A primeira mensagem pública do grupo lançado quinta-feira em Bogotá foi: Organizem-se! O genocídio israelense em curso contra palestinos demonstra que os mecanismos internacionais atuais estão falhando com a humanidade e o Direito Internacional precisa ser aplicado incondicionalmente.
Em uma coletiva de imprensa realizada via zoom para inscritos em todo mundo, com interpretes em árabe, inglês, francês, português e espanhol para participantes, e transmissão ao vivo em espanhol pela ALBA Movimientos em seu canal do YouTube @ALBAMovimientos, representantes de importantes organizações internacionais anunciaram o lançamento do Grupo de Amigos de Haia (FOTHG).
A iniciativa abrange movimentos sociais e entidades da sociedade civil que apoiam e acompanham o Grupo de Haia (THG), que reúne governos de países que se somaram à Africa do Sul no processo contra Israel e que realizou uma reunião ministerial de emergência sobre a Palestina no Ministério das Relações Exteriores colombiano, nos dias 15 e 16 de julho, em Bogotá.
Esse grupo de Estados com ação no TIJ foi estabelecido em janeiro deste ano em Haia, Holanda, reunindo naquele momento Bolívia, Colômbia, Cuba, Honduras, Malásia, Namíbia, Senegal e África do Sul, para trabalharem em colaboração, pressionando pelo cumprimento do Direito Internacional, dada a incapacidade da comunidade internacional até agora de colocá-lo em prática contra os crimes de guerra e genocidio israelense.
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Brasil pode fazer a diferença
A adesão do Brasil ao processo da África do Sul, de acordo com as organizações fundadoras dos Amigos do Grupo de Haia, pode influenciar outros países da América Latina e possivelmente levar a posições e medidas mais contundentes no interior do BRICS contra Israel. Em entrevista à rede Al Jazeera durante o encontro do BRICS ocorrido no início do mês no Rio de Janeiro, o embaixador brasileiro Mauro Vieira disse que o governo Lula poderá tornar-se parceiro da África do Sul no tribunal internacional, e o fato repercutiu internacionalmente. Mas a quase promessa ainda não foi cumprida. Na sequência da reunião do BRICS, que adotou posições independentes dos EUA, quer sobre a Palestina, quer sobre o uso de moedas nacionais alternativas ao uso do dólar, o Brasil tornou-se alvo de ataques pesados do governo TRUMP, com ameaças também aos demais países do bloco. A agressão diplomática obrigou o Brasil a concentrar-se em sua própria crise diplomática, negociações econômicas, defesa da soberania nacional, proteção às suas instituições democráticas e defesa do BRICS. Os Amigos do Grupo de Haia esperam que o Brasil não recue em seu compromisso contra o genocídio.
O primeiro manifesto dos movimentos reunidos em Bogotá acusa os os Estados Unidos, União Europeia e OTAN pela cumplicidade ativa no genocídio de Israel contra a Palestina e os ataques ao Líbano, Iêmen, Síria e Irã, e pede mais esforços internacionais para pôr fim ao reinado de terror desenfreado de Israel.
Entre os compromissos anunciados na coletiva estão o de mobilizar o firme apoio dos movimentos sociais à atuação do Grupo de Haia no TIJ , sensibilizar mais governos para adesão ao processo da África do Sul, pesquisar, organizar e orientar ações, apoiar os Estados membros no cumprimento das medidas com as quais se comprometeram e ajudar a coordenar campanhas no mundo todo.
O apoio à Gaza e ao cumprimento do Direito Internacional contra a agressão aos palestinos é também a defesa de um modelo de multilateralismo que liberte a comunidade internacional do controle dos Estados Unidos. O atual sistema de segurança global vem sendo atacado e ameaçado com as medidas unilaterais do governo Trump, mas sempre serviu preferencialmente aos Estados Unidos e seus aliados. As regras da ONU, ao serem sujeitas a bloqueios isolados, permite o desrespeito à Justiça Internacional, o envio de armas para alimentar os crimes de guerra e de genocídio do povo palestino e controle do Conselho de Segurança pelos EUA.
Participam do esforço para ações coordenadas a Rede de ONGs Palestinas (PNGO), a Comissão de Crimes de Guerra, Justiça, Reparações e Retorno da Assembleia Palestina para a Libertação (PAL), a Al Haq e o Instituto Palestino para a Diplomacia Pública (PIPD), além da campanha BDS. As principais organizações internacionais que aderiram ao FOTHG até o momento incluem os Movimentos ALBA, a Aliança Negra pela Paz, o CETIM, a FIAN Internacional, a Amigos da Terra Internacional, a Associação Internacional de Advogados Democráticos, a Coalizão Internacional para o Fim do Genocídio na Palestina (ICSGP), a Solidariedade Global pela Paz na Palestina, a Irmandade Internacional da Reconciliação, a Via Campesina, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), o Instituto Transnacional, o Mundo Além da Guerra, o Fórum Mundial dos Pescadores e a Assembleia de Lutas e Resistência do Fórum Social Mundial (Assembleia Social Mundial).
Só a PNGO reúne 150 organizações e movimentos representativos e atuantes na Palestina. Com ela está presente de forma ativa o movimento global BDS, de Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel, pelo fim da ocupação da Palestina. Na América Latina,a plataforma Alba é formada por mais de 400 organizações dos seus vários países. A Via Campesina tem 180 organizações locais e nacionais em 81 países e representa cerca de 200 milhões de pequenos produtores. A Aliança Negra pela Paz atua internacionalmente contra a guerra, a militarização e e o imperialismo, que busca resgatar e reconstruir a histórica de luta do movimento negro radical. A Assembleia Social Mundial de Lutas e Resistências do Fórum Social Mundial atua de forma autônoma no processo FSM para adotar e dar visibilidade a posições e chamados coletivos debatidos e aprovados em seu interior.
Com essa legitimidade, a nova articulação internacional busca uma campanha mundial potente e coordenada, envolvendo Estados e sociedade, para levar à responsabilização e condenação de Israel e do sionismo pelos crimes de ocupação, apartheid e genocídio, sua retirada total das terras palestinas, reparação e reconstrução da Palestina, fortalecimento da luta anti-imperialista e anti-colonial e respeito ao Direito Internacional.
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