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‘Fome inimaginável’: Médico dos EUA reporta condições em Gaza sitiada

4 de agosto de 2025, às 11h26

Maryam Abdulaziz Mahmoud Davvas, de nove anos, deslocada pelos ataques de Israel, vitimada por desnutrição severa, na Cidade de Gaza, em 31 de julho de 2025 [Ahmed Jihad Ibrahim al-Arini/Agência Anadolu]

O pediatra americano Thomas Cooper, que opera em Gaza desde a última semana, comentou em entrevista à agência de notícias Anadolu que a situação é “inimaginável”, com crianças de cinco anos gravemente impactadas pela fome.

“Vi crianças no pronto-socorro desmaiando por não conseguirem comer”, destacou o dr. Cooper. “Estão famintas — com doenças crônicas, condições cardíacas e problemas neurológicos, sob risco de vida. Isso é absolutamente inaceitável”.

Segundo o médico, alimentos básicos se tornaram inacessíveis, com um quilo de açúcar ou carne ao custo de US$100 devido à escassez. Médicos, incluindo pediatras, também sofrem de fome, com refeições mínimas.

“Se as pessoas dizem que tem comida aqui, por que é que o custo é tão alto e há tão pouca oferta? Isso é absolutamente inaceitável. Definitivamente não é verdade”, ressaltou o pediatra.

Para o dr. Cooper, quem diz que não há fome em Gaza está mentindo: “Vi crianças morrendo de fome, com meus próprios olhos”.

O médico americano instou o enviado da Casa Branca ao Oriente Médio, Steve Witkoff, a visitar seu hospital, para testemunhar a crise em primeira mão.

“Soube que o sr. Witkoff estará aqui perto”, comentou o dr. Cooper, em referência a visita recente do oficial trumpista ao enclave, para fins de relações públicas. “Gostaria de convidá-lo a vir aqui e ver por si só. Conversarei pessoalmente com ele e mostrarei o hospital. Gostaria de dizê-lo que isso é absolutamente inaceitável, em nossa época, e que vi tudo isso com meus próprios olhos”.

O médico ressaltou ainda as consequências diretas da ofensiva militar israelense, ao lembrar um menino palestino de 11 anos paralisado por um disparo, enquanto buscava alimentos.

“A ala de trauma está cheia de baixas”, prosseguiu o relato. “Tenho sangue nos sapatos porque passei por lá. Porque esses meninos de onze, doze anos estão sendo baleados com armas tão poderosas está além da minha compreensão. Isso é bárbaro … Crianças e adolescentes vão buscar comida e são baleados. Estão sendo literalmente caçados. Caçados e mortos!”

“O mundo tem de agir ou mais crianças vão morrer”, acrescentou. “As crianças estão desnutridas, mas também têm sede. Não tem água. Quando tem, é de baixa qualidade. Há casos em massa de difteria, febre e doenças infecciosas — algumas das quais sequer podemos diagnosticar por falta de recursos médicos”.

Desde outubro de 2023, ao menos 163 pessoas, incluindo 93 crianças, morreram de fome na Faixa de Gaza. No total, são ao menos 60 mil palestinos mortos e dois milhões de desabrigados no período.

Para além dos 18 anos de bloqueio israelense, os bombardeios indiscriminados à infraestrutura civil e o fechamento de todas as travessias desde 2 de março exacerbou a crise, descrita como “catástrofe de fome” por agências internacionais.