O Supremo Líder iraniano, aiatolá Ali Khamenei, descartou categoricamente negociações com os Estados Unidos sobre o programa nuclear do país.
Em pronunciamento à televisão, nesta terça-feira (23), Khamenei objetou a pressão posta pelo governo do presidente Donald Trump, como “bullying” e ataque à soberania iraniano, incluindo direito de desenvolvimento nuclear para fins pacíficos.
“Jamais nos rendemos e jamais nos renderemos”, disse Khamenei.
Para o aiatolá, retomar conversas nas condições presentes infringiria “danos irreparáveis” e sinalizaria “rendição e vergonha” a um país sob sítio: “Os Estados Unidos anunciaram o resultado de antemão: fim das atividades. Não é negociação; é ditame, é imposição”.
Seus comentários parecem rematar o debate sobre a restituição de sanções das Nações Unidas, sob o Plano de Ação Conjunta de 2015 — ou acordo nuclear — após Reino Unido, França e Alemanha ativarem um ultimato de 30 dias.
Oficiais europeus tentam levar Teerã à mesa com Washington, ao insistir em colaboração com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Conversas pareciam encontrar um caminho, mas foram sabotadas por ataques de Israel a Teerã e outras cidades, sucedidos, doze dias depois, por bombardeios americanos a sítios nucleares, em meados de setembro.
O Irã reitera que seu programa nuclear tem fins civis, incluindo energia, e nega ambições armadas. Os ataques, contudo, reacenderam debates internos por sobrevivência, frente a ameaças de Israel, potência nuclear não-signatária da AIEA.
Teerã segue firme em exigir garantias de Washington de que não sofrerá ataques em meio às negociações, além de seu direito de enriquecimento de urânio. Oficiais americanos, no entanto, rejeitam as condições.
Para Khamenei, a desilusão com o pacto de 2015, rescindido três anos depois no primeiro mandato de Trump, é uma “lição de má fé”, após o cumprimento dos termos por seu país. “Nos provou que não podemos confiar na América”, observou.
Em seu discurso na 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça (23), Trump se vangloriou dos ataques ao Irã, ao rotular o país como “patrocinador número um do terrorismo no mundo”.
Masoud Pezeshkian, presidente do Irã, reagiu: “Não é possível dialogar com interlocutores que buscam impor, intimidar, sabotar e agir com malícia”.
Ainda nesta semana, em Nova York, os ministros de Relações Exteriores do Reino Unido, França e Alemanha devem se reunir com seu colega iraniano Abbas Araghchi, ao analisar prospectos de evitar as sanções.
Berlim, porém, pediu “medidas práticas nos próximos dias, senão horas”.
Teerã, em contrapartida, acusou os três países de violar seus próprios compromissos, ao rechaçar sua autoridade legal em retomar restrições.
Recentemente, o Conselho de Segurança votou contra estender a isenção de sanções, ao reforçar a perspectiva iraniana de animosidade do sistema internacional.
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