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Nasce a rede Amigos do Grupo de Haia por adesões ao processo contra Israel no TIJ por genocídio

19 de julho de 2025, às 16h37

Protestos em Haia pedem responsabilização de Israel desde o início do processo aberto pela Africa do Sul pedindo investigação dos crimes de genocídio.  [Fadel Dawod/Agência Anadolu]

A primeira mensagem pública do grupo lançado quinta-feira em Bogotá foi: Organizem-se! O genocídio israelense em curso contra palestinos demonstra que os mecanismos internacionais atuais estão falhando com a humanidade e o Direito Internacional precisa ser aplicado incondicionalmente.

Em uma coletiva de imprensa realizada via zoom para inscritos em todo mundo, com interpretes em árabe, inglês, francês, português e espanhol para participantes, e transmissão ao vivo em espanhol pela ALBA Movimientos em seu canal do YouTube @ALBAMovimientos, representantes de importantes organizações internacionais anunciaram o lançamento do Grupo de Amigos de Haia (FOTHG). 

A iniciativa abrange movimentos sociais e entidades da sociedade civil que apoiam e acompanham o Grupo de Haia (THG), que reúne governos de países que se somaram à Africa do Sul no processo contra Israel e que realizou uma reunião ministerial de emergência sobre a Palestina no Ministério das Relações Exteriores colombiano, nos dias 15 e 16 de julho, em Bogotá. 

Esse grupo de Estados com ação no TIJ foi estabelecido em janeiro deste ano em Haia, Holanda, reunindo naquele momento Bolívia,  Colômbia, Cuba, Honduras, Malásia, Namíbia, Senegal e África do Sul, para trabalharem em colaboração, pressionando pelo cumprimento do Direito Internacional, dada a incapacidade da comunidade internacional até agora de colocá-lo em prática contra os crimes de guerra e genocidio israelense.

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Brasil pode fazer a diferença

A adesão do Brasil ao processo da África do Sul, de acordo com as organizações fundadoras dos Amigos do Grupo de Haia, pode influenciar outros países da América Latina e possivelmente levar a posições e medidas mais contundentes no interior do BRICS contra Israel. Em entrevista à rede Al Jazeera durante o encontro do BRICS ocorrido no início do mês no Rio de Janeiro, o embaixador brasileiro Mauro Vieira disse que o governo Lula poderá tornar-se parceiro da África do Sul no tribunal internacional, e o fato repercutiu internacionalmente. Mas a quase promessa ainda não foi cumprida. Na sequência da reunião do BRICS, que adotou posições independentes dos EUA, quer sobre a Palestina, quer sobre o uso de moedas nacionais alternativas ao uso do dólar, o Brasil tornou-se alvo de ataques pesados do governo TRUMP, com ameaças também aos demais países do bloco. A agressão diplomática obrigou o Brasil a concentrar-se em sua própria crise diplomática, negociações econômicas, defesa da soberania nacional, proteção às suas instituições democráticas e defesa do BRICS. Os Amigos do Grupo de Haia esperam que o Brasil não recue em seu compromisso contra o genocídio.

O primeiro manifesto dos movimentos reunidos em Bogotá acusa os os Estados Unidos, União Europeia e  OTAN pela cumplicidade ativa no genocídio de Israel contra a Palestina e os ataques ao Líbano, Iêmen, Síria e Irã, e pede mais esforços internacionais para pôr fim ao reinado de terror desenfreado de Israel. 

Entre os compromissos anunciados na coletiva estão o de mobilizar o firme apoio dos movimentos sociais à atuação do Grupo de Haia no TIJ , sensibilizar mais governos para adesão ao processo da África do Sul, pesquisar, organizar e orientar ações, apoiar os Estados membros no cumprimento das medidas com as quais se comprometeram e ajudar a coordenar campanhas no mundo todo. 

O apoio à Gaza e ao cumprimento do Direito Internacional contra a agressão aos palestinos é também a defesa de um modelo de multilateralismo que liberte a comunidade internacional do controle dos Estados Unidos. O atual sistema de segurança global vem sendo atacado e ameaçado com as medidas unilaterais do governo Trump, mas sempre serviu preferencialmente aos Estados Unidos e seus aliados. As regras da ONU, ao serem sujeitas a bloqueios isolados,  permite o desrespeito à Justiça Internacional, o envio de armas para alimentar os crimes de guerra e de genocídio do povo palestino e controle do Conselho de Segurança pelos EUA. 

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Participam do esforço para ações coordenadas a Rede de ONGs Palestinas (PNGO), a Comissão de Crimes de Guerra, Justiça, Reparações e Retorno da Assembleia Palestina para a Libertação (PAL), a Al Haq e o Instituto Palestino para a Diplomacia Pública (PIPD), além da campanha BDS. As principais organizações internacionais que aderiram ao FOTHG até o momento incluem os Movimentos ALBA, a Aliança Negra pela Paz, o CETIM, a FIAN Internacional, a Amigos da Terra Internacional, a Associação Internacional de Advogados Democráticos, a Coalizão Internacional para o Fim do Genocídio na Palestina (ICSGP), a Solidariedade Global pela Paz na Palestina, a Irmandade Internacional da Reconciliação, a Via Campesina, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), o Instituto Transnacional, o Mundo Além da Guerra, o Fórum Mundial dos Pescadores e a Assembleia de Lutas e Resistência do Fórum Social Mundial (Assembleia Social Mundial).

Só a PNGO reúne 150 organizações e movimentos representativos e atuantes na Palestina. Com ela está presente de forma ativa o movimento global BDS, de Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel, pelo fim da ocupação da Palestina. Na América Latina,a plataforma Alba é formada por mais de 400 organizações dos seus vários países. A Via Campesina tem 180 organizações locais e nacionais em 81 países e representa cerca de 200 milhões de pequenos produtores.  A Aliança Negra pela Paz atua internacionalmente contra a guerra, a militarização e e o imperialismo, que busca resgatar e reconstruir a histórica de luta do movimento negro radical. A Assembleia Social Mundial de Lutas e Resistências do Fórum Social Mundial atua de forma autônoma no processo FSM para adotar e dar visibilidade a posições e chamados coletivos debatidos e aprovados em seu interior.

Com essa legitimidade, a nova articulação internacional busca uma campanha mundial potente e coordenada, envolvendo Estados e sociedade, para levar à responsabilização e condenação de Israel e do sionismo pelos crimes de ocupação, apartheid e genocídio, sua retirada total das terras palestinas, reparação e reconstrução da Palestina, fortalecimento da luta anti-imperialista e anti-colonial  e respeito ao Direito Internacional.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.