O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou unanimemente nesta quinta-feira (28) o fim das Forças Interinas das Nações Unidas no Líbano (Unifil), a partir de 2027, em meio a pressão de Estados Unidos e seu aliado Israel.
A resolução renova o mandato por uma última vez, até 31 de dezembro de 2026, quando a missão, com 11 mil soldados, deverá ser retirada de “maneira ordeira e segura”.
A Unifil surgiu em 1978, incumbida de monitorar o recuo israelense do sul do Líbano. Por décadas, a missão operou como tampão entre o exército ocupante de Israel e o Hezbollah libanês, ao registrar violações de ambos os lados ao longo da Linha Azul, fronteira traçada pela ONU.
Seu mandato pós-2006 — quando Israel avançou ao Líbano por 32 dias — atribuiu à missão apoio às Forças Armadas Libanesas, no sul do país.
Demandas pela derrocada da Unifil se intensificaram no contexto do genocídio israelense em Gaza, período no qual Israel deflagrou disparos ao Líbano e uma subsequente invasão por terra. Ideólogos sionistas alegam que a missão falhou em conter o Hezbollah.
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Apesar de um cessar-fogo em novembro, Israel manteve ataques aéreos, com dezenas de mortos e danos à infraestrutura, incluindo bases da Unifil. Desde então, Tel Aviv prorroga a presença ilegal de suas tropas ao longo da suposta zona neutra.
Israel exaltou a decisão. “Para variar, temos boas notícias da ONU”, caçoou o embaixador israelense no fórum, Danny Danon.
Os Estados Unidos exerceram um papel decisivo em enfraquecer a Unifil. Sob a gestão de Donald Trump, Washington cortou fundos, pressionou pelo fim do mandato e apregoou a tese de ineficácia.
Dorothy Shea, embaixadora americana na ONU, em exercício, declarou na terça-feira (26) que esta seria a última extensão do mandato com apoio da Casa Branca, ao preconizar a campanha interna pelo encerramento da missão.
Para oficiais libaneses, no entanto, a movimentação está fadada ao fracasso. Enquanto os Estados Unidos urgem a remoção do Hezbollah da faixa sul, remove o único contingente a apoiar efetivamente, embora com limitações, o exército regular na região.
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A medida coincide com apelos do governo central — sob a presidência do ex-chefe militar Joseph Aoun — por monopólio de armas ao exército, sobretudo ao desarmar o Hezbollah. O grupo rejeita veementemente a iniciativa.
Desde o cessar-fogo, segundo relatos, missões Unifil–Líbano desmantelaram centenas de resquícios do Hezbollah, incluindo túneis e armazéns de armas. O exército, porém, alerta que não pode manter controle sem ajuda, sobretudo com cortes de recursos.
“Os Estados Unidos estão nos pedindo para controlar o sul e expulsar o Hezbollah”, disse um oficial sênior libanês, “mas, ao mesmo tempo, tiram de nós os únicos aliados que nos ajudam a fazer isso”.
Andrea Tenenti, porta-voz, advertiu que a Unifil segue essencial: “O Líbano tem a chance de reaver autoridade do Estado ao sul do Líbano e estamos auxiliando nessa missão. Mas é apenas o começo — leva tempo para construir um exército”.
Analistas temem que a remoção da Unifil incite novas agressões israelenses. Israel ocupa hoje cinco posições no território libanês, em violação da Resolução 1701 da ONU.
Tensões na região permanecem altas, com o genocídio em Gaza — com 63 mil mortos e dois milhões de desabrigados — e falas sionistas sobre o mapa expansionista de “Grande Israel”, a abranger terras da Palestina, Líbano, Síria e mesmo Jordânia.
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