Será mesmo que o Super-Homem está contra Israel?

Ayah El-Khaldi
4 meses ago

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O novo adaptação aos cinemas do popular herói de quadrinhos Super-Homem — Superman, do diretor James Gunn —, com estreia internacional em 11 de julho, atraiu forte atenção das redes sociais pelo que muitos interpretaram como uma ousada postura “pró-Palestina”. 

Gunn não confirmou publicamente referências, mas seu público online segue descrevendo a obra como uma das histórias de super-herói com maior carga política na memória recente, ao sugerir críticas ao genocídio conduzido por Israel em Gaza e à campanha de repressão do governo dos Estados Unidos de Donald Trump às comunidades imigrantes do país.

A história se passa, em parte, no Estado ficcional de Borávia — poderoso aliado militar de Washington —, à medida que o Super-Homem decide confrontar o regime ao denunciar e reagir a sua invasão ilegal de um território vizinho, confinada por trás de uma fortemente vigiada cerca de fronteira.

O roteiro atingiu um nervo de muitos espectadores que não tardaram em reconhecer paralelos com a ofensiva em curso na Faixa de Gaza.

Uma das postagens da plataforma Reddit que mais circulou nas redes sociais, sob a subcategoria “Israel”, encapsulou a apreensão do público sionista: “Vocês viram o novo Super-Homem? Achei tão desrespeitoso e chocante que um super-herói criado por dois artistas judeus seja usado para promover mensagens contra Israel. Eu não consigo entender como isso foi permitido [pelo estúdio] em um momento em que o antissemitismo está em alta [sic] … Claro que os invasores são representados como brancos e as vítimas são predominantemente de cor [sic]. E claro que se Israel falar alguma coisa do filme, vão dizer que a carapuça serviu”.

Usuários responderam no Twitter (X): “Engraçado que eles imediatamente reconhecem que o filme é sobre o genocídio de Israel em Gaza, sem ninguém falar isso, e ainda assim tem a audácia de se sentirem ofendidos e expressarem sua indignação publicamente. Como podem ter tanta certeza de que aqueles vilões e assassinos são de fato Israel?”

Um usuário comparou uma das cenas do terceiro ato a imagens da Grande Marcha do Retorno, em Gaza, em 2018.

O comentarista Hasan Piker deu seu pitaco, ao indicar que um dos principais antagonistas da história — o ensandecido líder de Borávia — seria “inspirado em David Ben-Gurion”, considerado pai-fundador do regime colonial de Israel. “Muita gente está dizendo que é [o atual primeiro-ministro Benjamin] Netanyahu”, comentou o streamer. “Mas acho que é Ben-Gurion. São duas horas e dez de ‘vai se f*der, Israel’”.

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Para além das aparentes referências a Gaza, muitos espectadores perceberam uma contundente postura pró-imigração, em um momento crítico no qual o regime trumpista conduz prisões e deportações em massa nos Estados Unidos. Fãs tampouco deixaram de notar a conexão entre os eventos da vida real e a interpretação da narrativa sobre as origens do Super-Homem: um “imigrante” de outro planeta criado, com amor e ternura, no profundo Meio Oeste americano. 

A contrapropaganda de Israel

Nem todo mundo ficou feliz. O comentarista de extrema-direita Ben Shapiro prometeu uma crítica negativa, ao postar no Instagram: “Nada bom. Resenha em breve”.

O consulado de Israel na cidade de Los Angeles, berço de Hollywood, pareceu responder ao filme com duas postagens vagas em sua conta do Facebook. Uma delas recorreu à hashtag em inglês “Os verdadeiros super-heróis” — ou #The_Real_Superheroes —, com imagens geradas por inteligência artificial de soldados da ocupação israelense em pose tradicionalmente empregue para retratar a altivez dos personagens de quadrinhos.

Um vídeo simulando um trailer de cinema declarou: “Quando o mal [sic] se ergue em toda sua glória, é que se revelam os verdadeiros super-heróis [sic]”. Outra vez, protagonizado por soldados e colonos israelenses, estes capturados como prisioneiros de guerra pela resistência nacional palestina.

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Um usuário online resumiu: “Israel está tão incomodado com o Super-Homem dizendo que são uns racistas e genocidas que decidiu responder com propaganda”.

Após a estreia, Gunn manifestou seu orgulho em ter feito uma versão do Super-Homem com enfoque no “‘homem’ como parte da equação … uma pessoa gentil que sempre olha para aqueles que mais precisam”.

“Que isso ressoe de forma tão poderosa com tanta gente em todo o mundo é, por si só, uma declaração de esperança na gentileza e na bondade dos seres humanos”, comentou o diretor.

Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 14 de julho de 2024.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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