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Em Washington, Netanyahu descarta acordo em Gaza a famílias dos reféns

11 de julho de 2025, às 11h42

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante visita oficial a Washington DC, em 9 de julho de 2025 [Celal Günes/Agência Anadolu]Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante visita oficial a Washington DC, em 9 de julho de 2025 [Celal Günes/Agência Anadolu]

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descartou nesta quinta-feira (10) a possibilidade de um acordo abrangente com as facções palestinas de Gaza, incluindo a soltura dos prisioneiros de guerra israelenses no enclave, na conjuntura atual.

Seus comentários se deram durante encontro com familiares dos reféns, no último dia de sua visita a Washington, informou o jornal em hebraico Yedioth Ahronoth, conforme reportagem da agência de notícias Anadolu.

Netanyahu, no entanto, tentou persuadir os familiares a um “acordo parcial”, ao insistir compartilhar um plano com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Somente dois acordos parciais de cessar-fogo foram firmados entre Israel e Hamas nos 20 meses de genocídio: o primeiro, em novembro de 2023, e então em janeiro de 2025 — ambos com troca de prisioneiros.

Netanyahu, porém, rescindiu unilateralmente o último acordo e retomou seus ataques a Gaza, incluindo cerco, em 18 de março. Críticos notam motivos pessoais, ao prorrogar a guerra para evitar sua prisão ou colapso de seu governo.

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Negociações indiretas seguem em Doha, mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos, à medida que o Hamas promete flexibilidade.

Conforme o Yedioth Ahronoth, a mais recente proposta prevê 60 dias de cessar-fogo e dez israelenses libertados, em duas fases: oito no primeiro dia; dois no 50º dia. O plano cita Trump como avalista, para encerrar a guerra posteriormente.

Para o movimento Hamas, todavia, “as declarações do criminoso de guerra Netanyahu, nas quais afirmou às famílias dos prisioneiros que um acordo abrangente é impossível, confirmam suas intenções maliciosas em impor obstáculos às negociações, que podem levar a soltura dos presos e cessação da agressão em Gaza”.

O Hamas indicou ter “proposto previamente um acordo amplo, no qual todos os presos seriam liberados de uma só vez, em troca de cessar-fogo permanente, total retirada do exército ocupante e fluxo assistencial”. Netanyahu, contudo, “rejeitou a oferta”.

A rádio militar Kan apontou divergências fundamentais entre as partes, com ênfase no mapa de recuo israelense de Gaza.

Familiares dos cativos continuam a reivindicar um acordo pleno, tanto para prisioneiros vivos quanto mortos pelos ataques indiscriminados de Israel.

Israel estima 50 colonos ainda em Gaza, vinte dos quais vivos. Em contrapartida, cerca de 10.800 palestinos seguem nas cadeias da ocupação, sob tortura, fome e negligência médica, a maioria sem julgamento ou sequer acusação — reféns, por definição.

Após o encontro na Casa Branca, na noite de quarta-feira (9), os familiares dos cativos agradeceram Trump, mas descreveram a negativa de Netanyahu como “grave fracasso político e moral”, à medida que o premiê deixava a Casa Branca.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro de 2023, como retaliação e punição coletiva por uma ação transfronteiriça do Hamas, que capturou colonos e soldados. Ao menos 57 mil palestinos foram mortos desde então.

Netanyahu é foragido por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza em 120 países, sob mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, deferido em novembro passado.

O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TJI), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.

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