Na segunda-feira, 29 de setembro de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou um teatral “plano de paz” de 20 pontos, para encerrar a guerra na Faixa de Gaza. Um plano que pode ser considerado sionista em primeiro lugar, e hostil aos direitos palestinos, sem exceção, porque foi escrito pelas mãos de Trump e Netanyahu, simbolizando o enterro silencioso da solução de dois estados, fortalecendo o controle israelense e voltado aos empreendimentos imobiliários de Trump.
Em vez de abrir caminho para uma negociação séria, a proposta oferece um roteiro que exige a entrega política e militar de Gaza como condição para uma trégua. A proposta prevê, entre outros pontos, a desmilitarização total da Faixa de Gaza, a entrega imediata de todos os prisioneiros israelenses num prazo curtíssimo (72 horas após um cessar-fogo acordado),
E atribui papel decisório a atores estrangeiros e condiciona qualquer avanço à renúncia às demandas fundamentais do povo palestino, através da criação de um conselho de gestão chefiado pelo criminoso de guerra e um dos políticos mais corruptos do Ocidente, Tony Blair, e pelo genro especulador de Trump, que teve a ideia de transformar Gaza numa Riviera, Jared Kushner, com papel central de supervisão da retirada israelense e da reconstrução das cidades da Faixa de Gaza.
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Além disso, o plano barra explicitamente a participação política do Hamas e das demais forças da resistência palestina, condicionando os passos subsequentes a reformas e garantias externas.
A comunidade internacional que se diz preocupada com direitos humanos deveria perguntar-se: essa “paz” é baseada em quais condições? E, sobretudo, quem tem autoridade moral para impor a “israel” o cumprimento dos termos do acordo?
Na prática, Trump coloca os partidos da resistência palestina diante de duas escolhas: ou aceitam entregar Gaza para seus projetos imobiliários e desistem do sonho de um estado palestino, ou “israel” continuará recebendo armas, dinheiro e apoio para continuar com o genocídio!
Isso não é reconstrução: é tutela. Não é justiça: é impunidade para o genocídio israelense. Exigir o desarmamento da Resistência sem responsabilizar “israel” pelos massacres com mais de 327 mil mortos, segundo a revista científica The Lancet, e pela destruição da Faixa de Gaza, com todas as cidades reduzidas a escombros, é pedir que as vítimas entreguem a própria defesa em troca de promessas vazias.
O plano foi anunciado sem consulta prévia aos principais atores palestinos e sequer foi entregue por escrito ao Hamas no momento do anúncio. Esse método de anunciar uma solução pronta e dar prazo para aceitação sob ameaça de continuação da guerra, transforma a “oferta de paz” numa ferramenta de pressão e não num convite à negociação.
Líderes palestinos qualificaram o plano como documento de rendição. O dirigente do Hamas, Mahmoud Mardawi, chamou suas cláusulas de vagas e sem garantias; Ziyad al-Nakhalah, da Jihad Islâmica, o definiu como fórmula para perpetuar a agressão; Abbas Zaki, do Fatah, advertiu que apoios árabes ao plano de Trump/Netanyahu, servem só para isolar Gaza e apagar a causa palestina.
O essencial é político. Quem busca justiça e soberania sabe que um cessar-fogo legítimo exige, no mínimo: cessação imediata das hostilidades com garantias verificáveis; supervisão internacional imparcial; liberação humana e digna de prisioneiros e cadáveres; responsabilização por crimes de guerra; participação plena dos representantes eleitos ou legítimos da população; e um calendário claro para a autodeterminação.
Qualquer plano que não inclua as forças da Resistência Palestina, omita ou postergue esses elementos está condenado a ser percebido como uma tentativa de liquidar a causa palestina sob a aparência de paz.
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![O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 7 de setembro de 2025 em Washington, DC, Estados Unidos. [Yasin Öztürk/ Agência Anadolu]](https://www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/10/AA-20250907-39048965-39048956-US_PRESIDENT_DONALD_TRUMP_DEPARTS_FOR_WHITE_HOUSE_TO_NEW_YORK.webp)