clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Indignação: Em vídeo, mercenários dos EUA celebram ao atirar em palestinos

Clipe publicado pela Associated Press mostra agentes privados americanos, incumbidos de guardar postos assistenciais, disparando munição real contra civis famintos

9 de julho de 2025, às 06h00

Palestinos caminham a posto assistencial no Corredor Netzarim, na esperança de encontrarem alimentos a suas famílias, sob a sombra da destruição israelense em Gaza, em 28 de junho de 2025 [Dawoud Abo Alkas/Agência Anadolu]

Uma nova reportagem da rede Associated Press (AP) detalhou como agentes privados dos Estados Unidos, incumbidos de guardar postos de distribuição assistencial, usaram e continuam a usar munição real, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra as famílias famintas de Gaza. As revelações levaram a indignação online.

Publicado em 2 de julho, o artigo é baseado em testemunhos de dois agentes privados americanos, vídeos, mensagens internas e análise forense de áudios. Os delatores, em ambos os casos, afirmaram decidir falar com a imprensa pelo que caracterizaram como “práticas irresponsáveis e perigosas”, empregues diariamente nos locais administrados pela chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, do inglês), controverso mecanismo israelo-americano imposto ao enclave sitiado. 

A reação à reportagem nas redes sociais foi quase imediata, com centenas de pessoas condenando as empreiteiras militares a serviço nos centros de distribuição.

“Mercenários, criminosos dos EUA”, reiterou um usuário. “A GHF e sua gangue são uma máquina de assassinato em vestes humanitárias”. Outro descreveu as operações como “farsa”, mascarando uma “agenda cruel”.

Algumas pessoas mencionaram a descrição do áudio de um dos vídeos reportada pela agência: “A certa altura, disparos de arma de fomo eclodem nos arredores — ao menos 15 disparos. ‘Whoo! Whoo!’, grita um dos agentes. ‘Acho que acertei um’, afirma outro [em inglês]. Então, um berro: ‘Hell, yeah, boy!’”

LEIA: Fundação Humanitária de Gaza oferece ‘nada mais que fome e fogo’, alerta UNRWA

O clipe não mostra os disparos tampouco sua direção; contudo, o agente anônimo que conversou com a AP confirmou que seus colegas atiravam contra palestinos à espera de ajuda humanitária em um posto designado — e que viu ao menos um homem, naquela direção, cair no chão.

Alguns usuários creditaram a reportagem da agência; outros, no entanto, expressaram frustração pela demora. “Pois é, obrigado, Associated Press. Cinco semanas e mais de 600 mortos depois, vocês nos trazem uma notícia urgente”, nota uma postagem. Outra reitera: “Os palestinos vêm dizendo o que está acontecendo há semanas … Quem sabe é hora de começar a acreditar nas vítimas desse genocídio [em Gaza] em vez daqueles que o estão cometendo”.

‘Quando vão fazer alguma coisa?’

A rede britânica Middle East Eye tem reportado disparos diretos de forças israelenses a requerentes de ajuda em Gaza sitiada desde o fim de maio, quando foram lançadas as operações da GHF. Ao menos 600 palestinos foram mortos até então, além de milhares de feridos.

Testemunhas descrevem os incidentes como “emboscadas” do exército israelense.

Soldados da ocupação admitiram atirar deliberadamente contra palestinos desarmados nos postos de distribuição de alimentos, sob ordens diretas de seus superiores, relatou na última semana o jornal israelense Haaretz.

LEIA: Ajuda humanitária e violência colonial

Um agente terceirizado da GHF negou à AP qualquer ferimento grave nas áreas de suas operações. Contudo, registros online, desmentem as negativas da GHF e seus parceiros, ao compilarem testemunhos em campo dos palestinos.

Um vídeo e uma fotografia publicados na cobertura da Associated Press registram que ao menos uma mulher foi atingida na cabeça por uma bomba de efeito moral, lançada pelos agentes da GHF, além de um homem em evidente choque após ataques copiosos de gás lacrimogêneo.

Usuários nas redes sociais soaram alarme sobre a falta de supervisão e qualificação dos agentes contratados que operam nos postos assistenciais.

“Terceirizados desqualificados, de última hora, armas não-testadas, pouco ou nenhum monitoramento, nenhuma regra de engajamento”, detalhou um usuário. “É isso que se faz quando não se valoriza as vidas com as quais está lidando”.

Outros pediram ações das classes políticas.

Um usuário reivindicou de líderes do Reino Unido, Canadá e França a reagirem, enfim, aos “crimes de guerra” cometidos por Israel em Gaza, ao observar que “nos últimos 20 meses fomos absolutamente inundados por exemplos e mais exemplos deles”.

“Quando vocês vão agir como líderes e fazer alguma coisa?”, questionou um usuário.

Apelos pelo fechamento da GHF também viralizaram nas redes sociais: “A GHF não tem QUALQUER credibilidade. Nega disparar contra civis uma e outra vez — mas isso já está provado! A GHF MENTE”.

“É preciso fechá-la de uma vez e colocar em seu lugar práticas humanitárias sinceras e adequadas”, concluiu.

LEIA: Propaganda de Israel sai pela culatra e reforça privação humanitária em Gaza

Artigo publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye em 3 de julho de 2025

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.