Em um mundo fragmentado por conflitos e silenciado pelo medo, a Palestina tornou-se um espelho de nossas prioridades morais. E na semana passada, em Kuala Lumpur, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) demonstrou que, embora esteja disposta a falar, ainda não consegue dizer o que o momento exige.
De 9 a 11 de julho, a ASEAN sediou seus eventos diplomáticos anuais mais importantes: a 58ª Reunião de Ministros das Relações Exteriores da ASEAN (AMM), o Fórum Regional da ASEAN (ARF) e a 15ª Reunião de Ministros das Relações Exteriores da Cúpula do Leste Asiático (EAS). Estes não são encontros simbólicos — são as principais plataformas da ASEAN para moldar a agenda política e de segurança da região, engajar potências mundiais e abordar questões globais urgentes. Uma dessas questões, inevitavelmente, era a Palestina.
O Comunicado Conjunto da AMM reconheceu o agravamento da situação em Gaza. Expressou “grave preocupação”, pediu “máxima contenção”, reafirmou o apoio à ajuda humanitária e invocou a solução de dois Estados, de longa data. Também observou — embora não tenha endossado — o parecer consultivo de julho de 2024 da Corte Internacional de Justiça, que considerou a ocupação de território palestino por Israel ilegal segundo o direito internacional.
Essa linguagem não é desprovida de significado. Ela reflete o difícil equilíbrio que a ASEAN precisa alcançar entre os Estados-membros com diferentes prioridades de política externa. Alguns, como Malásia e Indonésia, há muito defendem a causa palestina. Outros, incluindo Singapura, Vietnã e Tailândia, mantêm laços comerciais ou de defesa com Israel. A ASEAN opera por consenso — qualquer país pode moldar ou suavizar a mensagem final.
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Mas essa mesma estrutura também limita a voz da ASEAN quando a clareza moral é mais necessária. Em nenhum lugar do Comunicado Conjunto Israel é mencionado como potência ocupante. A palavra “genocídio” nunca é mencionada. E, embora a ASEAN acolha os esforços internacionais pela paz, evita confrontar a questão central: Quem detém o poder? Quem é o responsável?
Dois dias após a divulgação do comunicado, o Ministro das Relações Exteriores da Malásia, Mohamad Hasan — falando em nome da ASEAN na Cúpula do Leste Asiático — ofereceu uma mensagem mais direta: “Oitenta anos de impunidade encorajaram Israel a ponto de cometer abertamente genocídio”, disse ele. “Isso não deve continuar.”
Suas palavras foram corajosas, inabaláveis e enraizadas no discurso jurídico internacional. Mas elas não foram refletidas nas Declarações oficiais do Presidente emitidas após as reuniões do EAS e do ARF. Em vez disso, esses documentos repetiram grande parte da linguagem cautelosa do Comunicado Conjunto: apelos por paz, apoio à assistência humanitária e amplos apelos ao direito internacional. As verdades mais contundentes foram deixadas implícitas ou completamente omitidas.
A ASEAN merece reconhecimento por manter a Palestina na agenda e por sustentar uma voz regional unificada em um mundo cada vez mais polarizado. Mas mais é possível — e mais é necessário.
Não se trata apenas de uma questão de estilo diplomático. Os riscos são muito altos. Desde outubro de 2023, mais de 50.000 palestinos — a maioria civis — foram mortos em Gaza, segundo estimativas da ONU. O Tribunal Penal Internacional emitiu mandados de prisão para líderes israelenses. A CIJ considerou a ocupação ilegal. Importantes organizações de direitos humanos acusaram Israel de apartheid. E a catástrofe humanitária continua a se agravar.
Nesse contexto, as palavras importam. Declarações da ASEAN — lar de mais de 650 milhões de pessoas — moldam percepções regionais e globais. Elas enviam sinais a outras potências. Elas conferem legitimidade às normas jurídicas. Quando a ASEAN opta pela cautela em vez da clareza, isso não reflete apenas o consenso interno. Corre o risco de reforçar um padrão internacional mais amplo de evasão.
Para ser justo, a ASEAN nunca foi concebida para atuar como um bloco político ao estilo ocidental. Fundada em 1967, ela se baseia em princípios de não interferência, respeito mútuo e construção de consenso. Sua força reside na capacidade de superar profundas diferenças políticas e levar adversários ao diálogo. O FRA, lançado em 1994, foi explicitamente concebido para promover a construção de confiança e a diplomacia preventiva na região da Ásia-Pacífico.Potências do EAS como EUA, China, Índia e Rússia.
Mas essas forças não precisam ser em detrimento da coragem moral. A voz unificada da ASEAN não precisa ser silenciada.
Mesmo as declarações mais cuidadosamente formuladas têm peso. O apoio da ASEAN ao acesso humanitário, ao trabalho da UNRWA e aos mecanismos legais internacionais demonstra que o bloco está atento — e que compreende a gravidade da crise. Mas também sabe, como o Ministro das Relações Exteriores da Malásia deixou claro, que a escala da violência exige mais do que preocupação. Exige responsabilidade.
Reafirmar a solução de dois Estados é um erro diplomático, mas corre o risco de soar desconectado da realidade. Essa visão, antes amplamente aceita, agora está minada pela contínua expansão dos assentamentos, anexação e fragmentação das terras palestinas. Que futuro essa promessa oferece se uma parte detém quase todo o poder e a outra está soterrada sob os escombros?
O que é necessário agora não é que a ASEAN abandone seus princípios — mas que os aplique com maior urgência. O bloco demonstrou que pode ser consistente, cooperativo e construtivo. Mas a consistência não substitui a clareza. A cooperação não substitui a responsabilização.
O povo de Gaza não espera que a ASEAN resolva o conflito. Mas eles — e o mundo — têm todos os motivos para esperar que ela denuncie a injustiça quando ela ocorrer e apoie o direito internacional não apenas em espírito, mas em substância.
A ASEAN tomou medidas importantes. Agora, precisa tomar medidas mais ousadas. Porque em momentos como este, uma diplomacia silenciosa pode facilmente soar como uma permissão silenciosa. E a história se lembrará de quem falou claramente — e de quem escolheu sussurrar.
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