Ao propor ‘Estado palestino sionista’, premiê do Canadá incita indignação

Middle East Eye
5 meses ago

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Mark Carney, primeiro-ministro do Canadá, alimentou dúvidas e memes após sugerir em uma entrevista, durante a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), no final de junho, que um “Estado palestino sionista”, em coexistência com Israel, seria ideal para solucionar a crise de décadas no Oriente Médio. 

Christiane Amanpour, da rede americana CNN, indagou Carney sobre sua perspectiva sobre a “paz” na região, com enfoque na questão Israel—Palestina. Em resposta, o premiê declarou “trabalhar rumo a um Estado palestino, vivendo lado a lado e em segurança com Israel … um Estado palestino sionista [sic], se assim preferir, que reconheça o direito de Israel de existir [sic], mas não apenas de existir como prosperar. Não podemos ter paz enquanto não irmos em direção a isso”. 

Usuários nas redes sociais e mesmo organizações não-governamentais no Canadá condenaram a declaração de Carney, ao observar implicações de que essencialmente sugeriu que os palestinos adotassem a “política de seu opressor”.

A ong Canadians for Justice and Peace in the Middle East, que descreve sua missão como “permitir que canadenses de todas as origens lutem por justiça, desenvolvimento e paz no Oriente Médio”, caracterizou Carney como “completamente equivocado”.

O Conselho Nacional de Muçulmanos Canadenses (NCCM, da sigla em inglês) também reagiu, ao ressaltar que as declarações de Carney contradizem de maneira franca a política externa de seu próprio país, “que reafirmam o direito de se estabelecer um Estado soberano, independente, viável, democrático e territorialmente contíguo da Palestina”.

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Na rede social X (Twitter), o NCCM lamentou o comentário como “insulto”, ao alertar para uma tentativa do premiê de encobrir seu apoio ao genocídio conduzido por Israel na Faixa de Gaza sitiada, há mais de 650 dias, com ao menos 58 mil mortos, 140 mil feridos e dois milhões de desabrigados.

O fato de que Carney chegou a citar a “solução de dois Estados” em sua entrevista, contudo, se sentiu na necessidade de reivindicar que o lado palestino como “sionista” foi interpretado por muitos online como “enviesado” e “perverso”.

Usuários enfatizaram que Carney demonstrou compromisso com o colonialismo sionista — “como muitos daqueles que o antecederam”.

Em maio, pouco após Carney ser eleito ao governo do Canadá, o país assinou uma declaração conjunta, com Reino Unido e França, com uma linguagem bastante veemente, pouco comum, contra as ações israelenses em Gaza e o sofrimento “intolerável” imposto aos palestinos. Para as nações signatárias, após vinte meses de cerco, o fluxo humanitário abaixo do mínimo, permitido por Israel, seria “absolutamente inadequado”.

Mais ou menos na mesma época, os três países ameaçaram sancionar Israel caso este não cessasse suas operações militares em Gaza e permitisse acesso humanitário. Tais movimentações parecem justificar a indignação de ativistas nas redes sociais sobre a “ignorância” de Carney em seus comentários mais recentes. 

Ainda em maio, quatro canadenses integraram uma delegação juntamente de parceiros europeus, em visita à Cisjordânia ocupada, quando soldados israelenses abriram fogo contra eles. O governo canadense exigiu investigação e esclarecimentos imediatos, ao rechaçar a ação como “absolutamente inaceitável”. Israel, por sua vez, contentou-se em “lamentar a inconveniência”.

O Canadá, porém, não agiu contra Israel, seja ao romper relações comerciais e outras, muito menos em termos de sanções, muito embora numerosas organizações e partidos locais e internacionais tenham insistido a Carney — assim como a incontáveis lideranças — na urgência de fazê-lo.

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Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 26 de junho de 2024.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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