A fotojornalista canadense Valerie Zink pediu demissão da agência Reuters após oito anos de trabalho, ao descrever a editoria sobre Gaza como “traição” à categoria, ao “justificar e avalizar” o assassinato de colegas no enclave palestino.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
“A essa altura, tornou-se impossível para mim manter um relacionamento com a Reuters, dado seu papel em justificar e avalizar o assassinato sistemático de 246 jornalistas em Gaza”, declarou Zink em postagem online nesta terça-feira (26).
Por oito anos, fotos de Zink foram publicadas internacionalmente, por redes de destaque, como New York Times, Al Jazeera e outras.
Zink criticou a cobertura após a morte de Anas al-Sharif, colega da Al Jazeera, ao acusar a Reuters de amplificar a “alegação inteiramente infundada” de Israel de que a vítima seria um agente do Hamas.
Para a fotógrafa, tratou-se de “uma das incontáveis mentiras que redes de imprensa como a Reuters se dignaram a repetir diligentemente”, como forma de “perpetuar a propaganda israelense”, em um contexto de ataques diretos à liberdade de imprensa.
“Valorizo o trabalho que trouxe à agência nestes últimos oito anos, mas, a essa altura, não posso conceber vestir este crachá senão com profundo pesar e vergonha”, acrescentou a repórter, ao compartilhar uma imagem da identificação partida ao meio.
“Não sei como começar a honrar o sacrifício dos jornalistas em Gaza, os melhores e mais corajosos entre nós, mas, daqui em diante, quaisquer contribuições a meu alcance serão feitas com isso em mente”, indicou Zink. “Devo isso a meus colegas na Palestina — isso e muito mais”.
Sobre a morte de jornalistas em Khan Younis nesta segunda-feira (25) — cinco no Hospital Nasser, incluindo Hossam al-Masri, cinegrafista da Reuters —, reafirmou Zink: “Foi o que conhecemos como ataque duplo, em que Israel ataca um alvo civil, como uma escola ou hospital, e espera a chegada de socorristas e jornalistas, para atacar novamente”.
Zink argumentou que a imprensa ocidental é responsável direta para criar as condições a tais eventos, ao citar Jeremy Scahill, que apontou que grandes agências — da Reuters ao New York Times — têm servido como “rede de transmissão da propaganda israelense”, ao sanitizar crimes de guerra, desumanizar as vítimas e abandonar a ética profissional.
Trabalhadores de imprensa são categoria protegida pela lei internacional. No entanto, são cerca de 246 mortos desde outubro de 2023, segundo dados oficiais.
O regime israelense trata comunicação como parte crucial de sua política de propaganda de guerra, em detrimento dos direitos da liberdade de imprensa, assim como dos direitos do público a transparência e informação.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há quase dois anos, com ao menos 62 mil mortos, 155 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob destruição e fome. Dentre as vítimas fatais, dezoito mil são crianças.
Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade em Gaza.
O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.








