clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Senadores dos EUA pressionam Rubio contra ataques de Israel a jornalistas em Gaza

21 de agosto de 2025, às 15h21

Protesto em Nova York contra mortes em Gaza, incluindo jornalistas, em 16 de agosto de 2025 [Selcuk Acar/Agência Anadolu]

Um grupo de 17 senadores dos Estados Unidos emitiu uma carta ao secretário de Estado, Marco Rubio, para condenar e pedir resposta a um ataque israelense na semana passada que matou correspondentes da Al Jazeera em Gaza.

Os senadores instaram a Casa Branca a pressionar Tel Aviv a garantir acesso da imprensa ao enclave palestino, bem como a proteger correspondentes.

A carta, publicada nesta quarta-feira (20), foi introduzida por Brian Schatz, democrata do Havaí, subscrita por figuras como Elizabeth Warren (Massachusetts), Tim Kaine (Virginia) e Bernie Sanders (independente, de Vermont).

Na semana anterior, um bombardeio israelense a uma tenda de refugiados nos arredores do Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, matou ao menos sete jornalistas, entre os quais os repórteres da rede Al Jazeera Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, e seus cinegrafistas Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal.

O ataque, admitido por Israel, sob difamação das vítimas, incitou repúdio internacional,

“Israel não concedeu evidências a sua alegação de que o sr. al-Sharif seria um agente do Hamas”, reiteraram os parlamentares. “Na falta de explicação convincente a seu objetivo militar, parece que Israel admite publicamente alvejar e matar jornalistas que mostraram ao mundo a escala do sofrimento em Gaza, em violação da lei internacional”.

O grupo instou a gestão do presidente republicano Donald Trump a fornecer informações sobre “ciência e análise” do Departamento de Estado sobre o ataque.

Tammy Bruce, porta-voz da pasta, responsável pela política externa americana, insistiu a jornalistas na última semana que a chancelaria discutiu o caso al-Sharif com Israel, mas reforçou a alegação, sem provas, de que poderia ter vínculos com o Hamas.

Al-Sharif, de apenas 28 anos, premiado com um Pulitzer, foi descrito pelo New York Times, em artigo da colunista Lydia Polgreen, como “voz e rosto de um povo desesperado em sua terra, Gaza”.

Em entrevista antes de sua morte, ao Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), al-Sharif anteviu ameaças: “Isso acontece porque minha cobertura dos crimes de Israel em Gaza fere sua imagem no mundo. Acusam-me de ser terrorista porque a ocupação deseja me assassinar também moralmente”.

A rede Al Jazeera denunciou incitação, para além de censura.

Para os senadores, é preciso que Washington “deixe claro a Israel que banir organizações de mídia e ameaçar suas equipes é inaceitável e deve acabar”.

“Instamos os senhores a pressionar o governo israelense a proteger os jornalistas de Gaza e permitir que a imprensa internacional entre no território”, acrescentou a carta.

A cobertura de Gaza se resume, hoje, a jornalistas palestinos — em maioria freelancers — que documentam seu próprio genocídio, à medida que Tel Aviv ainda proíbe a entrada de correspondentes estrangeiros, salvo casos de propaganda de guerra.

A carta notou ainda assassinatos contra a categoria no Líbano, repressão na Cisjordânia, ataques no sul da Síria e assédio jurídico e censura até mesmo de repórteres e redes de mídia israelenses, que porventura questionem a narrativa central.

Neste entremeio, o Washington Post confirmou na noite de quarta-feira a demissão de um oficial de mídia do Gabinete de Assuntos do Oriente Próximo no Departamento de Estado, Shahed Ghoreishi, por sugerir à Casa Branca oferecer condolências pelos colegas mortos em Gaza.

Trabalhadores de imprensa são categoria protegida pela lei internacional. No entanto, são ao menos 238 dentre as 62 mil vítimas fatais do genocídio perpetrado por Israel em Gaza, desde outubro de 2023.

O regime da ocupação trata a comunicação como parte crucial de sua política de guerra, em detrimento dos direitos da liberdade de imprensa, assim como do direito do público a transparência e informação.

Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade em Gaza.

O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.

LEIA: Fundador da WCK recebe críticas por aperto de mãos com presidente israelense