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Srebrenica: Após 30 anos do genocídio, hipocrisia do Ocidente causa indignação

Usuários das redes sociais traçaram paralelos entre o genocídio israelense em Gaza e o pior massacre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial

17 de julho de 2025, às 06h00

Famílias muçulmanas realizam preces durante funeral de sete vítimas do genocídio contra sua comunidade em Srebrenica, no 30º aniversário do massacre, no cemitério memorial de Potocari, na Bósnia e Herzegovina, em 11 de julho de 2025 [Samir Jordamovic/Agência Anadolu]

Sexta-feira, 11 de julho, foi marcado o 30º aniversário do genocídio de Srebrenica, quando forças sérvias na Bósnia assassinaram ao menos oito mil homens e meninos da comunidade islâmica do país, naquilo que se tornou conhecido como o pior massacre em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial.

Enquanto multidões se reuniam na cidade de Srebrenica para manifestar seu luto e honra aos mortos de 1995, milhares de pessoas tomaram as redes sociais para compartilhar tributos às vítimas e refletir sobre o genocídio. 

“Trinta anos — mas outros trezentos, e trezentos mais, jamais bastariam para lavar a vergonha de matar crianças”, escreveu a cientista política Jasmin Mujanović. “O genocídio de Srebrenica é o apogeu dos horrores de um genocídio, ainda maior, vivenciado pelos muçulmanos da Bósnia e Herzegovina. Lembrem-se — e se eduquem. Hoje — e amanhã”.

Um usuário online reiterou: “Trinta anos desde o genocídio. Que jamais nos esqueçamos, que suas pegadas sobre a terra, seus traços não se desvaneçam a um esquecimento sem sentido. Que todos recordem!”

Nas redes sociais, inúmeras contas refletiram sobre o aniversário do massacre à luz da agressão israelense em curso contra a Faixa de Gaza — classificada por organizações como Anistia Internacional, Médicos Sem Fronteiras e dezenas de outras, além de acadêmicos e especialistas das Nações Unidas como genocídio.

“Ontem, Srebrenica. Hoje, Gaza. E amanhã?”, questionou um pesquisador bósnio.

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Outro usuário disse: “Recordar o genocídio de Srebrenica em tempos de genocídio é algo que nos abala como nenhuma outra coisa. Por que nos lembramos se o presente tanto exige que nos esqueçamos?”

‘Hipocrisia vil’

À medida que líderes da comunidade internacional somavam seus comentários próprios sobre o 30º aniversário do genocídio do povo bósnio, em Srebrenica, usuários e ativistas nas redes sociais não hesitaram em denunciar as declarações como “hipócritas”, ao ressaltarem o negacionismo ecoado por políticos e oficiais sobre o mesmo crime conduzido por Israel contra o povo palestino. 

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, lembrou das vítimas e prometeu dobrar seus esforços para “combater o ódio e a intolerância onde quer que existam”. Na plataforma de rede social X (Twitter), um usuário respondeu, ao acusar Starmer de “celebrar a data ao permitir, encobrir e se recusar a objetar, muito menos interromper, outro genocídio monstruoso na Faixa de Gaza”.

“Starmer, corretamente, marcou o aniversário do massacre de Srebrenica”, comentou outro usuário. “Mas isto é hipocrisia — uma hipocrisia vil — de um governo que participa ativamente de um genocídio em curso no Oriente Médio”.

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Ao retrucar a mensagem do Conselho Europeu sobre Srebrenica, reafirmou em outra postagem: “Lembrar-se deveria também significar parar o genocídio cometido hoje, em Gaza — e isso vocês não fizeram”.

Uma resposta em particular, à missão da Alemanha nas Nações Unidas, advertiu: “Não precisamos que aqueles que enviam armas ao genocídio em Gaza demonstrem ou finjam solidariedade por Srebrenica, na Bósnia”.

A Alemanha — Estado responsável pelo Holocausto nazista, o último genocídio na Europa, antes de Srebrenica — permanece como um dos mais persistentes apoiadores de Israel, e um de seus maiores fornecedores de armas desde a deflagração da catástrofe em Gaza, em outubro de 2023.

“Não precisamos de sua hipocrisia suja”, concluiu um usuário. “Precisamos de líderes que façam valer a lei internacional e rejeitem a barbárie — em nome de um mundo melhor para todo mundo”.

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Artigo publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 11 de julho de 2025

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.