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Irã boicotará sorteio da Copa do Mundo após os EUA negarem vistos para a maioria da delegação

Torcedores acusam os EUA de hipocrisia, dizendo que Israel, que matou dezenas de jogadores de futebol palestinos, deveria ser banido

9 de dezembro de 2025, às 12h22

Gianni Infantino, presidente da Fifa, durante 73° Congresso da entidade em Quigali, Ruanda, em 16 de março de 2023 [Cyril Ndegeya/Agência Anadolu]

A federação de futebol do Irã boicotará o sorteio da Copa do Mundo de 2026 na próxima semana, em Washington, D.C., depois que os EUA se recusaram a emitir vistos para a maioria de sua delegação, informou a federação nesta sexta-feira.

“A delegação iraniana não estará presente no sorteio da Copa do Mundo em função da situação atual da emissão de vistos para que a delegação iraniana possa participar da cerimônia”, disse o porta-voz da federação, Amir Mehdi Alavi, nesta sexta-feira, citado pelo site de notícias esportivas iraniano Tarafdari.

“Considerando que as decisões tomadas são antidesportivas e que o caminho se desviou do processo esportivo, foi decidido que a delegação iraniana não participará da cerimônia do sorteio”, disse Alavi.

Alavi afirmou que os EUA concederam ao Irã apenas quatro vistos para o sorteio, incluindo o do técnico Amir Ghalenoei, mas não concederam visto ao presidente da federação, Mehdi Taj.

Taj, falando na quinta-feira, condenou a medida e insistiu que ela foi motivada politicamente.

“Dissemos ao presidente da Fifa, Sr. [Gianni] Infantino, que se trata de uma posição puramente política e que a Fifa deve dizer a eles [os EUA] para desistirem desse comportamento”, disse ele à televisão estatal.

O Irã garantiu a classificação para o torneio em março, selando sua quarta participação consecutiva na Copa do Mundo e a sétima no geral.

A decisão provocou uma reação imediata online, com torcedores argumentando que os EUA, como coanfitriões da Copa do Mundo de 2026, têm a obrigação de garantir o acesso a todas as associações membros.

Muitos acusaram os EUA de minar a antiga afirmação da Fifa de que a política não deve interferir no futebol.

As reações online se ampliaram rapidamente. Uma onda de publicações apontou que, enquanto autoridades iranianas têm seus vistos negados, Israel continua participando de competições internacionais de futebol, apesar de ter assassinado dezenas de jogadores, jovens atletas e dirigentes palestinos nos últimos dois anos, incluindo o jogador Suleiman al-Obeid, conhecido como o “Pelé palestino”.

Alguns usuários afirmaram que, se alguma federação devesse sofrer restrições, sanções ou exclusão por violações fora de campo, essa federação deveria ser Israel, e não o Irã.

Muitos internautas observaram que, em junho, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma proibição de viagens contra 12 países, uma medida que ele descreveu como essencial para “proteger a segurança nacional e os interesses nacionais dos Estados Unidos e de seu povo”.

A lista incluía a proibição de entrada de cidadãos do Haiti, entre outros países.

O governo anunciou posteriormente que não concederia exceções especiais para torcedores haitianos que desejassem viajar aos EUA para acompanhar sua seleção na Copa do Mundo da FIFA do ano que vem, após o país se classificar para o torneio pela primeira vez desde 1974.

A Copa do Mundo de 2026 – a primeira edição com 48 seleções – será sediada nos EUA, Canadá e México.

Irã e EUA compartilham uma das rivalidades mais emblemáticas da Copa do Mundo, incluindo a vitória do Irã por 2 a 1 em 1998 e a vitória dos EUA por 1 a 0 em 2022.

A FIFA não comentou publicamente sobre a recusa de vistos para dirigentes iranianos, mas autoridades iranianas afirmam esperar que a entidade máxima do futebol se mobilize com os EUA nos próximos dias. Para muitos torcedores, no entanto, a controvérsia já ofuscou a expectativa para o sorteio, marcado para 5 de dezembro em Washington.

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Os EUA e o Irã são adversários há mais de quatro décadas, com tensões que moldam praticamente todos os aspectos de sua relação diplomática e política.

Apesar disso, os dois governos estavam envolvidos em negociações nucleares de alto nível, iniciadas em abril, um processo marcado por profundos desacordos sobre o direito do Irã de enriquecer urânio, um direito que Teerã insiste ser “inalienável”.

Essas negociações fracassaram em meados de junho, quando Israel realizou uma campanha de bombardeio sem precedentes em território iraniano, desencadeando um conflito de 12 dias. Os EUA entraram brevemente no conflito com ataques direcionados à infraestrutura nuclear iraniana crítica, interrompendo abruptamente as negociações, que já eram frágeis.

Publicado originalmente em inglês no Middle East Eye em 28 November 2025