Quem tem medo de Naledi Pandor? Sionismo, Império e o visto revogado em pânico

Junaid S. Ahmad
2 semanas ago

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A ministra sul-africana das Relações Internacionais e Cooperação, Naledi Pandor, participa de um evento organizado pelo Congresso Nacional Africano (ANC) em solidariedade aos palestinos, no bairro de Lenasia, em Joanesburgo, África do Sul, em 6 de março de 2024 [Murat Özgür Güvendik/Anadolu Agency]

Há ocasiões em que o poder estatal revela suas inseguranças com uma transparência constrangedora. A revogação do visto da sul-africana Naledi Pandor pelos Estados Unidos — sem motivo, sem processo e sem sequer a cortesia da sutileza burocrática — é um desses momentos. Não se trata de um procedimento administrativo. É um sintoma. Um tremor de ansiedade percorrendo um império confrontado por uma mulher cuja autoridade não se fundamenta na força, mas na clareza moral.

Pandor, ex-ministra das Relações Internacionais, acadêmica de renome e uma das vozes mais respeitadas na luta global pela libertação da Palestina, dificilmente é o tipo de figura cujos movimentos precisam ser policiados. Ela não comanda milícias, não incita insurreições e não ameaça fronteiras. Sua influência deriva de algo muito mais subversivo: coerência, princípios e a audácia de insistir que o direito internacional deve ser aplicado universalmente, e não seletivamente.

Sua principal “ofensa”, é claro, foi a decisão da África do Sul — sob sua liderança — de levar um caso de genocídio contra Israel ao Tribuna Internacional de Justiça. Foi uma ação que abalou a estrutura da impunidade, interrompendo uma suposição de décadas de que os Estados apoiados pelo Ocidente permanecem imunes aos mais altos mecanismos judiciais do mundo. O caso no TIJ galvanizou o Sul Global e enfureceu aqueles que investem na proteção de Israel contra a responsabilização. Uma vez que a África do Sul quebrou o tabu, o diálogo global mudou, e Pandor se tornou tanto símbolo quanto estrategista dessa recalibração.

Nesse contexto, a revogação do visto não se apresenta como um gesto isolado, mas como parte de um padrão retaliatório mais amplo. Das bizarras fantasias políticas americanas de um “genocídio branco” na África do Sul, ao tratamento vil dado ao presidente sul-africano durante uma visita oficial, à recusa em receber seu embaixador — cada episódio sinaliza uma atitude punitiva em relação a um país que ousou desafiar as prerrogativas imperiais.

A perseguição a Pandor não é mera manobra administrativa. Trata-se de um esforço deliberado para punir uma diplomata do Sul Global que se recusou a se curvar diante do poder.

A ameaça que ela representa

O que, então, torna Pandor uma ameaça tão grande ao poder americano?

Não é apenas sua crítica a Israel. Isso por si só, embora provocativo para alguns, não teria desencadeado tal reação. A ameaça mais profunda reside em sua recusa em compartimentalizar as injustiças globais e em sua capacidade de narrar a opressão como um fenômeno estrutural e interconectado, em vez de uma série de eventos isolados.

Em sua visita mais recente aos EUA, cidade após cidade, Pandor falou com clareza penetrante sobre como a lógica da dominação em Gaza espelha formas de dominação em outros lugares. Sua crítica foi global, mapeando relações de poder que se estendem do Oriente Médio à África e ao Sul da Ásia. É aqui que Washington se sente desconfortável: quando os oprimidos começam a ver suas lutas como compartilhadas e quando vozes como a de Pandor ajudam a articular a arquitetura do império.

Nesse contexto, suas observações sobre o Paquistão — nunca sensacionalistas, sempre ponderadas — serviram para iluminar essa análise mais ampla. Ela observou, muitas vezes indiretamente, mas inequivocamente, a trágica complacência da atual ordem militar-civil em Islamabad aos interesses imperiais e sionistas. E o fez de uma maneira que ressoou fortemente com o público paquistanês-americano, muitos dos quais compreendem muito bem a repressão à dissidência em sua terra natal.

Em diversas ocasiões, Pandor aludiu à situação difícil de uma figura política — amplamente conhecida, admirada e punida — cuja busca por justiça a tornou intolerável para o establishment paquistanês. Ela não precisava mencionar seu nome para que o público entendesse a referência; a situação no Paquistão é agora tão gritante, tão carregada de injustiça, que mesmo um reconhecimento indireto carrega um peso enorme.

Seus comentários tocaram profundamente o público porque refletiam uma verdade mais ampla: a de que a opressão não respeita fronteiras e que regimes alinhados ao império frequentemente adotam os métodos do império. A crítica de Pandor não era direcionada a personalidades, mas nas estruturas — na maquinaria da dominação que sacrifica a justiça aos apetites do poder global.

O medo do império e o visto que o traiu

Isto é o que o império não tolera: clareza de análise, amplitude de visão moral e a capacidade de iluminar conexões entre continentes. Uma figura como Pandor não pode circular livremente nos Estados Unidos, porque sua presença tem potencial catalisador. Ela reformula debates. Ela humaniza as vítimas. Ela fala a linguagem do direito, e não a linguagem da propaganda. E ela expõe a hipocrisia de invocar os direitos humanos seletivamente enquanto os viola sistematicamente.

Ao revogar seu visto, Washington tentou impor um limite à sua influência. No entanto, a tentativa apenas atraiu mais atenção para seu trabalho e para as ansiedades que motivaram esse pequeno ato de represália.

A mensagem é inconfundível: o império mais poderoso do mundo teme uma mulher cujas únicas armas são a verdade e a integridade. E esse medo, ironicamente, amplifica sua autoridade.

O momento e o movimento

Pandor não precisa ser resgatada. Sua legitimidade repousa sobre fundamentos muito mais sólidos do que qualquer visto. Se ela voltar a pisar nos Estados Unidos é irrelevante para sua estatura global. Sua influência já é transnacional, já é abrangente, já está entrelaçada no tecido moral das lutas contemporâneas por libertação.

Mas o tratamento que recebe dos Estados Unidos importa por uma razão diferente: revela os limites que o império tenta impor à dissidência e até onde ele está disposto a ir para punir aqueles que desafiam sua narrativa preferida. Nesse sentido, defender Pandor não é uma obrigação pessoal; é uma obrigação política. É uma recusa em normalizar a retaliação disfarçada de procedimento.

Portanto, levemos três verdades adiante:

Primeiro, a Naledi Pandor continua sendo uma das bússolas morais mais claras da política global.

Segundo, sua análise da opressão — seja em Gaza, no Congo ou em Islamabad — continua sendo indispensável. Em terceiro lugar, a revogação do seu visto não reflete a sua fraqueza, mas sim o medo do império.

A verdadeira questão agora não é quem teme aPandor. Já sabemos a resposta. A verdadeira questão — aquela que determina o futuro da solidariedade — é: Quem entre nós está preparado para deixar de temer o império que a teme?

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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