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Israel paga a influenciadores até US$ 7.000 por publicação para ocupar o espaço da informação

5 de outubro de 2025, às 00h05

Nesta ilustração fotográfica, os logotipos dos aplicativos de mídia social “TikTok, Twitter, Instagram, YouTube, Facebook, Pinterest, Snapchat, LinkedIn, Twitch” são exibidos na tela de um smartphone em Ancara, Turquia, em 30 de setembro de 2021. [Ali Balıkçı/ Agência Anadolu]

À medida que a opinião pública global se volta decisivamente contra a campanha genocida de Israel em Gaza, o estado ocupante intensifica os esforços para dominar o espaço da informação por meio de uma rede de influenciadores pagos, manipulação de algoritmos, enquadramento de conteúdo por IA e parcerias secretas com a mídia. Revelações recentes de documentos arquivados sob a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros dos EUA expõem uma ampla campanha de propaganda israelense projetada para distorcer o discurso público, especialmente entre o público mais jovem, e desviar as crescentes acusações de genocídio.

No centro desta campanha está uma operação secreta de influência, exposta em documentos arquivados sob a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros dos EUA. O Ministério das Relações Exteriores de Israel, por meio de sua contratada Bridges Partners, teria pago até US$ 7.000 por postagem para influenciadores publicarem conteúdo pró-Israel em plataformas como TikTok e Instagram.

De acordo com a Responsible Statecraft, a “Campanha de Influenciadores” foi orçada em US$ 900.000 para cobrir de 75 a 90 postagens entre junho e setembro de 2024. O conteúdo está sendo produzido sob uma iniciativa chamada “Projeto Esther”.

O nome se assemelha a uma iniciativa separada do think tank de direita americano Heritage Foundation, que lançou seu próprio “Projeto Esther” em outubro de 2024. A campanha Heritage visa identificar e combater o que descreve como retórica “antissemita” nos campi universitários americanos e no discurso público — um esforço que, segundo os críticos, equipara críticas legítimas a Israel ao apoio ao terrorismo.

De acordo com a Responsible Statecraft, embora os dois projetos não estejam oficialmente conectados, eles parecem compartilhar objetivos ideológicos: confundir a solidariedade palestina e as críticas a Israel com extremismo, a fim de deslegitimar a dissidência.

A estratégia mais ampla envolve não apenas a disseminação de conteúdo pró-Israel, mas também esforços diretos para alterar a arquitetura das próprias plataformas de informação.

Um contrato de US$ 6 milhões foi concedido pelo governo israelense a uma empresa chamada Clock Tower X LLC, cuja liderança inclui Brad Parscale, ex-gerente de campanha de Donald Trump. O contrato se concentra na disseminação de mensagens pró-Israel para o público da Geração Z no TikTok, Instagram, YouTube e outras plataformas. A empresa pretende atingir pelo menos 50 milhões de impressões por mês.

Significativamente, o contrato da Clock Tower inclui esforços para influenciar como ferramentas de inteligência artificial — como o ChatGPT — respondem a perguntas sobre Israel e a Palestina. A empresa planeja lançar uma rede de sites pró-Israel e preenchê-los com conteúdo projetado para moldar a forma como os modelos de IA “enquadram” determinados tópicos. Como ferramentas como o ChatGPT aprendem a partir de grandes quantidades de texto disponível publicamente na internet, inundar a web com narrativas específicas pode alterar a forma como esses modelos respondem a perguntas delicadas.

Em termos práticos, isso significa que, se alguém fizer uma pergunta ao ChatGPT sobre as políticas israelenses ou a situação em Gaza, a IA pode ter maior probabilidade de ecoar pontos de discussão pró-Israel — não porque sejam factualmente corretos, mas porque a internet foi estrategicamente semeada com essa perspectiva.

A Clock Tower também está usando softwares avançados como o MarketBrew AI — uma ferramenta projetada para fazer engenharia reversa de algoritmos de mecanismos de busca — para garantir que narrativas pró-Israel apareçam em posições mais altas nos resultados de busca do Google e do Bing. Essa abordagem, conhecida como otimização preditiva para mecanismos de busca (SEO), ajuda a empurrar perspectivas críticas ou dissidentes para posições mais baixas no ranking, tornando-as menos visíveis para o leitor médio.

Em uma ação relacionada, espera-se que o cofundador da Oracle, Larry Ellison — supostamente o maior doador privado para as forças armadas israelenses — desempenhe um papel importante na aquisição do TikTok. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apoiou publicamente a proposta, afirmando que ela “poderia ter consequências”.

Toda a operação ocorre em um momento em que Israel enfrenta crescente condenação internacional por sua campanha militar em Gaza, que já matou mais de 68.000 palestinos — a maioria mulheres e crianças — desde outubro de 2023. Pesquisas recentes mostram que apenas 9% dos americanos com idade entre 18 e 34 anos apoiam as ações de Israel, com a opinião pública em geral também mudando.

Em declarações a influenciadores israelenses na semana passada, Netanyahu reconheceu que o espaço digital é agora “a frente mais importante” nos esforços de Israel para justificar sua guerra. “Não se pode lutar hoje com espadas, isso não funciona muito bem”, disse ele. “As [armas] mais importantes são as mídias sociais.”