O tenente-general Eyal Zamir, chefe do Estado-maior do exército de Israel, sugeriu uma trégua duradoura na Faixa de Gaza, ao admitir, pela primeira vez, incapacidade de suas tropas em derrotar o grupo palestino Hamas.
Durante encontro de comandantes na base de Gililot, Zamir deu sua primeira avaliação da “guerra” — denunciada como genocídio na Justiça internacional.
Conforme Zamir, suas tropas requerem uma “pausa operacional” após quase dois anos de combates. Zamir repassou responsabilidade à liderança política, ao argumentar que a campanha frustrou planos de reconstruir e modernizar as forças.
De acordo com o general, a continuidade das ações em Gaza se deu na esfera política, no início de 2025.
Zamir descreveu 2026 como “ano de preparação, reforço e reconstrução da capacidade de combate”, ao alertar que, por dois anos, o exército não conduziu exercícios de larga escala, sobretudo no front norte.
Para o comandante, retornar ao “básico da preparação” é prioridade.
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Segundo análise anual do exército ocupante, a prolongada guerra em Gaza incorreu em resultados de batalha “inconclusivos”. Apesar de ganhos em campo, especialmente em Rafah, o Hamas permanece um fator.
Conforme o relatório, retirar-se do chamado eixo Morag cederia espaço ao Hamas para reaver território, hoje sob controle militarizado de Israel.
Zamir assumiu o comando das forças em março, em meio a um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros, na promessa de implementar um plano multianual para melhorar seus batalhões. A retomada da escalada em Gaza, porém, embargou seu projeto.
Durante o encontro, Zamir advertiu ainda que manter os combates sem uma estratégia clara ou apoio do público é um desafio. Neste sentido, pediu revisão das táticas, assim como reavaliação dos objetivos das forças na Faixa de Gaza.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza, além de cerco, há 650 dias, com 59 mil mortos e dois milhões de desabrigados em catástrofe de fome.
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Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade em Gaza.
Críticos alertam que Netanyahu mantém a campanha em causa própria, na tentativa de procrastinar o colapso de seu governo e eventual prisão por corrupção, nos três casos em curso na Justiça israelense.
O Estado de Israel é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) — também em Haia —, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.
