A campanha militar de Israel contra a Faixa de Gaza sitiada não poupou locais de culto, com ao menos três igrejas cristãs atingidas direta e deliberadamente desde o início do genocídio em outubro de 2023 — dentre as quais, mais recentemente, uma paróquia católica.
Nesta quinta-feira (17), aviões de guerra israelenses bombardearam a Igreja da Sagrada Família, no bairro de al-Zeitoun, na Cidade de Gaza, com mortos e feridos, incluindo o padre local Gabriel Romanelli, transferido ao Hospital Baptista al-Ahli com um trauma em sua perna.
Em comunicado, o Patriarcado Latino de Jerusalém confirmou o incidente, ao ressaltar danos graves à estrutura do templo.
O exército ocupante alegou avaliar as circunstâncias do ataque, ao insistir — a despeito do padrão de ataques indiscriminados — empregar “todo o esforço para mitigar danos a civis e infraestrutura civil, incluindo locais religiosos”.
A Igreja da Sagrada Família, único santuário católico de Gaza, abrigava famílias cristãs e muçulmanas, deslocadas à força pela agressão israelense. Visto como centro espiritual e cultural da comunidade cristã de Gaza, a igreja concedia refúgio a vulneráveis, dentre os quais idosos e deficientes.
O ataque de quinta marcou o mais recente de um a série de ataques à cristandade em Gaza. Duas outras igrejas foram alvejadas pela campanha israelense.
Igreja de São Porfírio
Situada em al-Zeitoun, na Cidade de Gaza, a Igreja de São Porfírio é a mais antiga igreja do enclave e a terceira mais antiga do mundo, datada do século V.
Em 10 de outubro de 2023 — três dias após eclodir a ofensiva — bombardeios de Israel causaram grave dano ao complexo eclesiástico. Nove dias depois, um segundo ataque atingiu a igreja, destruindo parte da estrutura, além de mortos e feridos.
Batizada em homenagem ao bispo Porfírio de Gaza, do século V, a igreja histórica é lar também de seu sepulcro.
Igreja Baptista de Gaza
A Igreja Baptista, filiada à Igreja Anglicana Episcopal de Jerusalém, foi fundada em 1882 e serve cerca de 200 fiéis. Seu complexo abrange diversos andares dedicados a preces, ensino e cuidados médicos.
Em 17 de outubro de 2023 — dez dias guerra adentro —, aviões de guerra israelenses atingiram o pátio do Hospital Baptista al-Ahli, parte do complexo da igreja. O Ministério da Saúde de Gaza reportou 500 mortos, em meio a cenas de sangue e caos.
Na tentativa de negar seu crime, Israel disseminou uma campanha de desinformação e propaganda de guerra sobre o disparo, ao acusar um míssil da resistência pelos danos. A alegação, porém, foi desmentida por peritos, que apontaram ao grau de devastação.
O atentado ao Hospital e à Igreja Baptistas al-Ahli incitou indignação internacional.
Grupos de direitos humanos e observadores legais têm advertido, desde então, que os reiterados ataques a lugares de culto violam direitos fundamentais consagrados na lei humanitária internacional, incluindo liberdade religiosa e proteção dos santuários.
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As Convenções de Genebra proíbem expressamente quaisquer ataques a infraestrutura civil, dentre as quais casas de culto, salvo utilizadas de modo flagrante para propósitos militares — alegação da qual Israel abusa, sem provas, ao longo de sua campanha.
Para além das igrejas, o exército israelense destruiu e danificou dezenas de mesquitas em Gaza, como corroborado pela organização não-governamental Monitor de Direitos Humanos Euromediterrâneo.
Israel ignora apelos por cessar-fogo, ao manter sua campanha indiscriminada contra os palestinos de Gaza, há 650 dias, com mais de 58.800 mortos e dois milhões de pessoas desabrigadas sob catástrofe de fome.
As vítimas são, em maioria, mulheres e crianças.
Em novembro último, o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, deferiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade conduzidos em Gaza.
O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.
