Indonésia na Cúpula Árabe-Islâmica de 2025: Palavras firmes, mantra familiar

Muhammad Zulfikar Rakhmat
3 meses ago

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Vista geral do salão durante a Cúpula Extraordinária da Organização para a Cooperação Islâmica - Liga Árabe, em 15 de setembro de 2025, em Doha, Catar. [Presidência da TUR / Murat Kula - Agência Anadolu]

Quando o Ministro das Relações Exteriores da Indonésia, Sugiono, se levantou para discursar na cúpula de emergência árabe-islâmica em Doha, na semana passada, suas palavras foram contundentes, familiares — e estranhamente insatisfatórias. Representando o Presidente Prabowo Subianto, ele condenou o ataque aéreo israelense de 9 de setembro ao Catar como uma “grave violação do direito internacional” e “uma séria ameaça à paz regional e global”. Ele reafirmou a solidariedade inabalável da Indonésia com o Catar e a Palestina. E, mais uma vez, insistiu que “não poderia haver paz duradoura sem uma solução de dois Estados”.

Era a linguagem dos princípios. Era também a linguagem da estagnação.

A cúpula extraordinária da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) e da Liga Árabe — presidida pelo emir do Catar, Sheikh Tamim bin Hamad Al-Thani, e com a presença de líderes da Turquia, Irã, Arábia Saudita, Paquistão, Malásia e outros países — foi convocada em circunstâncias extraordinárias. Pela primeira vez em décadas, Israel atacou não Gaza ou o sul do Líbano, mas a própria Doha, visando autoridades do Hamas envolvidas em negociações de cessar-fogo. Embora o Hamas tenha confirmado seis mortes, incluindo um oficial de segurança do Catar, o dano simbólico pode ser ainda maior: Israel desafiou não apenas militantes palestinos, mas uma monarquia do Golfo há muito tempo posicionada como mediadora.

Nesse contexto, a Indonésia, a maior democracia de maioria muçulmana do mundo e membro fundador da OCI, buscou reafirmar seu lugar na vanguarda moral. Sugiono chamou o ataque de “consequência trágica de décadas de impunidade”. Ele exigiu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas agisse “com firmeza e urgência”. E ele traçou uma linha conectando a apatridia da Palestina com a “sobrevivência de nossas nações” e a “dignidade de nossos povos”.

Mas em Doha, a solidariedade foi a parte fácil. A substância foi mais difícil.

O comunicado de 25 pontos da cúpula “condenou firmemente” a agressão israelense, pediu a suspensão das transferências de armas e instou os Estados a “reverem as relações econômicas”. No entanto, por trás da retórica, uma realidade mais complexa era visível. A própria Indonésia ilustra o paradoxo. Oficialmente, não tem laços diplomáticos com Israel. Oficialmente, exige boicotes e responsabilização. No entanto, o comércio entre os dois países cresceu quase 19% nos primeiros sete meses de 2025, atingindo US$ 165,7 milhões, após um aumento de mais de 25% no ano anterior.

A contradição não é exclusiva da Indonésia. As capitais árabes e muçulmanas também estão presas entre a denúncia e a normalização, a indignação e o comércio tranquilo. Os Acordos de Abraham remodelaram os laços de Israel com o Golfo. A Arábia Saudita oscila entre o distanciamento e o engajamento. Até mesmo o Catar — vítima do ataque deste mês — continua abrigando líderes do Hamas e uma base aérea americana.

Nesse contexto, a insistência da Indonésia na solução de dois Estados parece mais um ritual do que um roteiro. Desde a década de 1990, sucessivos governos em Jacarta têm repetido o mesmo mantra: Jerusalém Oriental como capital, Palestina soberana, Israel ao lado. Sugiono repetiu o mesmo mantra em Doha: “O caminho para uma paz duradoura permanece inalterado”.

Mas o caminho, de fato, mudou. Em terra, os assentamentos na Cisjordânia se expandiram a ponto de se tornarem irreconhecíveis. Gaza, pulverizada por guerras recorrentes, é mais uma prisão a céu aberto do que um proto-Estado. Em Israel, a política se endureceu em uma rejeição permanente à soberania palestina. O horizonte diplomático de Oslo se desfez em pó.

Apegar-se à fórmula de dois Estados hoje é recitar um credo sem confrontar sua decadência.

Os líderes indonésios sabem disso. O presidente Prabowo, um ex-general com um olhar pragmático, visitou Doha e Abu Dhabi dias antes da cúpula, destacando a solidariedade e, ao mesmo tempo, buscando posicionar a Indonésia como um mediador confiável. Seu ministro das Relações Exteriores insinuou mecanismos de responsabilização e ação da ONU. No entanto, a retórica permanece limitada pela ortodoxia.

E se Jacarta ousasse dizer uma verdade mais dura? Que a velha fórmula está quebrada. Que palestinos e israelenses vivem em uma realidade de um Estado definido pela ocupação e desigualdade. Que novas estratégias — sejam modelos de confederação, abordagens baseadas em direitos ou pactos regionais de segurança — devem ser exploradas.

A Indonésia, sem bagagem colonial no Oriente Médio e com genuíno capital moral no mundo muçulmano, poderia se dar ao luxo de ser imaginativa. Poderia levar a OCI a pensar além de comunicados rotineiros. Poderia encorajar os Estados árabes a combinar suas condenações com políticas consistentes — sobre armas, comércio e diplomacia. E poderia ancorar sua própria credibilidade conciliando palavras com ações: alinhando suas práticas econômicas com suas posições políticas.

A Cúpula de Doha: Um gesto simbólico ou um apelo à mudança?

Em vez disso, em Doha, Jacarta buscou a segurança do ritual. Condenar Israel. Elogiar o Catar. Invocar a Palestina. Reafirmar a solução de dois Estados.

Isso não significa menosprezar a sinceridade da solidariedade da Indonésia. O ataque a Doha foi um ultraje, um ato de agressão à soberania e ao direito internacional. O sofrimento dos palestinos continua intolerável. Mas a solidariedade sem estratégia corre o risco de se tornar uma performance.

O Oriente Médio está mudando. Os equilíbrios de poder estão em fluxo. Velhas certezas estão desmoronando. Para que a Indonésia seja mais do que uma voz em coro, ela precisa romper com o roteiro. Isso significa reconhecer os limites do velho mantra e ousar imaginar como seria a paz quando a solução de dois Estados não for mais viável.

Como disse o Ministro das Relações Exteriores Sugiono em Doha, a questão é maior do que apenas a Palestina. Trata-se da dignidade dos povos e da santidade da lei. Honrar essa dignidade exige mais do que repetição. Exige novas ideias.

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