Organizadores da Flotilha Global Sumud, iniciativa humanitária com destino a Gaza, sob cerco de Israel, confirmaram uma explosão em seu principal barco, Família, de bandeira portuguesa, na madrugada desta terça-feira (8), em águas tunisianas.
O ativista brasileiro Thiago Ávila, tripulante, reportou: “O barco Família foi atacado por um drone incendiário perto da costa da Tunísia. Alguns membros de nossa equipe estavam a bordo, mas ninguém ficou ferido”.
A equipe de comunicação da flotilha publicou vídeos do momento.
Miguel Duarte, ativista português, relatou ao Middle East Eye ter visto um drone acima do navio, antes de lançar um aparato explosivo. “Eu estava na popa, quando ouvi o drone. Vi claramente, quatro metros acima de minha cabeça. Chamei alguém. Estávamos olhando para o drone, bem acima de nossas cabeças”.
Então, segundo Duarte, lançou “obviamente uma bomba”: “Houve uma grande explosão, muitas, muitas, muitas chamas … Poderíamos ter sido mortos”.
A Flotilha Global Sumud, com centenas de voluntários de dezenas de países, representa a 38ª e maior tentativa de romper o bloqueio israelense a Gaza. Sua partida estava prevista para esta terça, do porto tunisiano de Sidi Bou Said.
A polícia da Tunísia informou ter extinguido o incêndio, sem baixas; contudo, disseminou alegações conflitantes com as imagens disponíveis, ao alegar um acidente.
Segundo organizadores, participantes se preparam para “todos os cenários possíveis” em sua jornada a Gaza, sob alertas de diferentes ações israelenses para obstruir a missão — incluindo pirataria, como nos casos prévios, e ataques militares.
Os ativistas destacaram, contudo, que quaisquer ameaças e escalada não os impedirão, ao insistir que o cerco “não é mais um problema palestino, mas questão de consciência global que requer ampla ação humanitária”.
Mais cedo, a flotilha condenou ameaças diretas de Itamar Ben-Gvir, ministro de Segurança Nacional de Israel.
Em nota, a coalizão condenou ainda “difamação dos tripulantes como terroristas”. Para a flotilha, a retórica “constitui violação flagrante do direito humanitário internacional e das Convenções de Genebra”.
Em meio a ameaças, a ação reivindicou proteção da Europa. Uma delegação italiana que partiu da Catânia, observou: “Ao passo que nossos governos seguem incapazes de dar fim à crise, que se agrava dia após dia, não podemos assistir parados”.
Trinta barco partiram também de Barcelona, além de 20 da Tunísia, com parada nas Ilhas Baleáricas, da Espanha.
A Flotilha Global Sumud, com cerca de 200 ativistas de 44 países, partiu de Barcelona, na Espanha, em 1º de agosto, após o mau tempo forçar seu retorno no dia anterior.
No domingo (31), Ben-Gvir apresentou um plano — a despeito da lei internacional — para reprimir a flotilha, incluindo detenção prolongada dos tripulantes estrangeiros.
Dentre os tripulantes, além de Ávila e cerca de 15 brasileiros, estão a ativista sueca Greta Thunberg, o ator irlandês Liam Cunningham e a ex-prefeita de Barcelona, Ada Colau.
Estima-se que a frota final contenha até 500 pessoas e 60 barcos. Duas iniciativas prévias — com apenas um barco cada: Madleen, em junho, e Handala, no mês seguinte — foram interceptadas ilegalmente em alto-mar por Israel.
Israel mantém embargo quase absoluto à assistência humanitária a Gaza, ao assumir o controle da distribuição mediante a chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês), mecanismo militarizado responsável por mais de mil mortes.
As ações israelenses, investigadas como genocídio pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, deixaram ao menos 63 mil mortos e dois milhões de desabrigados, sob cerco, destruição e fome, desde outubro de 2023.
Na semana passada, a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do consórcio da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), declarou oficialmente a fome generalizada em Gaza, com centenas de milhares afetados.








