O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ordenou suspensão completa dos envios humanitários a Gaza, sobretudo ao norte, após o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, ameaçar deixar o governo.
Para justificar a suspensão, Tel Aviv voltou a alegar — sem quaisquer evidências — que combatentes do Hamas estariam saqueando as remessas.
Smotrich deu seu ultimato durante reunião do gabinete de governo, ao citar um vídeo não-verificado, que circulou nas redes sociais, de homens supostamente armados nas boleias dos caminhões.
Apesar do uso político das imagens, nem mesmo o exército israelense pode corroborar a veracidade ou contemporaneidade dos registros, ou que os homens teriam qualquer filiação com o Hamas.
O jornal israelense Haaretz indicou recentemente que os homens armados não seriam agentes da resistência, mas guardas improvisados por lideranças tribais justamente no intuito de proteger os comboios.
Em favor de sua avaliação, ao desmentir as alegações de Tel Aviv, o Haaretz corroborou que as remessas no vídeo chegaram a seu destino — armazéns e postos de distribuição das Nações Unidas.
Ainda assim, Netanyahu e seu ministro da Defesa, Israel Katz, solicitaram um “plano de ação” do exército dentro de 48 horas para impedir suposto controle do Hamas da ajuda humanitária destinada ao norte do território sitiado.
Israel recorre à desinformação sobre o Hamas para ignorar mecanismos de distribuição das Nações Unidas e impor, junto a Washington, seu próprio sistema de extermínio de requerentes de ajuda, conhecido como Fundação Humanitária de Gaza (GHF).
Segundo dados oficiais, mais de 500 palestinos foram mortos no último mês por forças ocupantes que dispararam a multidões carentes nos corredores estreitos de entrega de insumos, estabelecidos pela Fundação Humanitária de Gaza.
Na quarta-feira (26), setenta e quatro palestinos foram mortos por Israel — trinta e três deles à espera de alimento. As baixas se somam à mortalidade do genocídio em Gaza, desde outubro de 2023, que excedem ao menos 56 mil pessoas.
Observadores destacam que a piora da crise não se deve ao Hamas, mas a milicianos e mercenários pagos e armados por Israel.
Uma fonte securitária israelense, citada pelo jornal Yedioth Ahronoth, advertiu, porém, para o fracasso do plano. Um dos grupos anti-Hamas, de Yasser Abu Shabab, ativo em Rafah, não atingiu as expectativas de Tel Aviv para controle regional.
Agências humanitárias notam iminente catástrofe de fome entre a população. Apenas em junho, mil e seiscentas crianças foram internadas com desnutrição severa.
Analistas apontam que Netanyahu recorre a crises regionais — incluindo ataques não-provocados ao Irã e procrastinação do genocídio em Gaza — por motivos pessoas, para evitar sua condenação por corrupção e colapso de seu governo.
O premiê é foragido em 120 países sob mandado deferido em novembro pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza.
O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.