Um tribunal em Dhaka condenou na segunda-feira a ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, à morte, considerando-a culpada de crimes contra a humanidade cometidos durante as manifestações em massa do ano passado contra seu governo, segundo a Anadolu.
Sob forte esquema de segurança, o Tribunal Penal Internacional, com sede em Dhaka, proferiu a sentença à revelia, já que Hasina permanece na Índia.
Hasina cometeu crimes contra a humanidade, afirmou o tribunal na sentença, acrescentando que ela era a “comandante suprema de todas as atrocidades”.
“Os crimes aconteceram com o seu pleno conhecimento (de Sheikh Hasina)”, leu o tribunal de três membros, liderado pelo juiz Md Golam Mortuza Mozumder, na sentença de 453 páginas.
“Todas as condições para caracterizar um caso de crimes contra a humanidade foram comprovadas” no caso de Hasina, afirmou o tribunal.
Entre os condenados à morte está o ex-ministro do Interior, Asaduzzaman Khan Kamal, que também está na Índia, segundo o Ministério das Relações Exteriores de Bangladesh.
Hasina e seus assessores podem recorrer pessoalmente perante o Supremo Tribunal Federal nos próximos 30 dias.
Propriedades confiscadas
Hasina fugiu para a Índia em 5 de agosto do ano passado, no auge de uma onda de protestos contra seu governo, que resultou na morte de mais de 1.400 pessoas.
Posteriormente, o governo interino apresentou cinco acusações, incluindo crimes contra a humanidade, contra Hasina e seus assessores.
O levante estudantil em massa do ano passado depôs o governo da Liga Awami de Hasina, que governava a nação do sul da Ásia há mais de 15 anos.
O tribunal também ordenou a confiscação de todos os bens pertencentes a Hasina e ao ex-ministro do Interior, Kamal.
O ex-chefe de polícia, Chowdhury Abdullah Al-Mamun, foi condenado a cinco anos de prisão por ter “se tornado delator no caso ao admitir seu envolvimento”.
“A justiça e o veredicto foram apresentados como um processo transparente, e qualquer pessoa no mundo pode vir e verificar”, disse o procurador-chefe Mohammad Tajul Islam a repórteres no tribunal.
Islam afirmou que as vítimas do levante do ano passado receberão indenização proveniente dos bens de Hasina e Kamal.
Sobre como a sentença será implementada enquanto Hasina permanece na Índia, Islam disse que o governo “pode utilizar o tratado de extradição com a Índia e executar a pena ou pode recorrer à Interpol para trazer Hasina para Bangladesh”.
Mir Snigdho, irmão gêmeo de Mir Mugdho, um dos coordenadores da revolta de julho do ano passado e morto durante as manifestações, também estava presente no tribunal quando a sentença foi proferida.
Ele disse a repórteres que as famílias das vítimas “só ficarão satisfeitas depois que Hasina for trazida de volta para casa, vinda da Índia, e a sentença for executada”.
Daca insta Nova Déli a entregar Hasina e Kamal
O Ministério das Relações Exteriores de Bangladesh instou, na segunda-feira, a Índia a devolver Hasina e Kamal ao seu país de origem.
“Seria um grave ato de hostilidade e uma farsa da justiça se qualquer outro país concedesse asilo a esses indivíduos condenados por crimes contra a humanidade”, afirmou o ministério em um comunicado após a sentença do tribunal.
“Esta também é uma obrigação da Índia, nos termos do tratado de extradição existente entre os dois países”, acrescentou.
Enquanto isso, o Ministério das Relações Exteriores da Índia afirmou, em comunicado, que “tomou conhecimento da sentença” contra Hasina.
“Como vizinha próxima, a Índia permanece comprometida com os melhores interesses do povo de Bangladesh, incluindo a paz, a democracia, a inclusão e a estabilidade naquele país. Sempre nos engajaremos construtivamente com todas as partes interessadas para esse fim”, acrescentou.
Em outra nota, o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP) e o Jamaat-e-Islami de Bangladesh comemoraram a sentença de morte contra Hasina.
“A justiça foi feita. Esta sentença é um marco. Embora esta sentença não seja suficiente considerando os crimes (de Sheikh Hasina), este veredicto servirá de exemplo para que nenhum governo se torne fascista no futuro”, disse Salahuddin Ahmed, membro do comitê permanente do BNP, a repórteres em Dhaka.
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![A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, no palácio presidencial da Índia em Nova Delhi, Índia, em 6 de setembro de 2022 [Imtiyaz Khan/Anadolu Agency]](https://www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/11/AA-20220906-28822461-28822457-NARENDRA_MODI_SHEIKH_HASINA_MEETING_IN_NEW_DELHI.webp)