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O isolamento político dos prisioneiros palestinos

Palestinos protestam em frente ao Hospital Hadassah para manifestar apoio ao prisioneiro palestino Samer al-’Arbid, preso pelo Exército de Israel durante uma invasão à cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, na última semana. Jerusalém, 1° de outubro de 2019 [Faiz Abu Rmeleh/Agência Anadolu]

Antes da luta anticolonial palestina se fragmentar pelas concessões a Israel e à comunidade internacional, prisioneiros palestinos eram considerados componente integral da luta por liberação. Após os Acordos de Oslo, Israel obteve a vantagem ao deter e aprisionar cidadãos palestinos, auxiliado pela coordenação de segurança da Autoridade Palestina (AP) com as forças de ocupação.

Naquele instante, a Autoridade Palestina descartou a alternativa e também abandonou os prisioneiros palestinos, isolando-os tanto política quanto fisicamente. Dada a cumplicidade entre Israel e a AP a fim de preservar um fornecimento perpétuo de palestinos para que seus direitos humanos sejam reiteradamente violados, nada disso é uma surpresa. Afinal, a própria Autoridade Palestina tortura prisioneiros palestinos, então por que deveria se opor às mesmas práticas de Israel? Além disso, com qual objetivo a Autoridade Palestina desviaria a atenção de suas eternas ilusões por um estado próprio ao contrapor o que foi estabelecido pelos Acordos de Oslo, os marginalizaram os prisioneiros palestinos ao ponto de quase romper plenamente sua relação com a resistência e o povo palestinos?

Fora um breve apelo para que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) permita a visita de uma equipe médica ao prisioneiro palestino Samer Arabeed, a Autoridade Palestina manteve-se em silêncio sobre o escândalo iminente de sua situação, apesar de protestos realizados por cidadãos palestinos.

Segundo o Clube de Prisioneiros Palestinos, 73 prisioneiros palestinos morreram como resultado de tortura executada em prisões israelenses desde 1967. Enquanto Israel obtinha justificativa legal para realizar torturas de suas cortes domésticas, a Autoridade Palestina alternava entre declarações fracas, silêncio absoluto ou mesmo exploração dos prisioneiros palestinos. Vale questionar: os prisioneiros palestinos nas prisões israelenses tornaram-se uma commodity a ser explorada pela Autoridade Palestina conforme sua agenda política?

A vida dos prisioneiros palestinos nas cadeias de Israel – cartum [Al-Arabya]

Em 2016, a Associação de Direitos Humanos e Apoio aos Prisioneiros Palestinos Addameer publicou um relatório que discutia a exploração econômica dos prisioneiros palestinos. O documento descreveu tal exploração da seguinte forma: “Assim como os Acordos de Oslo tornaram a sociedade palestina responsável por garantir a segurança do ocupante, a integração da AP ao sistema prisional de Israel tornou a sociedade palestina responsável por facilitar o aprisionamento daqueles que resistem à ocupação e à colonização das terras palestinas.”

O caso de Samer Arabeed chegou às manchetes devido à tortura; ainda assim, não foi suficiente para chamar atenção para outros exemplos flagrantes de abusos de direitos humanos executados sistematicamente pelo Estado de Israel. Prisioneiros palestinos torturados, alguns dos quais mortos como resultado, são prova das piores ramificações possíveis infligidas a um segmento da sociedade palestina que é sempre preterido politicamente.

O compromisso da Autoridade Palestina em pagar ordenados a prisioneiros palestinos e suas famílias é uma forma de exclusão política que se tornou conveniente no que se refere a estabelecer um suposto dever com o governo. Entretanto, quando esses mesmos prisioneiros estavam na vanguarda da luta, a sociedade palestina se unia em torno dos mesmos objetivos políticos. O que fez de fato a Autoridade Palestina foi dissolver esta unidade na luta palestina, assim como desprestigiar o papel dos prisioneiros palestinos – evidentemente, ao ponto que interessa à sua agenda. Em termos de apoio político, a AP concede nada, absolutamente cautelosa para diferenciar suas críticas a casos ocorridos nas prisões israelenses e em suas próprias prisões, em particular no que se refere às denúncias de abusos de direitos humanos.

Aprisionar e torturar prisioneiros palestinos é uma demonstração política dos poderes de Israel. A Autoridade Palestina, por outro lado, consente efetivamente ao neutralizar a importância dos prisioneiros palestinos na luta pela liberdade de todo o povo palestino.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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