês e árabe no site do Winners, ou rede socia @winnerslsl, e também é possível contribuir pela página de doações;









