A influência das nações nem sempre é determinada pelo tamanho ou pela população, mas por sua capacidade de tomar decisões com repercussão internacional. O Paraguai, um pequeno estado da América do Sul com cerca de sete milhões de habitantes, viu-se inesperadamente envolvido na política do Oriente Médio. Ao longo da última década, o Paraguai oscilou entre o reconhecimento da Palestina em 2011, a transferência de sua embaixada para Jerusalém, a posterior reversão da decisão e o seu restabelecimento em 2024.
Essa inconsistência decorre de mudanças de governo, disputas partidárias, pressão dos Estados Unidos e de Israel e preocupações econômicas relacionadas a energia e comércio. Enquanto isso, a comunidade palestina do Paraguai, embora limitada em número e recursos, continua a defender posições mais alinhadas ao direito internacional e aos direitos palestinos.
Contexto histórico e desenvolvimentos recentes
O Paraguai tem uma história moldada por grandes conflitos, principalmente a Guerra da Tríplice Aliança no século XIX, que deixou cicatrizes profundas em sua memória nacional. Hoje, enfrenta um desafio diferente: construir um peso diplomático além de seu tamanho, evitando, ao mesmo tempo, um desalinhamento dispendioso. O reconhecimento da Palestina em 2011, nas fronteiras de 1967, foi um passo ousado, parte de uma onda latino-americana mais ampla, mas nunca se transformou em uma política consistente. A mudança da embaixada para Jerusalém em 2018, seguida de reversão e, em seguida, restabelecimento em 2024, evidenciou essa oscilação.
A flutuação atingiu o pico em 12 de setembro de 2025, quando o Paraguai votou contra uma resolução da Assembleia Geral da ONU que endossava a Declaração de Nova York sobre a implementação da solução de dois Estados. A votação destacou a vulnerabilidade dos compromissos simbólicos do Paraguai diante de mudanças políticas internas e da pressão de aliados poderosos.
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Raízes da oscilação: Política interna e pressões externas
A política externa do Paraguai está intimamente ligada a mudanças de governo. O presidente Horacio Cartes (2013-2018) aprofundou o alinhamento com Washington e Tel Aviv ao transferir a embaixada para Jerusalém. Seu sucessor, Mario Abdo Benítez, reverteu a decisão, buscando equilíbrio, enquanto Santiago Peña, eleito em 2023, a restaurou mais uma vez. Esse vaivém reflete como a competição partidária se traduz diretamente em mudanças na política externa.
Pressões externas também pesam bastante. Os Estados Unidos alavancam ajuda e alianças, enquanto Israel oferece segurança lucrativa e cooperação econômica, aproximando o Paraguai da órbita de Washington. Isso explica por que um país que reconheceu a Palestina pode, simultaneamente, votar contra resoluções pró-Palestina da ONU.
A comunidade palestina no Paraguai: limitada, mas simbólica
Comparada ao Chile ou ao Brasil, a diáspora palestina no Paraguai é pequena, mas sua importância é simbólica. Chegando em ondas migratórias desde meados do século XX, os palestinos trouxeram tradições culturais e sociais que permanecem visíveis. Essa história fornece a base para uma identidade coletiva, mesmo que seus recursos permaneçam limitados.
Hoje, suas atividades se concentram em advocacy cultural e humanitária — campanhas em mídias sociais, eventos culturais e arrecadação de fundos. Embora tais iniciativas aumentem a conscientização, elas não podem, por si só, contrabalançar as políticas oficiais moldadas por alianças internacionais. Ainda assim, a diáspora representa uma ponte essencial para manter a Palestina como parte do diálogo nacional do Paraguai.
Comércio como alavanca diplomática
O comércio é outra dimensão que molda a política externa do Paraguai. Embora o comércio com os países árabes seja modesto em comparação com o Brasil, ele inclui setores importantes: cosméticos e óleos essenciais dos Emirados Árabes Unidos, petróleo e vidro da Argélia, vestuário da Jordânia e plásticos da Tunísia. Esses vínculos proporcionam aos Estados árabes uma alavancagem potencial para incentivar posições paraguaias mais equilibradas.
O verdadeiro pivô, no entanto, é o Brasil. A Usina de Itaipu, que fornece quase toda a eletricidade do Paraguai e abastece grande parte do Brasil, é o exemplo mais claro de interdependência. O Brasil também é o principal parceiro comercial do Paraguai e o principal comprador de suas exportações agrícolas. Essa dependência estrutural torna a política externa paraguaia sensível à posição brasileira.
Se Brasília promover um discurso em defesa dos direitos palestinos, o Paraguai enfrenta pressão para evitar oposição direta, mesmo que não se alinhe totalmente. O Brasil, sem coerção, pode empurrar o Paraguai em direção à neutralidade ou à abstenção em votações internacionais por meio de uma combinação de incentivos econômicos, coordenação regional e sinalização diplomática.
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Recomendações
Fortalecer a solidariedade com a Palestina no Paraguai exige mais do que lobby em Nova York. Trata-se igualmente de reformular narrativas na sociedade paraguaia e alavancar alianças regionais.
Construção de narrativas: o desenvolvimento de uma mídia bilíngue (espanhol-árabe) que documente as histórias de famílias palestinas no Paraguai poderia inserir a Palestina na memória coletiva do país. Esse enraizamento cultural eleva a questão de uma preocupação estrangeira a parte da própria identidade nacional do Paraguai.
Parcerias com a sociedade civil: universidades, sindicatos e igrejas podem sediar eventos culturais e humanitários que destaquem a justiça e os direitos humanos, reformulando a Palestina como uma causa ética em vez de um debate político distante.
Pressão política inteligente: Em vez de esperar uma mudança drástica no Paraguai, os esforços devem visar a uma mudança na posição do Paraguai na ONU, passando de um voto contra a Palestina para, pelo menos, uma abstenção. Embora simbólica, a abstenção reduz os danos diplomáticos e sinaliza espaço para flexibilidade.
Engajamento regional: Parcerias com o Brasil e a Argentina no âmbito do Mercosul oferecem oportunidades para incentivar o Paraguai à moderação. Se seus principais parceiros adotarem um tom mais pró-Palestina, o Paraguai se sentirá pressionado a se alinhar, ou pelo menos a suavizar sua oposição.
Diplomacia humanitária: Iniciativas como comboios de ajuda médica e alimentar sob bandeiras paraguaias podem criar uma conexão emocional com a Palestina, desafiando o domínio das narrativas pró-Israel.
Conclusão
A experiência do Paraguai revela a luta de pequenos Estados para conciliar princípios com interesses. Seu reconhecimento da Palestina em 2011 foi ousado, mas inconsistente, como demonstrado posteriormente pelas decisões instáveis de suas embaixadas e seu voto na ONU em 2025 contra a solução de dois Estados. Essas contradições destacam como as pressões externas e a política interna criam compromissos frágeis.
No entanto, as oportunidades de influência permanecem. A diáspora palestina, embora pequena, sustenta a defesa cultural; os Estados árabes podem alavancar laços econômicos; e o Brasil, por meio da interdependência estrutural, pode silenciosamente conduzir o Paraguai à moderação. A sociedade civil e as alianças regionais amplificam ainda mais esses esforços, mostrando que a luta não se dá apenas nos corredores diplomáticos, mas também na formação de narrativas públicas.
Em suma, o Paraguai pode deixar de ser um Estado hesitante e se tornar uma voz firme e mais confiável no apoio à justiça e aos direitos do povo palestino, se esses elementos forem combinados com sabedoria e continuidade.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.
![O presidente do Paraguai, Santiago Peña (E), compartilha um momento descontraído com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante a cerimônia de reabertura da embaixada do Paraguai em Jerusalém, em 12 de dezembro de 2024. [Gil Cohen-magen/AFP via Getty Images]](https://www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/09/GettyImages-2188889515.webp)