Gaza, Geração Z e o acerto de contas nas universidades

Yousef Ibrahim
3 meses ago

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Acampamento pró-Palestina na Universidade de Columbia, em Nova York, em 19 de abril de 2024 [Selçuk Acar/Agência Anadolu]

Em meios às sombras da devastação em Gaza, uma nova consciência política emerge — não em think tanks ou parlamentos, mas nos campi universitários. Em todos os Estados Unidos, alunos da chamada Geração Z organizam marchas e acampamentos, ocupam os prédios administrativos e reivindicam responsabilidade institucional pela cumplicidade com o genocídio. Não se trata de mera onda de protestos — mas sim um acerto de contas geracional.

Por décadas, a Palestina foi tratada como questão periférica no debate político americano — complicado demais, longe demais, perigoso abordar. Mas o genocídio em Gaza abalou a distância. As imagens de bairros em ruínas, valas comuns e crianças órfãs perfuraram o algoritmo. A Geração Z, criada nas redes sociais, testemunha de movimentos por justiça interseccionais, recusou-se, como seus pais e avós, a lavar as mãos.

Na Universidade de Columbia, estudantes montaram um acampamento de solidariedade a Gaza, ao exigir desinvestimento de empresas que lucram com as operações militares de Israel. Ações similares eclodiram em Harvard, Los Angeles e dezenas de instituições. Tais protestos tampouco são isolados, mas sim parte de um movimento nacional coordenado formado por coletivos como Students for Justice in Palestine (SJP), Jewish Voice for Peace (JVP), Palestine Youth Movement (PYM) e outras coalizações docentes e discentes.

A resposta foi rápida. Reitores suspenderam estudantes, ameaçaram ações disciplinares e chamaram a polícia. Oligarcas doadores retiraram fundos. Políticos difamaram jovens graduandos como “apoiadores de terroristas”. Ainda assim, os estudantes não recuaram, com uma mensagem clara: silêncio é cumplicidade.

O que distingue esse momento não é a escala dos protestos, mas sua clareza moral. Essa geração não pede por neutralidade, mas exige justiça. Cresceu com o Black Lives Matter, greves climáticas e batalhas por direitos reprodutivos. Reconhecem como interligados os sistemas de opressão. Para os jovens, Gaza não é uma tragédia estrangeira — é parte da mesma arquitetura global de violência, contra a qual resistem coletivamente.

Pesquisas dos centros Gallup e Pew mostram uma marcante fissura geracional no que diz respeito a Israel e Palestina. Americanos mais velhos tendem a cegamente apoiar Israel; eleitores jovens, cada vez mais simpáticos aos palestinos e críticos da política externa de seu próprio país. Essa reviravolta não é acidental — resulta de anos de educação de base, comunicação digital e experiências compartilhadas. Os protestos de Gaza revelaram uma crise profunda no ensino superior americano: tomada corporativa dos campi e erosão das liberdades acadêmicas. Universidades, certa vez bastiões de pensamento crítico, agora operam como marcas aversas a assumir riscos; faculdades são coagidas a autocensura; estudantes, vigiados; gestores, acobertados de escrutínio ético.

Neste clima, a Palestina se tornou prova de fome. Denunciar é arriscar carreira, finanças e reputação. Estudantes e professores, no entanto, insistem em fazê-lo. Publicam artigos, organizam palestras e constroem coalizões que transcendem raça, fé e curso. Retomam suas universidades para si, como espaço para dizer a verdade.

Ao longo de minha carreira, compreendi Gaza não apenas como cenário de devastação, mas mapa em potencial a um futuro diferente. Parâmetros estratégicos — embasados na justiça, na autonomia local e na resiliência de longo prazo — podem oferecer mais do que reabilitação econômica, mas dignidade, reconstrução institucional e um novo horizonte. Para a população empobrecida e traumatizada de Gaza, significa superar a sobrevivência rumo à soberania; abraçar a sustentabilidade, não apenas em infraestrutura, mas ensino, governança e memória coletiva. Gaza não se resume a uma crise humanitária — trata-se de uma fronteira moral, em que os princípios de desenvolvimento estratégico se deparam com a urgência de libertação.

Ativistas da Geração Z estão escrevendo seu próprio capítulo. Documento os protestos, compilam testemunhos e elaboram contranarrativas. Não esperam permissão para falar, erguem suas próprias plataformas para amplificar vozes há muito silenciadas.

Atos nos campi não são apenas sobre Gaza, são a alma da democracia. Perguntam: quem é que pode definir o que é justiça? Quais vidas importa? E qual o papel das instituições na responsabilização global sobre as atrocidades ainda em curso? Questões que não serão respondidas da noite para o dia. Contudo, tratadas com clareza e firmeza; por natureza, uma forma de resistência.

Como educadores, comunicadores e ativistas, devemos escutá-los. Devemos dar apoio aos estudantes não apenas com palavras, mas recursos e proteção. Devemos desafiar as narrativas que normalizam a violência e silenciam a dissidência.

A Geração Z não somente protesta — reimagina um mundo novo e melhor.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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